O Tratamento Real

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Se casar?

A única resposta de Eren foi outro encolher de ombros atordoado. O diálogo vinha seguindo mais ou menos as mesmas linhas fazia um tempo desde que ele contara a novidade.

— O que você acha? — perguntou ele. Armin, agitado e entediado por uma conversa que não exigia suas contribuições incoerentes, foi a passos desengonçados até a tigela de frutas, a qual derrubou imediatamente. Mikasa estreitou os olhos para o reflexo de Eren no espelho enquanto colocava os brincos.

— Por que eu tenho que pensar alguma coisa?

— Uuh, alguém está na defensiva. — murmurou Eren, ignorando o olhar ácido que sua irmã o lançou. — Só perguntei porque eu não tinha certeza. Digo, a longo prazo, você acha que é uma coisa boa?

Sua irmã encarou um pontinho na superfície do espelho, sobrancelhas pintadas franzidas em pensamento.

— Discutível. É bom porque casamento significa herdeiros que significam todos saindo das minhas costas, mas se ela se mostrar uma outra Mahjabin Begum, pode significar ainda mais problemas.

— Erwin não concordaria em se casar com uma psicopata. — retrucou Eren. — Quer dizer, ele realmente se importa com Armin. Não iria arriscar isso.

Os lábios de Mikasa se torceram de um modo que demonstrava o quão pouco ela confiava no bom senso de qualquer outra pessoa.

— Ele ainda precisa implementar alguma coisa para me convencer. Palavras bonitas pouco significam quando há vidas em jogo.

Eren pensou que aquilo era um pouco injusto. Erwin havia demonstrado bem convincentemente o quão ávido estava para ter Armin em sua vida, e só podia assumir que essas coisas levavam tempo, mas não comentou. Erwin podia lutar suas próprias batalhas. E falando em Erwin, por que Levi insistira para que ele viesse a Muralha Rose hoje? O que tinha acontecido no Palácio para fazê-lo dizer aquilo? Eren sabia que não poderia ser nada ruim; Levi não o deixaria no escuro sobre algo preocupante, mas Eren não gostava de surpresas mesmo. Quando o dia chegasse ao fim e o que quer que ele estivesse esperando passasse, ele teria uma conversa firme com Levi sobre isso.

Mikasa pressionou um beijo na testa de Armin quando ele passou cambaleando. Eles o observaram em conjunto silenciosamente por um longo momento, quase invejando o quão abençoadamente alheio ele conseguia ser sobre o furacão de problemas sob o qual nascera.

— Já começou a empacotar suas coisas?

— Sim. Já arrumei praticamente tudo, eu não tinha muita coisa, para começar.

Viver com Jean e Marco era para ser temporário, só até que ele conseguisse achar algo para ele, mas então semanas viraram meses e depois anos. Nenhum dos outros rapazes iria chutá-lo para fora, e Eren pagava a estadia trabalhando na loja e ajudando com mercadorias. Eram como uma família e, apesar das provocações de Jean, ele nunca se sentiu como se estivesse se intrometendo. Mesmo assim, Eren nunca chegara a ficar completamente confortável. Sempre mantivera seus pertences pessoais no mínimo possível como se esperasse ir embora a qualquer momento. Ele passava tantas noites em Muralha Rose que não fazia sentido ter mais do que ele pudesse carregar de um lugar a outro, de qualquer forma.

Mas agora eles tinham uma casa.

Agora ele poderia colecionar toda a porcaria estúpida que quisesse, e até enfileirá-las em estantes como as cerâmicas de Levi. Com o que você enchia uma casa, afinal? Tudo de que Eren precisava eram um colchão e uma banheira. Eles provavelmente teriam que comprar móveis. Como pessoas de verdade. Arranjar pequenos ornamentos de vidro ou alguma coisa para guarnecer a mesa de jantar. Era uma pena eles não terem nada de sua infância; seria legal ter o corredor de mesa que sua mãe costurara ou o peso de porta desproporcional que tinha forma de bule de chá.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora