~ Meu violão e eu

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Hoje a manhã da Esther será no maquiador e cabeleireiro.
Meus irmãos e eu já estamos acostumados com maquiagem. É ridículo admitir que mesmo quando se é jovem e tem a pele perfeita, vc precisa de um maquiador para "corrigir alguns detalhes" na sua pele se você for aparecer na TV ou fazer algumas fotos. Nikki é modelo, então também está acostumada com essa rotina. Já a Lola resmungou bastante sobre ter que fazer a prova do cabelo e maquiagem: "Bobagem! Confio no trabalho deles!". Mas não conseguiu fugir. Nikki arrastou todas as mulheres para o salão onde seria decidido qual maquiagem ficaria melhor em todas as madrinhas e na noiva.
Pra mim, Esther é bonita de qualquer forma. Tenho certeza que qualquer coisa ficaria bem nela. Ela será linda mesmo quando for mãe, em seus piores dias, descabelada e chorona. Sim, eu consigo me imaginar ao lado dela pra sempre.
Todas as mulheres foram de van, o que deixou os homens da casa meio perdidos. O que é um Hanson sem um apoio feminino, no fim das contas? Bem... cheguei à conclusão que não somos grande coisa. Jamais vamos admitir isso em voz alta, mas sem as garotas, todos nós parecemos um bando de sacos de batata.
- Ike?
- Hum?
- Vamos ficar a manhã toda aqui, sentados?
- Tem alguma coisa melhor pra fazer?
- Não sei... acho que não.
- Então só senta e relaxa, Zac.
- Vc sabe que isso é quase impossível pra mim.
- Apenas tente.
Sentei no sofá e não demorou dois minutos até que eu me levantasse:
- Vou pro meu quarto.
- Vai pela sombra.
Acenei e segui meu rumo. Sentei na cama e encarei a bateria de Legos e isso me deu um estalo: posso terminar a música que eu comecei!
Dei um pulo da cama e peguei as chaves na sala.
- Vai sair?
- Só vou buscar o violão no carro. Precisa de alguma coisa?
- Não...
- Ok. - falei saindo.
Fui até o carro e voltei com meu violão. As memórias da fogueira de ontem me fizeram sorrir. Quando em toda minha vida eu seria capaz de imaginar que uma coisa tão simples me faria tão realizado? Sem luxo, sem frescura, sem cobranças....
Quando entrei na sala, Ike não deixou passar:
- Inspirado?
- Por causa do violão? Não... eu só quero ver se consigo tirar alguma coisa pra matar o tempo.
- Não estou falando do violão.
- Do que, então?
- Tá sorrindo feito um panaca.
- Vai se lascar, Ike! - falei rindo, pq não sabia que estava assim, tão na cara.
- É por causa de ontem? Onde vcs foram que não deram as caras o dia todo? Posso saber?
- Se eu te contar, vc vai rir na minha cara.
- Vejamos. - ele falou fechando o livro que lia antes de eu chegar.
- Tomei café com a Esther na Antoinette e ela comeu um bolo. Eu tinha apostado que ela não terminaria, mas ela terminou e como pagamento, ela exigiu que eu corresse o quarteirão todo.
- Mentira! - Ele gargalhou - e vc correu?
- Corri, porra! Quase morri, mas corri! Suei feito um porco. - eu ri pensando na cena.
- Super romântico.
- NADA romântico! - neguei com a cabeça - E não parou por aí.
- Ah não?
- Não! Como eu estava ensopado, decidimos adiar nossa ida na Ida Red, então decidimos passar no mercado e pegar algumas coisas para fazer uma fogueira no parque, na beira do rio.
- E Esther topou esse programa de jeca?
- Não só topou como ajudou! Ike, eu jamais ia imaginar uma garota sentada no chão de grama, assando salsichas!
- Lola talvez fizesse... - ele pareceu pensar.
- Bem, talvez... mas não é disso que estou falando! Vc entende?
- Sim, entendo. Ela fez a coisa certa, na hora certa.
- Exatamente! Ela simplesmente aproveitou o momento ao meu lado, sem reclamar, mesmo quando os pernilongos começaram a nos devorar.
- Repito: Super romântico.
- Vá à merda! Nem todo mundo é maricas igual vc, Ike! - falei rindo.
- Cada pé tem seu sapato, no fim das coisas.
- Exatamente e parece que eu encontrei meu número.
- Fico feliz em ouvir isso, irmãozinho.
- Valeu. - falei sem graça. Eu ainda fico sem graça com o carinho sem medida dos meus irmãos por mim.
- Vai lá escrever sua música antes que vc derreta no sofá.
- Já fui! - falei me levantando e pegando o violão.
Sentei e pensei sobre ontem. Anotei o primeiro verso, o que eu criei por acaso. Dedilhei o violão e fechei os olhos, me concentrei no cheiro da grama e no som da fogueira crepitante. Pensei no céu laranja e no perfume doce da Esther. E então pensei que talvez nosso encontro não tenha sido nada romântico, mas foi tudo que eu precisava. E então mais um verso veio:

"I don't care if no one understands
I've walked under the stars just holding your hand
All the long roads, and the sorrows, all the broken and the borrowed
When it's us against the wind, we'll be fine."

Agora eu preciso de uma ponte. Um refrão. Deveria colocar o nome dela? Melhor não. Sempre escrevemos sobre nós ou sobre alguém próximo, mas nunca damos nomes reais. Cada um pode usar a música como quiser.
Continuei lá por um tempo e então alguém bateu na porta do meu quarto.
Coloquei o violão de lado e não deu tempo de autorização, Tay entrou, como sempre.
- Porra, Tay! Quando é que vc vai aprender pra que servem as portas fechadas?
- Eu abro toda porta fechada. É assim que a vida segue, cara. - ele deu de ombros.
- Oq vc quer?
- Atrapalho?
- Não. Na verdade eu estava travado em uma nova música.
- Estava compondo?
- Uhum.
- Posso?
Estendi o papel pra ele.
- Alguns erros de grafia, mas está ótimo.
Eu ri. Tay sempre corrigiu meus erros. Sou péssimo em gramática. Meu negócio é artes e exatas. É por isso que quase não respondo cartas e nem e-mails. Eu desenho, eles escrevem.
- Tá, mas vc entendeu.
- Claro. Está ótimo. - ele devolveu o papel. - Vc sempre foi bom nisso.
- Qual é, Tay... - fiquei sem graça de novo.
- Tô falando sério. Vc é ótimo com poesia. Mas não vim aqui pra isso. Vim te convidar pra almoçar com o papai e o Ike.
- Parece ótimo. Vcs vão almoçar onde?
- Em casa mesmo.
- Ok. Já vou indo.
- Te espero lá. Papai e Ike não devem demorar também.
- Precisa de ajuda com o almoço?
- Não. Estava entediado e acabei cozinhando mais do que deveria. Já está quase tudo pronto.
- Te encontro lá então.
- Até mais.

Save Me From Myself (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora