O Conselheiro

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Eren estava na casa de Levi.

Sentado na mesa de Levi, balançando a sobrinha de Levi em seu colo enquanto a irmã de Levi se ocupava na cozinha preparando as sobras do café da manhã de Levi.

Era uma casa adorável; não chegava a ser grande em tamanho ou arquitetura, mas limpa e organizada com apenas alguns toques de luxo supérfluo que sugeria que os habitantes tinham renda suficiente para que todos os seus ganhos não fossem usados puramente para as necessidades mais básicas. O gesso não estava rachado nem descamando, e eles tinham até mesmo um teto entre as vigas do telhado e a casa abaixo. Uma robusta mesa de madeira dominava a cozinha, polida e bem preservada, só com alguns riscos e cavidades no verniz escurecido para denunciar sua idade. As cadeiras combinantes circundando a mesa tinham almofadas feitas à mão acolchoando os assentos, com um corredor de mesa apropriado apoiando um vaso de barro repleto de antúrios brilhantes e frondes de palmeiras. As paredes eram até pintadas de um amarelo pálido e suave que dava à pequena cozinha um ar ensolarado e aberto. Quadros enfileiravam as paredes, desenhos de cenários desconhecidos de cachoeiras, praias, penhascos ásperos e vastas faixas de dunas de areia apresentadas em grafite minuciosamente cuidadoso. Havia alguns mapas antigos e apagados entre eles também, e Eren deduziu que foram todos desenhados por Farlan, provavelmente inspirados por suas muitas expedições. Ele queria levantar e olhá-los mais de perto, mas a criança em seu colo acabara de se acomodar e ele não queria arriscar isso. Uma estante de madeira se pressionava contra uma parede, carregada de meticulosas fileiras de conjuntos de chá de cerâmica e louça pintada à mão com desenhos deslumbrantes, perfeitamente ajustados de uma forma que demandava admiração. Era claramente o xodó de alguém na casa.

— Levi gosta de colecioná-los. — forneceu Isabel, vendo a direção de seu olhar. Ela parou de cutucar o fogo estalando debaixo do fogão para sorrir orgulhosamente à impressionante coleção. — Tenta conseguir um conjunto de cada lugar que visita.

— Posso imaginar.

Algumas das louças eram simples e imperfeitas, outras eram delicadas cerâmicas quase transparentes de tão finas e pintadas de dourado com finalizações manufaturadas. Tinha tantas que era assustador; Eren já sabia que Levi tinha viajado muito, mas ver tamanha exibição disso era inspirador.

— Você se importa se eu falar tâmil? — perguntou Isabel. Eren se animou com o som de sua língua materna, e assentiu nervosamente.

— Eu... Eu posso não conseguir responder. Estou um pouco enferrujado.

A mulher de pele escura sacudiu uma colher de madeira dispensando sua preocupação. Quando ela respondeu, foi em tâmil.

— Tudo bem, tudo bem. A única pessoa com quem posso conversar esses dias é Ambu, e não é como se ela respondesse. Só estou animada por ter alguém que entenda, para variar. — Isabel apontou para sua filha com a colher e fingiu encarar a criança, seu rosto se transformando em um sorriso cor-de-rosa quando o bebê explodiu em risadinhas.

— O nome dela é Ambu? — Eren nunca ouvira este nome antes.

— Ambuvili. — Ela mostrou a língua à filha, que deu mais risadinhas. — Significa olhos fortes. — Ambu tinha os olhos claros da mãe, admiráveis e astutos contra sua pele cor de noz. A mesma cor do olho esquerdo de Eren, que ele herdou de sua própria mãe.

Isabel colocou um prato de puttu quente na frente de Eren, olhando-o com um sorriso expectante. Eren não comia puttu há anos. As iguaria de sua mãe eram um luxo que ele só conseguia aproveitar quando Hannes passava pela cidade. Ele não precisou vocalizar sua admiração, Isabel o assistira devorar a refeição com orgulho, tirando sua filha de seus braços antes que tentasse enfiar os dedos em seu prato.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora