As Catacumbas

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Centenas de anos atrás, onde a cidade de Trost agora se encontrava, havia apenas uma única montanha rodeada de dunas de areia dourada se estendendo por quilômetros. Mas não que a região fosse inabitada. Muito antes dos gigantes obeliscos, muralhas e os telhados abobadados e cintilantes da Masjid e do Palácio serem construídos, Trost - ou o nome que tinha na época - fora muito mais... Subterrânea.

O pai de Eren foi um estudioso. Tinha uma mente afiada com sede de conhecimento de qualquer tipo, e ele sempre parecia saber pelo menos um pouco sobre tudo. Contara a Eren tudo sobre os habitantes das dunas daquele tempo, teorizava que eles provavelmente eram ex-nômades que finalmente se estabeleceram no pedaço de terra convenientemente à beira-mar com solos ricos em minerais e sem vizinhos agressivos por quilômetros. Cabanas provavelmente foram suficientes como solução temporária, mas quando a população cresceu e se tornou cada vez mais evidente que o estabelecimento seria algo permanente, outras soluções precisaram ser consideradas e, para escaparem do sol ardente e tempestades de areia violentas, os primeiros colonizadores se enterraram fundo e então O Submundo foi criado.

O Submundo era uma cidade própria; uma expansão urbana completamente subterrânea que se espalhava por quilômetros e facilmente serviu de lar para centenas de milhares em seu auge. Entretanto, logo Trost nasceu. À medida que a cidade populosa começou a florescer na superfície e as grandes muralhas foram levantadas para proteger contra tempestades de areia e intrusos, as pessoas se atraíram pelo céu aberto mais uma vez e lentamente os moradores das dunas começaram a sair e iniciar comércios embaixo do sol. Todo o processo levou vários séculos, é claro, e não fazia muito tempo que as pessoas haviam vivido aqui embaixo. Os mais pobres saíram por último, contou-lhe seu pai, obviamente eles eram a última prioridade e estavam relutantes em desistir de suas casas e famílias só por uma chance no lado de cima. Mas à medida que bandidos, ladrões e todo tipo de criminosos prosperavam lá embaixo, eventualmente eles foram forçados a sair como ratos das tripas de um navio afundando.

O que uma vez fora a marca mais notável da cidade, gradualmente se perdeu no tempo como uma relíquia antiga. Ninguém mais descia até o Submundo hoje em dia; bem, ao menos não por uma boa razão. A palavra se tornou sinônimo de crime, negócios obscuros e más notícias. As pessoas de Dauper nomearam sua porção de Catacumbas; não por causa de alguma relação com uma cripta antiga e subterrânea, mas sim porque aqueles que se aventuravam aqui não voltavam mais. Bem, a maioria. Eren e os Titãs eram prova viva de que aquele não era sempre o caso.

O ar estava coberto com o cheiro inebriante de barro e terra úmida rica em minerais. Estava escuro; sem as milhões de lanternas que um dia haviam banhado cada rua em luz do sol artificial, a cidade subterrânea mergulhou em uma noite permanente. Ainda havia algumas lanternas acesas - o único sinal de que ainda existiam pessoas por aqui - mas eram poucas e afastadas umas das outras. O teto da caverna acima não estava nem visível, com as paredes de terra curvas e rachadas que se abobadavam em volta das construções desaparecendo na escuridão do teto que era muito mais profunda do que os olhos humanos podiam enxergar. O ar estava completamente parado e mofado como um mausoléu negligenciado selado e cheio de ar antigo e imperturbável. Não havia vento aqui embaixo, embora Eren pudesse ainda ouvir seu eco atrás dele aonde assobiava pela estreita passagem da entrada. Ele se endireitou rapidamente de onde havia derrapado pelo túnel de entrada depois de ter tropeçado na madeira apodrecida da escadaria abandonada, tirando o pó de suas calças cobertas de lama e flexionando os dedos de sua mão ferida. Podia sentir onde a areia e o cascalho tinham incrustado no corte, grudando no sangue coagulado em uma casca dura e granulada e se enfiando na pele esfarrapada. Doía, e seu rosto doía onde ele havia ralado, e também raspara o joelho na queda, mas não tinha tempo para fazer um inventário de suas feridas porque conseguia ouvir à sua direita os passos de seu fugitivo se esvaindo. Não podia se dar ao luxo de perdê-lo nas ruas labirínticas.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora