~Broken Angel

44 11 3
                                    

Entramos no carro e Ike me perguntou enquanto abotoava o cinto:
- Quer falar sobre oq te deixou assim?
- Não é nada, Ike... eu realmente só não estou muito bem.
- Tem certeza?
- Sim.
- Quer que eu dirija?
- Não estou querendo morrer ainda! - tentei ser engraçado pra ver se colava.
Buzinei e acenei para meus pais e irmãos que estavam na porta, ainda nos olhando. Natalie estava lá com eles e aquilo me deu náuseas.
Dirigi em silêncio até próximo de casa, qnd Ike pediu:
- Posso ligar pro Tay? Assim nem precisamos entrar na garagem. Deixo vc na porta e pego ele.
- Ele dirige.
- Qual é, Zac?!
- Ike, vc já bateu em uma lata de lixo, cara! Eu teria que fazer um curso para conseguir mirar e acertar uma lata de lixo em cheio! - eu ri de verdade. - e vc nem estava bêbado!
- Mas ainda estou vivo e não estou bêbado.
- Sim, mas o carro é meu.
- Cala a boca, ok? Vou ligar pro Tay. - ele falou rindo.
Eles conversaram e qnd cheguei em casa, Tay e Lola estavam na portaria nos aguardando. Ike passou para o banco de trás e eu joguei a chave pro Tay, que pegou no ar.
- Tá tudo certo, Zac? - Lola me encarou.
- Tá sim. Só estou meio indisposto.
- Tá grávido?
- Não tanto qnt vc.
- Quer que eu fique com vc?
- Não não. Eu vou tomar banho e assistir tv.
- Se precisar, liga. - ela falou me abraçando.
- Valeu. Se cuida vc tb.
- Hoje estou me sentindo bem. Pesada, mas bem. - ela sorriu e acariciou a barriga - então melhor aproveitar pra dar uma voltinha - ela falou saindo em seguida.
Tay me deu um soquinho no ombro qnd passou por mim e eu fiquei olhando eles saírem com meu carro. Ainda bem que não usei a pick-up! Lola não ia conseguir subir com aquela barriga.
Passei pela portaria e apertei meu andar. Destranquei a porta do meu apto e o silêncio invadiu meu peito. Tranquei a porta e me sentei no chão. Encarei o monte de legos, ainda no chão, esperando para serem montados. Eu me senti melhor olhando as peças coloridas. Os bons pensamentos começaram a tomar espaço: Ike e Tay montando lego comigo, Lola nos vigiando. Graças à Esther.
Esther.
Peguei meu celular, deitei no chão e disquei.
- Olá, Zac Hanson.
- Olá. Como sabia que era eu?
- Vc sempre me liga quase no mesmo horário.
- Ah...
- Achou que eu ia responder algo mais romântico?
- Acho q sim... - eu ri.
- Vc é uma pessoa romântica, Zac?
- Talvez... e vc?
- Talvez...
- Gosta de ser romântica?
- Não sei... acho que não. Românticos sofrem demais eu acho.
- Então talvez eu seja um romântico.
- Zac, posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Pq vc quer tanto ter asas se vc tem medo de voar?
- Como?
- Vc quer tanto amar, mas tem tanto medo...
- Pq esse vôo pode ser dolorido.
- Mas pode ser lindo e vc nunca vai saber se não bater suas asas, anjinho.
- Anjinho? - eu ri.
- Com esses cabelinhos loiros e curtos e essa cara de criança que fez arte, vc parece aqueles anjinhos de pintura barroca, sabe? - ela riu.
- Ah não, Esther! - eu ri alto - assim não dá!
- Vc é meu namorado e eu posso te dar o apelido ridículo que eu quiser.
- Ah é? Vou pensar em um apelido bem horrível pra vc tb!
- Duvido que vc consiga.
- Não duvide de mim. Eu posso ser muito criativo.
- Isso é oq vamos ver, anjinho.
- Esse apelido é brochante!
- É nada!
- É sim!
- Pelo menos assim vc fica aí calminho, longe de mim.
- Eu só tenho olhos pra vc. Já vc, está aí, feliz num país tropical.
- No meio do mato.
- Tulsa não é muito melhor.
- Vc não vai comparar seu estilo de vida com o meu, né?
- Guardadas as devidas proporções... bem... não é muito melhor.
- Vc não está em NY?
- Estava. Mas Nikki vai morar lá agora. Achei melhor deixar ela à vontade.
- Claro! Vc não ia segurar vela, né?
- Nem se eu quisesse. Ike veio comigo.
- Pq?
- Somos uma família conservadora. Ike só vai morar com a Nikki depois do casamento.
- Entendi... e pq ela foi pra NY e não pra Tulsa?
- Pq a Universidade de Tul não tem faculdade de moda.
- Show! Ela faz faculdade!
- Faz.
- Achei que ela era tipo a Lola, dona de casa.
- Não... Lola tb estuda. Mas em casa. Ela está terminando o ensino médio e fazendo aulas de música. - falei defendendo minha cunhada.
- Não precisa ficar nervosinho. Foi só uma pergunta. Eu não me vejo sendo dona de casa.
- Minha mãe é dona de casa, sua mãe é dona de casa... oq tem de mal nisso?
- Nada... se isso é bom pra elas. Mas eu não sei ficar em casa, esperando meu marido voltar do trabalho ou as crianças voltarem da escola, sabe?
- Pró ativa.
- Feminista.
- Brasileira.
- Prazer, Esther.
- Vc é impossível. - eu ri.
- Obrigada.
- Minha bateria de lego chegou. - falei mudando de assunto.
- Sério?
- Sim... mas ainda não está pronta. Ike e Tay me ajudaram no começo. Mas pelo visto vou terminar sozinho.
- Pq?
- Aparentemente eu sou o único desocupado.
- Onde estão os seus irmãos agora?
- Na gravadora.
- E vc?
- Em casa.
- E pq vc não está lá?
- Não estava me sentindo bem.
- E agora? Melhorou? - uma voz preocupada me fez sentir importante.
- Estou melhor. Graças à uma garota brasileira fantástica que me aguenta todo dia. - sorri.
- Lola?
- Não!  - agora eu ri - você!
- Eu sei. Só não queria parecer convencida.
- Oh minha Esther! Vc pode! Mesmo longe, conversar com você é como abraços quentes em uma manhã de segunda-feira.
- Ooooowm, que fofo!
- Eu disse que as vezes sou um cara  romântico.
- Meu ogro apaixonado.
- Anjinho, ogro... oq mais?
- Músico?
- Isso com certeza.
- Zac, preciso desligar. Ainda nem tirei o uniforme da escola e minha mãe já arrumou a mesa do almoço.
- Vá lá.
- Até amanhã.
- Até.
Desliguei o telefone, encarei o teto e depois a pilha de lego. É um trabalho que tem que ser feito, então me levantei, liguei meu notebook com uma boa playlist e recomecei a montagem, dessa vez, do bumbo.
Sorri pensando na minha conversa com Esther. Ela é capaz de curar a minha ressaca de solidão.
Talvez a cura para meus problemas esteja no Brasil.
E pensando nas palavras dela, nasceu uma nova música: Broken Angel. Não é sobre ela, nem pra ela. Era sobre mim, pra mim.

Save Me From Myself (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora