A Cachoeira

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Levi nunca tinha feito a viagem até a cachoeira tão tarde assim. A sorte era que ele conhecia muito bem o caminho após tantas viagens, porque tudo parecia tão diferente no escuro. Eren só viera aqui uma vez antes, então será que lembrou do trajeto mesmo depois do anoitecer? Será que chegara lá em segurança? O que ele estivera pensando?

A floresta estava preta e azul na luz da lua. Levi encontrou a égua parda de Eren pastando onde eles geralmente amarravam seus cavalos e deixou seu cavalo em sua companhia antes de ir até o barulho estrondoso da queda d'água. Gotículas gordas de água da última chuva tremiam precariamente nas plantas de folhas brilhantes como brincos de pérolas, e os chilros e zumbidos de insetos noturnos silenciavam por onde ele passava como se compartilhassem segredos sem querer ser ouvidos. O manto de Levi estava apropriadamente molhado quando havia atravessado metade da folhagem e logo teve que tirar a pesada vestimenta de lã. A carícia gelada de folhas molhadas deixou trilhas de arrepios em seus braços nus e Levi ficou aliviado de estar livre da folhagem sufocante quando finalmente pisou na beirada da água.

A forma de Eren era como uma estátua de bronze sob a água que jorrava. Ele estava com o rosto nas mãos e de costas para Levi, com os ombros curvados debaixo da água branca desmoronando sobre sua forma nua. O coração de Levi se apertou. Ele estava chorando? Ele veio até aqui para chorar sozinho?

— Eren!

O jovem não se moveu. Embaixo do rugido ensurdecedor da água, não era surpresa que Eren não conseguisse ouvir nada. Levi olhou ao seu redor frustrado. A clareira não deixava muito espaço em volta da lagoa para movimento. Havia algumas pedras e rochas sobre a superfície ondulada, mas a maioria das árvores chegava exatamente à beira e estavam amontoadas muito densamente para permitir um acesso mais próximo à queda. Levi ponderou por um longo momento. Jogar uma pedra em Eren para conseguir sua atenção seria realmente forçar a barra a essa altura. Relutantemente, Levi descalçou suas botas e meias, dobrou as calças para cima e avançou no raso cristalino da água, apertando os punhos e chiando contra o frio. A água limpa rodeou suas panturrilhas pálidas, dançando logo abaixo das barras dobradas. Levi chamou de novo, com as mãos em volta dos lábios, mas ainda não houve resposta. A água reluzia como um véu fino na espinha de Eren, entre a saliência afiada de suas omoplatas. Era mesmo como se ele fosse uma estátua cravada perfeitamente em angústia silenciosa.

Mas que droga.

Levi retornou à margem e foi pela beirada da água o máximo que conseguiu. Uma grande elevação coberta de musgo projetava-se um pouco acima da água, grande o bastante para ele se apoiar na borda. Ainda estava longe demais para ele conseguir a atenção de Eren, mas era o mais próximo que podia chegar. Ele se plantou na beirada, os pés pendurados dentro da água. Bem a tempo também, porque Eren finalmente se mexeu, quase sonolento como se estivesse acordando. Ele penteou o cabelo de sua testa e inclinou a cabeça para trás para encarar a lua, arrastando as mãos pelo pescoço e enganchando os dedos em seus ombros. Meu Deus, que visão. E isso que ele nem percebera que tinha uma audiência. Levi meio que esperava que Eren fosse virar, olhá-lo diretamente nos olhos e piscar, porque ninguém podia se comportar de uma maneira tão bela achando que está sozinho. Mas era o tipo de coisa que ele esperava de Eren, afinal. O que ele faria para ver Eren sorrir. Dar risada até esquecer toda essa situação.

— Eren?

Ele nem chegou a gritar seu nome dessa vez, mas de alguma forma Eren o ouviu. Ele se virou, sobressaltado. Olhos arregalados e brilhantes, verde e dourado. Ele encarou Levi.

— O que está fazendo aqui? — Levi leu a pergunta em seus lábios mais do que a ouviu. Ele deu de ombros como um pedido de desculpas.

— Seu amigo me contou que você tinha ido a uma cachoeira.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora