~911

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A manhã seguinte foi uma manhã normal. Vamos pegar o voo após o jantar, então passamos a manhã arrumando as coisas e descansando para a viagem, mas logo após o almoço a coisa mudou. Ike foi para o quarto dos meus pais e eu terminava de arrumar a mala quando o telefone do quarto tocou. Atendi pensando ser ele:
- Fala, Ike.
- Não é o Ike... - uma voz feminina me paralisou.
*é mesmo quem estou pensando que é?!*
- Kate?
- Oi Zac.
- Oq vc quer? - perguntei quase sem fôlego. Minhas pernas tremiam.
- Você, Zac. Eu não consigo sorrir sem vc. - ela falou e aquelas palavras pesaram em mim, pq eu não consegui sorrir sem ela por um tempo. Não um sorriso sincero.
- Isso é muito triste, Kate. É triste pq eu conheci o seu sorriso e eu achei que era sincero. Eu ainda lembro de vc qnd ouço as músicas que compus, e quando vejo seu doce favorito... - suspirei e não terminei, ou eu acabaria me declarando. *força Zac, não caia!*
- Ainda dá tempo de voltar.
- Não, não dá... foi bom enquanto durou... agora não dá mais. - consegui ser firme, mesmo com a voz vacilando.
- Você está errado. Vc não vai conseguir me esquecer, Zac, nunca. No fundo vc sabe! - a voz dela tinha desespero.
- No fundo eu sei que tenho que seguir em frente, Kate. Sem vc. Eu tentei, me entreguei, mas não deu. Segue sua vida, Kate, pq eu já segui a minha. - pensei em Esther. O motivo do meu mais novo sorriso sincero.
- Você já tem outra?
- E se tiver?
- Vc não se sente culpado? - ela chorou.
- Me sinto livre. - essas palavras doeram em mim.
- Nunca imaginei que vc me deixaria um dia.
- Ironicamente, nem eu. Mas eu consegui. Adeus, Kate.
Desliguei o telefone e chorei. Deus do céu, como dói dizer adeus! Não deveria doer, mas dói. Eu deveria realmente me sentir livre sem ela, mas a realidade é mais cruel.
O telefone tocou mais uma vez e eu não atendi e ele tocou de novo e de novo até eu arrancar ele da tomada e ir para minha ducha fria chorar.
Muitas coisas se passavam dentro de mim e eu não tenho para onde correr, pois os gritos de socorro são meus próprios gritos. Essa angustia é só minha.
Sai da ducha e andei, ainda molhado, pelo quarto; então eu pensei na única pessoa que eu penso nessas horas: Lola.
Peço mais uma vez que não confundam as coisas. Sempre que falamos sobre amor, ainda mais qnd ele ocorre entre pessoas do sexo oposto, as pessoas pensam logo em um homem e uma mulher se enamorando, nus e queimando de paixão, mas não existe apenas esse tipo de amor.
Existe amor entre irmãos, mães e filhos, amigos... Lola não é o amor que eu quero me casar algum dia, isso jamais passou pela minha cabeça e creio que nem pela dela. Lola é o amor que eu procuro quando estou péssimo, é um tipo de amor que suporta meus segredos em silêncio e que me oferece o ombro pra um choro em busca de cura para um coração quebrado. Não sei se pelo fato dela ser mulher ou simplesmente por ela ser tão sincera e ao mesmo tempo acolhedora, eu me sinto à vontade para ligar pra ela à qq hora e falar qq coisa. Eu confio nela. Talvez ela seja realmente minha gêmea, como diz minha mãe. Mas alma gêmea no sentido de que eu sei que ela me entenderia e me orientaria quando eu mesmo não enxergo o caminho. Lola é meu 911. É isso. Ela me socorre e seguimos bem, cada um no seu caminho.
Me recuperei da choradeira e precisei arrumar a bagunça que fiz no quarto, deixando o chão todo encharcado.
Me sequei e pendurei a toalha e depois sequei o chão com o tapete do banheiro pq eu não quero chamar uma camareira.
Eu apreciaria se algum dia, os quartos de hotéis tivessem um pano escondido para essas horas. Ou era só eu que já tinha derrubado refrigerante no piso, ou saio do banheiro e ando molhado por ai?
Vesti minha roupa e dei uma última olhada no espelho. Era claro que eu tinha chorado. Minhas pálpebras estão ridiculamente inchadas e num tom rosa que combina com o meu nariz.
Lavei o rosto mais uma vez e fui até o quarto dos meus pais.
Bati e esperei. Papai abriu a porta:
- Filho? Aconteceu alguma coisa?
- Pai... acho que não vou viajar com vcs hj.
- Entra. - ele falou me dando passagem.
Entrei e mamãe me olhou com olhos de piedade. Precisei respirar fundo e apertar a ponta do nariz para não chorar de novo. Eu não quero chorar pra ela... é minha mãe, eu sei... tb sei q posso contar com ela... mas me sinto ridículo fazendo isso. Ainda mais qnd ela e Kate já não tinham um bom relacionamento. Eu não quero um sermão.
Lola saberá me tirar desse buraco e me manter longe da Kate.
Me sentei ao lado dela e ela acariciou meu rosto:
- Zac, vc estava chorando?
- Mãe... - Suspirei - é meio complicado...
- Vc sabe q pode contar com a gente...
- Eu sei... mas no momento eu quero muito conversar com a Lola.
- Lola... sua alma gêmea - ela sorriu - Nikki que não me ouça,  mas não poderia encontrar uma nora mais querida.
Sorri e não respondi.
- Sua mãe tem razão, filho. Se fosse outra pessoa, já teria te mandado embora.
- Eu sei, pai. Mas às vezes eu tenho a impressão de que só ela não vai me julgar por ser um babaca.
- Vc não é um babaca, filho... - Mamãe me consolou.
- Eu sou e Lola jogaria isso na minha cara e eu sairia rindo e agradecendo. - eu sorri.
- Bem a cara de vcs... - meu pai tb sorriu - mas oq vc pretende fazer?
- Pai... acho que vou arriscar e vou até a casa dela.
- Filho, vc não vai atrapalhar? Taylor e ela estão passando um tempo com a família. - mamãe me olhou apreensiva.
- Mãe...  eu já pensei nisso, mas eu preciso. Na verdade, quero ir pra lá agora. Nesse instante. Um telefonema não é o suficiente pro que eu preciso.
- Pelo visto vc já se decidiu. - ela sorriu.
- Já...
- Então vai. Tenta não dar trabalho e fique longe de encrenca.
- Valeu, mãe! - falei beijando ela e meu pai enquanto corri para fora do quarto - ah! Avisa o Ike e as crianças que eu volto logo! Boa viagem pra vcs!
Eu não esperei uma resposta. Corri de volta para o meu quarto, enfiei uma troca de roupa na mochila junto com os meus documentos e a passagem e sai, sorrindo e pensando sobre a loucura que eu estou pra fazer.

Save Me From Myself (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora