A vista a dois

125 21 5
                                    

O receio de Levi só cresceu à medida que o puxão insistente de Eren parecia levá-los cada vez mais perto da enorme base do carro. Ele lançava expressões de desculpas aos dançarinos que esbarravam neles em cores vertiginosas; sentia-se um obstáculo no curso de suas coreografias. Ele devia estar destoando como uma ferida feia com seu uniforme amarrotado no meio desse esplendor enfeitado. Havia crianças ziguezagueando entre eles, correndo e rindo enquanto perseguiam umas às outras e por pouco evitavam colisões com os corpos dançantes. Eren afagava seus cabelos quando passavam correndo, gritando para elas à medida que desapareciam na confusão, seu sorriso largo diminuindo a força de suas repreensões. Eren olhou por cima do ombro para sorrir a ele e então estavam no carro. Levi olhou para a imensa flor aberta acima de sua cabeça. Não iriam escalá-la, certo?

— Cuidado com as rodas. — disse Eren. Ele ergueu o tecido que se pendurava pelos lados da base que escondia os mecanismos e se enfiou lá dentro. Sendo rebocado pela mão, Levi não tinha escolha senão segui-lo.

Levi tinha imaginado que estaria escuro dentro da casca da rosa gigante, mas em vez disso tudo estava inundado com uma luz rosada suave. O sol iluminava as vigas de madeira que suportavam e davam estrutura à grande carcaça do carro alegórico através do tecido colorido que remendava os pedaços do carro que não eram feitos de madeira. Era como pisar em uma tenda abarrotada e entrelaçada por vigas de madeira, rangendo e gemendo enquanto continuava a rolar lenta e uniformemente. Luz do sol se infiltrava através de rachaduras no desenho e o som de tecido açoitando como velas de navio contra o vento era mais alto no interior. Nenhum dos dois conseguia ficar de pé apropriadamente no teto baixo e tinham que ficar abaixados constrangedoramente no recinto amontoado.

— Oops. — Eren puxou-o gentilmente, porém firmemente de volta ao movimento e Levi percebeu tardiamente que havia parado de andar depois de entrar na estrutura. — Você precisa continuar andando, senão será esmagado. — Eren apontou para uma das gigantescas rodas de madeira do carro rolando em sua direção. — Vamos, a parte boa está aqui em cima.

Estava sufocantemente quente dentro do carro. O ar estava abafado e mormacento sem circulação e logo gotas de suor estavam escorrendo das têmporas de Levi e fazendo sua camisa grudar em suas costas. Eren, pelo menos, estava sem camisa e com calças leves. Levi fitou as costas nuas à sua frente invejosamente, puxando sua própria gola procurando alívio. Eren soltou sua mão e ele assistiu o garoto começar a escalar pela carcaça de madeira interna, devagar mas constantemente chegando mais alto. Estavam mais próximos do centro da estrutura do carro e podiam ficar de pé agora que se abria em forma de pirâmide para os níveis dois e três dos funcionamentos no interior da rosa. As vigas se cruzavam acima como varais de roupas aglomerados em uma viela. Eren pausou sua subida a um metro e meio da cabeça de Levi e se pendurou em uma das vigas para olhar na direção dele, que ainda estava parado. Uma de suas pernas balançava ociosamente e Eren sorriu para ele, com a cabeça inclinada para o lado.

— Vamos! — pediu. — É aqui.

— O que é? — Levi franziu o cenho enquanto olhava ao seu redor procurando por um bom ponto de partida, então começou a subir lentamente também. Ele parou para se livrar de seu casaco e pendurá-lo sobre uma das tábuas para recuperá-lo na volta depois. É que estava quente demais aqui.

— Você vai ver.

Era como um caminho de obstáculos estranhamente intrincado para testar raciocínio espacial, estratégia e flexibilidade. Levi desviou e teceu pela madeira entrelaçada, respirando ofegante com o esforço mas sempre vários metros atrás de Eren. O rapaz parecia um macaco; navegava pelas vigas com agilidade veloz e praticada: pés descalços encontrando pontos de apoio fáceis e escalando com uma rapidez sem descanso que o mais velho não conseguia compreender. Levi parou para desabotoar sua camisa até o umbigo, o material agora grudando desconfortavelmente em seu peito. Podia ouvir a comoção da parada lá fora, abafada pelas paredes robustas da alegoria. O som de passos sincronizados reverberava de todos os lados enquanto os dançarinos de Muralha Rose se moviam em conjunto com os vivos acordes de sua música. Os barulhos o envolviam de todos os lugares e era como estar no coração da performance. Levi percebeu com divertimento que basicamente estava mesmo. Ele se perguntou onde estavam agora; mais alto do que o andar mais baixo onde tiveram que se abaixar para andar, mas ainda abaixo do palco mais alto ocupado pela Tawaif e seu conjunto exclusivo.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora