O Anjo da Guarda

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— Você é sortudo. Normalmente não sou assim tão complacente com os desejos de meus garotos. — falou Vulture por cima do ombro enquanto liderava a pequena comitiva de volta pela escada em espiral e em direção ao salão principal. Sem dúvidas eles estavam seguindo para os aposentos de Vulture dessa noite. Era ainda um pouco cedo para se retirarem da festa, mas Eren lembrou de Levi dizendo algo sobre aquilo ser perfeitamente normal.

Flanqueando Eren de cada lado enquanto subiam estavam dois guardas robustos que, se Eren não estava enganado, ficavam lançando-lhe olhares de esguelha e caçoando. Ambos tinham pele marrom que era escura demais para serem nativos de Trost ou de qualquer um dos reinos vizinhos mais próximos. Seus perfis eram fortes e imponentes, características do Extremo Oriente se ele fosse arriscar um palpite.

Hari lassana kolek me sare hambune, neda Mahatheya? — O guarda à sua direita falou com Vulture com um olhar vesgo decididamente suspeito em sua direção.

Anee apitath dena ko oya ivara uname. — Eren virou a cabeça abruptamente para estreitar os olhos para o guarda à direita, que apenas riu enquanto reparava na expressão furiosa de Eren. Ele sacudiu o queixo em sua direção e se dirigiu ao outro guarda com suas próximas palavras. — Balana ko shok muna. Kelek vage. — Eren engoliu o nervoso nó em sua garganta. Trost era bem diversificada. Como seu porto localizava-se no centro das mais importantes rotas comerciais entre nações, pessoas do mundo inteiro frequentemente passavam pela cidade portuária. Dado o constante fluxo de estrangeiros, não era incomum cidadãos de Trost serem bem versados em pelo menos duas línguas, o que era bem conveniente se você pretendia fazer negócios com tais visitantes. Eren mesmo sabia o bastante para captar o curso geral de conversas nos idiomas mais populares, mas as palavras que estava ouvindo agora eram completamente estranhas para ele. Havia algo extremamente desconfortável em saber que estão falando sobre você bem na sua frente e ainda assim ser completamente incapaz de compreender uma palavra.

— O que eles estão dizendo? — Eren exigiu do homem diante dele. Estavam no grande salão agora, caminhando com propósito pelo meio. Eren estava dolorosamente consciente dos múltiplos pares de olhos e sussurros que seguiam sua pequena contingência. Não era difícil adivinhar o que estavam discutindo; uma aparição do ardiloso Vulture e seu acompanhante escolhido a dedo estava destinada a ser um tópico polêmico, afinal.

— Quem? Os convidados? Tenho certeza de que você pode imaginar. — Vulture se virou apenas o suficiente para enviar a Eren um sorriso depravado por um breve instante.

— Eu quis dizer seus homens. Estão falando de mim, não estão? — Eren fitou os dois seguranças em suas laterais, mas eles aparentemente deixaram a descontração para trás agora que estavam em público, retornando ao estoico profissionalismo na frente dos outros convidados. Ele se perguntou se conseguiam entendê-lo.

Vulture sacudiu uma mão com desdém. — Não ligue para eles. Pode ter certeza, todos nesta sala já estão falando sobre você, de qualquer forma. — Oh, fantástico.

Eren enfiou suas mãos suadas nas pregas de sua dhoti, no momento focando em regular sua respiração e repensar o plano em sua cabeça. Uma vez que estivessem no quarto, Vulture o ofereceria algumas bebidas. Eren precisava encontrar um jeito de, discretamente, escorregar os sedativos na do mais velho e então, quando estivesse dormindo, destrancar a janela mais próxima e enviar o sinal luminoso. Levi, Mike e Nanaba chegariam logo depois, trazendo com eles o DMT de Eren, e então ele estaria livre para ir para casa. Poderia retornar à sua vida normal e fingir que nada disso jamais acontecera, finalmente tendo pago seu débito a Levi e lavado suas mãos dessa loucura. Simples.

Seus dedos traçaram nervosamente a forma da pistola sinalizadora e dos dois frascos na bolsa em seu quadril. Eles estavam embrulhados em panos para não chocarem-se uns contra os outros, mas seu formato geral ainda podia ser discernido através do tecido grosso. Não faltava muito agora.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora