O Imperador Está Morto

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O Imperador estava morrendo.

Shadis e os oficiais das Tropas receberam as notícias do palácio antes que elas saíssem para o público, o que era bom para poderem se reunir e decidir a melhor estratégia para lidar com o caos inevitável que explodiria quando a hora viesse. Durante dois dias, ficaram todos confinados à sala de reuniões, discutindo onde posicionar suas forças para patrulhas e quem alocar no palácio para fornecer segurança adicional ao Príncipe Erwin até sua coroação. A maioria do pelotão de Levi foi selecionada, e muitos do de Mike. Todas as outras responsabilidades foram temporariamente interrompidas em face da questão mais urgente, mas sem dúvida o resto dos soldados e cadetes sabiam que algo grande estava acontecendo pela ausência constante de seus superiores e as expressões graves que usavam nos breves momentos em que emergiam de suas reuniões. O Imperador ainda não tinha falecido, mas é como se tivesse. A base estava repleta de preparações para o inevitável; soldados eram convocados e recebiam instruções para serem seguidas, e cronogramas de novas escalas de patrulhas elaborados. Havia quase um ar de antecipação ao planejamento; uma expectativa ansiosa nascida da inatividade antes da barragem estourar.

No terceiro dia, as notícias vieram a público. Mensageiros Reais foram enviados para cavalgar pelos distritos e anunciar o falecimento do Imperador, as mesmas palavras repetidas de novo e de novo em várias línguas diferentes como uma adição macabra às orações da manhã.

Al Malek qad mat. Kral öldü. Rājā iṟantapiṉpu. Raja ve nathivela...

Dentro de uma hora, todos na cidade, independente de classe ou língua falada, saberiam da notícia. O Imperador estava morto.

Levi estava em sua mesa de café da manhã quando ouviu o mensageiro descer sua travessa, o toque-toque de cascos de cavalos abafados na areia acumulada da rua. A manhã estava estranhamente quieta, como se tivesse previsto as notícias e estivesse carregando seu silêncio trêmulo por respeito. A voz do mensageiro soou solitária e exigente, ecoando entre as fileiras de casas carregada com a presunção e volume de alguém que sabe que estão todos ouvindo ao que tem a dizer. As palavras estavam abafadas do lado de dentro, mas ainda reconhecíveis. Levi já vinha esperando isso há um tempo. Continuou a comer seu pão tostado, fingindo não notar o modo como Farlan e Isabel ficaram tensos do outro lado da mesa. Já souberam com antecedência também, é claro, mas ouvir assim ainda era chocante. Não tiveram dias de discussão incessante para cair a ficha sobre a notícia, e então se cansar disso.

O som do mensageiro diminuiu até sumir na distância e Levi se levantou de sua cadeira. Farlan e Isabel olharam para cima, sobressaltados pelo guincho dos pés da cadeira arranhando o piso da sala antes completamente silenciosa.

— Você já vai? — perguntou Isabel, olhando para a janela da cozinha. — Ainda é cedo.

Levi pegou seu prato para lavá-lo e deu um sorriso sofrido.

— Preciso começar com uma vantagem nessa loucura.

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Eren não fora à base naquele dia. Também não enviou uma mensagem explicando sua ausência, mas Levi não estava surpreso. De qualquer forma, ele não era requerido. A maioria dos soldados estava se desdobrando em patrulhas pela cidade ou supervisionando o janazah enquanto o finado corpo do Imperador era carregado até a Masjid da cidade para a Ṣalāt al-Janāzah. Eren só teria se sentido ocioso com qualquer tarefa que Levi o atribuísse para mantê-lo ocupado. Levi se perguntou se ele e sua irmã iriam prestar suas homenagens depois do enterro como o resto da cidade. Imaginou que isso seria pedir demais; eles estariam certamente mais preocupados em manter Armin escondido por enquanto.

O dia todo teve uma ansiedade tensa, como um transe. Como se o pandemônio esperado depois das notícias do dia estivesse aguardando seu momento de irromper, esperando até que a guarda de todos estivesse baixa. A cidade estava sombria também, com muitos usando preto e fechando suas lojas por respeito, mas Levi notou um tipo de perplexidade calada e um lado mecânico na população da manhã também, especialmente entre os distritos mais pobres. O Imperador era uma figura distante para aqueles nas favelas; sua presença tinha pouco impacto em suas vidas, e sua perda só os atingiu como a notícia de uma tempestade feroz devastando uma cidade distante; simpatia desapegada por uma tragédia que aconteceu com alguém com quem você não era particularmente próximo. Eles falavam sobre isso, acenando pesarosamente e parecendo apropriadamente solenes, mas então seguiam com suas vidas. Dezenas de milhares de pessoas se reuniriam no centro para prestar suas homenagens, mas as favelas e periferias de Trost seguiam em frente. As galinhas não paravam de chocar e os peixes não paravam de morder as iscas porque o Imperador tinha morrido.

Levi se perguntou como Muralha Rose reagiu à notícia. As áreas de prostituição eram os principais pontos em que as patrulhas estavam concentradas; quaisquer motins ou problemas tinham a maior possibilidade de começar lá, afinal. Ele não ouvira sobre nenhuma atividade até então, mas sem dúvidas os bordéis estavam se preparando. Talvez a máfia teria a decência de esperar até que o funeral e período de luto chegassem ao fim.

Levi retornou de seucircuito pelo distrito Kunya quando o crepúsculo estava caindo. Enviou o batalhãosubstituto e se despiu de seu equipamento para trabalhar arduamente na papeladaacumulada em sua mesa. Eren não estava aqui para ajudar com os cálculos maissimples e na conferência dos arquivos hoje, então teria que fazer tudo sozinho.Ele pegou a papelada em seu escritório, preparou o próprio café e se sentou numcanto escuro do pátio onde os sons dos treinos da tarde e o burburinho geral dabase forneciam um murmúrio de fundo constante. O eco das passagens do Corãosendo recitadas na Masjid flutuavampelas paredes da base, moldando uma capa por cima das atividades dos soldados.O escritório de Levi parecia muito sufocante e quieto para conseguir fazeralguma coisa lá dentro. A noite já era melancólica o suficiente sem a habitualtagarelice e jeito estabanado de Eren para preencher o silêncio enquanto eletrabalhava.    


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Notas:

Al Malek qad mat. Kral öldü. Rājā iṟantapiṉpu. Raja ve nathivela...: "O Imperador/Rei/equivalente está morto" em árabe, turco, tâmil e cingalês, respectivamente.

Janazah: o equivalente a funeral. Uma marcha da residência do finado até a mesquita.

Ṣalāt al-Janāzah: orações de funeral islâmicas pela alma do falecido. Precedem o enterro.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora