Naquela semana nós falamos pouco com a Lola. Ela e a mãe estavam matando a saudade e se adequando à nova rotina. Lola parecia bem mais tranquila com a presença da mãe e as olheiras, inclusive, diminuíram.
Aproveitamos para organizar algumas reuniões na 3CG.
O processo de criação do Underneath continua e nós sabemos que não temos como competir com as grandes gravadoras, que injetam milhares de dólares para promoverem um novo hit, mas a questão determinante foi exatamente essa que Ike levantou durante uma das reuniões:
- Nós vamos tentar continuar a agradar a grande massa que não dá a mínima se desaparecermos amanhã ou vamos focar em satisfazer aqueles que realmente se importam com a nossa história e a nossa música?
- Mas Tay não pode viver de sonhos, Ike! Ele tem uma filha e uma esposa pra cuidar. - eu falei.
Ele balançou o lápis nervosamente.
- Eu sei, mas... apesar da nossa verba limitada, acho que podemos fazer mais.
- Eu simplesmente não sei onde vc quer chegar. - cruzei os braços.
- Eu só quero entender exatamente até onde isso tudo vale a pena, sabe? Não é só nosso orgulho, é tb muito dinheiro. Não podemos deixar escapar nada. - Ike falou.
-Temos que assumir que agora não somos mais uma banda controlada por uma gravadora. Agora estamos por nós mesmos e seria ilusão acreditar que teríamos o mesmo alcance, Ike, vc sabe disso. Sabíamos disso quando resolvemos abrir nosso selo ao invés de procurar outra gravadora. - Tay o encarou.
- Eu sei! Eu estou com medo! Eu assumo: eu sou um cara pessimista!
- E Tay é um otimista. - falei.
- E Zac o realista. - Tay apontou pra mim.
- Ótimo! - falei.
- Desculpem por ser o pessimismo em forma de gente. - Ike respondeu meio sem graça, como se tivesse acabado de descobrir a própria insegurança.
- Ike. Tá tudo bem, ok? Nós vamos fazer como sempre fazemos: vamos fazer música por amor, vamos contratar alguns músicos para o fundo das músicas e mixar o álbum com a ajuda de um produtor legal. Nós temos que arriscar e confiar no nosso trabalho. - Tay continuou sendo o cara positivo.
- E Ike, o Underneath acústico já deu certo, cara. A maioria das músicas do álbum estão prontas e nós já fizemos um test drive. As fãs aprovaram.
- Era disso que eu estava falando. Será que dá pra comercializar e ainda cuidar das fãs?
- Claro que dá, Ike! São elas que pagam nosso salário no fim das contas! São elas que dormem em barracas pra nos ver. - Taylor falou confiante. - Vai dar certo.
- Espero que sim. - ele falou roendo a caneta.
- Ok... agora falando sobre músicos de apoio, oq faremos com o Will? - perguntei.
- Precisamos marcar uma reunião com ele e ver se ele está disposto à continuar. - Tay falou anotando. - podemos tentar falar com ele hoje e marcar essa semana ainda pra aproveitar minha sogra ajudando a gente.
Puxei o telefone e apertei o ramal da Bex:
- Bex?
- Oi Zac.
- Vc consegue ligar pro Will e ver se ele está disponível para uma reunião essa semana?
- Claro. - ela falou desligando.
Bex participa da maioria das reuniões, mas não de todas. Meus irmãos e eu gostamos de ter as pautas bem decididas antes de tirar os funcionários das funções deles. Sabemos que eles trabalham duro para as coisas andarem bem pra nós e valorizamos isso.
Bex interfonou de volta minutos depois e coloquei no viva voz:
- Zac? Estou com o Will na outra linha. Pode ser amanhã?
Olhei para os meus irmãos e ambos confirmaram.
- Pode, Bex.
- Qualquer horário?
Meus irmãos deram de ombros e eu repassei o recado:
- O horário que ele achar melhor.
- Aqui na 3CG?
- Isso.
- Ok. Obrigada.
Ela voltou a desligar e eu pude sentir a tensão no ar. Nós sabemos que Will quer sair, mesmo sem ele ter mencionado nada. Will é um cara legal, mas é ambicioso e não é esse o rumo das coisas atualmente e, além disso, é pouco provável que fosse ser o foco por um tempo. Ficamos muito tempo sufocados com a pressão da fama, agora só queremos fazer nosso trabalho em paz.
Ficamos em silêncio e Bex bateu na porta:
- Amanhã às 15:00.
- Ok. - Ike falou.
- Ok. - confirmei anotando no meu bloquinho.
- É a hora do meu café com a Lola e hj eu já não fui pra casa, mas posso conversar com ela. - Tay falou tirando o lápis de trás da orelha.
- Faça isso. - ela respondeu fechando a porta.
- Ela acha que manda em mim? - Tay apontou para a porta.
- Não, Tay. Ela tem certeza. - eu ri recostando na cadeira.
- Só Bex pra fazer eu rir numa hora dessas! - Ike tb ria no canto oposto.
- Meu Deus... criamos um monstro. - Tay negou com a cabeça.
- Bex vai nos devorar qq dia.
- Certamente. Não devemos deixar ela sem café, nunca.
- Boa pauta. Próxima! - eu ri.
- Falando em café, alguém bem que poderia dar um pulo no Chimera. - Tay sugeriu.
- Já tá na hora de um break mesmo. - Falei.
- Eu preciso de um café irlandês.
- Nada de bebidas alcoólicas nas reuniões, Ike. - Tay o encarou.
- Só brincando, Tay!
- Sei. E eu não te conheço?
- Eu vou. Café duplo? - falei.
- Pode ser.
- Gelado com leite pra mim. - Tay pediu. - estou com fome.
- Quer que eu traga um sanduíche?
- Não, obrigado. Daqui a pouco vamos jantar.
- Que horas são?
- 17:00.
- Caramba... nem vi o tempo passar. Querem parar por hoje?
- Não... melhor continuarmos e discutirmos sobre o Will. Precisamos pensar em algumas situações, como por ex, se ele pedir um aumento pra ficar. Valeria a pena? Temos esse dinheiro?
- Ok. Não comecem sem mim. Volto logo. - falei saindo.
Cruzei a porta da gravadora e ao atravessar a rua e entrar no Chimera, fui direto ao balcão, mas senti que estava sendo observado. *Será que tem fã sondando?!*
Tentei evitar olhar pra trás. Nessas horas é melhor não manter contato visual. Pedi os cafés e eu já estava saindo quando resolvi conferir quem me observava.
Minhas pernas tremeram e minha garganta secou: Kate acenou de uma mesa, ao lado da vitrine que fica de frente para a 3CG.
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Save Me From Myself (COMPLETA)
Fiksi PenggemarKate, meu amor, era um buraco negro drenando nossa paz e eu estava tão cego... Acho importante dizer que essa não é uma história de amor. Eu sou Zac Hanson e essa é a história de como eu fui salvo de mim mesmo.