Ike chegou e eu ainda estava sentado no chão, ora escrevendo algum acerto da música, ora montando o lego.
- Melhorou?
- Sim. Estou bem melhor.
- Falou com a Esther?
- Falei, pq?
- Por nada - ele riu e eu entendi, mas preferi ignorar.
- Ok... é isso. - falei terminando de anotar a escala na música - Estou tão bem que escrevi até uma música.
- Outra música pra ela? Posso ver?
- Ainda não está pronta. Estou arrumando a letra. Mas é isso. - falei entregado o rascunho pra ele - e tb não é sobre ela. Nem pra ela. Ela só me inspirou.
Ike analisou a letra e ritmou parte do que eu tinha anotado.
- Muito bom. Muito bom mesmo. Se Esther continuar te inspirando assim, teremos músicas excelentes. - ele me entregou o rascunho de volta - na verdade, acho que vc deveria mostrar essa pro Tay. Quem sabe a gente não inclui ela no Underneath? O album ainda está aberto e acho que ela tem bem a vibe do restante das composições.
- Será?
- Acho que sim. Mas deixa isso pra amanhã, pq ele acabou de entrar e Lola passou muito tempo fora de casa.
- Que horas são?
- Quase 17:00.
- Caramba! Perdi completamente a noção do tempo. - falei conferindo a janela, que estava mais escura.
- Garoto, onde vc estava?
- Aqui... o tempo todo aqui. - falei me alongando, consciente agora que minhas costas doíam.
- Acho que vc deveria sair um pouco. Ir pra um pub dançar e fazer amigos.
- Eu não curto mais baladas, Ike, vc sabe.
- Mas antes vc ia. E ainda pegava geral.
- Eu estava solteiro.
- E não está mais?
*gotcha!*
- Bem... - engasguei - não é que eu esteja compromissado ou coisa parecida...
- Hm... continue.
*Esse FDP sabe! Ike sempre sabe! Mas ele não vai ouvir isso da minha boca! Não agora. Não até estarmos prontos.*
- Ike... eu só não estou com cabeça pra esse tipo de coisa. Nem de dançar eu gosto!
Ele me olhou com a mesma cara que minha mãe faz qnd sabe que estamos mentindo.
- Vá pro inferno, Ike! Eu não tenho que te dar satisfação.
- Nunca disse que tinha. Vc quem começou a se explicar. - ele deu de ombros. - Está com fome?
- Sempre. - respondi ainda meio mal humorado.
- Oq vc quer comer?
- Não faço ideia.
- Sei que ainda é cedo, mas talvez a gente possa cozinhar alguma coisa.
- Ike, eu não sou o Tay. Eu não sei cozinhar!
- Podemos aprender.
- Ike, pq não fazemos como em NY e compramos nossa janta? Ou ainda, pq não contratamos alguém pra isso?
- Pq acho que a gente deveria saber cozinhar.
- Oq?! - eu ri - de onde vc tirou isso?!
- Sei lá. De repente comer de forma saudável é importante para sobreviver. - ele respondeu irônico.
- Podemos contratar uma empregada, sério!
- Zac. Eu quero passar um tempo com vc e acho que seria divertido cozinhar. Tá bem assim?
- Ike, se vc quer passar um tempo comigo, se divertir e encher a pança, podemos ir à um stand de tiros e depois comer um hotdog ou uma pizza. Oq acha?
- Por mim... bem... podemos tentar o paintball.
- Marica.
- Vá à merda! - ele riu - Não podemos tentar um acordo? No stand de tiros a gente nem vai poder se falar por causa dos tampões.
- Ike... - suspirei - como eu digo isso sem ofender? Bem... somos polos opostos. Tay nos mantem ativos e funcionando, sacou? Não é que eu não te ame. Pq cara, vc sabe que eu te amo... mas sei lá... nunca gostamos das mesmas coisas.
- Com exceção do Lego. - ele apontou pra bateria semi pronta.
- E música.
Nós sorrimos e aquilo ali valeu por horas em um stand de tiros ou em um paintball ou qq outro lugar. Foi um sorriso cúmplice. Ele entendia oq eu estava sentindo.
- Cara, vcs são os melhores irmãos do mundo. Eu... - ele riu - eu adoro vcs. E com essa correria, tenho sentido falta de passar um tempo com vcs. Tempo de verdade, sem trabalhar, sabe?
- Eu sei. - falei sem modéstia - mas se vc vier pro meu lado com essas coisas de viadinho eu juro que vou ter que rever nossa vida sob o mesmo teto.
Ike me empurrou e eu segurei na camisa dele. Rolamos pelo chão dando almofadadas e empurrões um no outro, até que rolei por cima das pecinhas de Lego.
Todos aqueles malditos pininhos cravados nas minhas costas. Urrei e Ike saiu na hora.
- Oq aconteceu? Distendeu algum músculo? Zac?!
Eu me contorcia feito uma minhoca no sol e qnd me virei, ele falou apenas um "ouch".
Passei a mão nas minhas costas e senti pelo menos 3 pecinhas descolarem da minha carne e caírem de volta no piso da sala. Virei as costas para o Ike e apontei:
- Quantos furos eu consegui?
- Alguns... - Ike concordou olhando minhas costas.
- Melhor deixar a briga de lado por hora...
- Acho que não temos mais idade pra isso... - ele se levantou e me estendeu a mão, q eu aceitei e ele me puxou e me ajudou a ficar de pé.
- Nunca se é velho demais para uma boa briga de mentira com seu irmão! Só temos que nos assegurar de que não há peças de Lego espalhadas pelo ringue.
- Ringue?! - ele riu.
- Ringue, chão... chame como quiser. Mas isso só serviu para me dar mais fome.
- Como se precisasse rolar pelo chão com seu irmão para ter fome.
- Pizza?
- Pizza. - Ike respondeu pegando o celular - as de sempre?
- Pode ser.
Juntei as peças de Lego com os pés e as empilhei num canto mais seguro.
Ike se sentou ao meu lado no sofá e pedi ajuda pra ele enquanto esperamos nossa pizza:
- Ike, já que vc quer passar um tempo comigo e tals, pq não me ajuda a terminar a Broken Angel?
- Tem certeza? É sua música.
- Eu sei, mas nós trabalhamos juntos na maioria das vezes, não é?
- Claro. Pega meu violão lá e me dá o rascunho. Vou dando uma olhada.
- Tô pensando em fazer ela no piano.
- Com certeza vai ficar melhor, mas por hora o violão tem que servir.
- Podemos ir na 3CG depois. Oq acha?
- Se sobrevivermos à pizza, por mim tudo bem. Compramos um café pra mim e energético pra você e podemos passar a noite lá, até terminarmos.
- Perfeito. Valeu, Ike! - falei indo buscar o violão.
Ike é o típico irmão mais velho: observador e cuidadoso. Embora Tay fosse o link entre Ike e eu, eu não saberia viver sem qq um deles. Passei muito tempo longe. Tempo demais me dedicando à Kate e me afastando dessas pessoas maravilhosas que dividiam tudo comigo desde sempre, desde a pizza, até o DNA.
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Save Me From Myself (COMPLETA)
Fiksi PenggemarKate, meu amor, era um buraco negro drenando nossa paz e eu estava tão cego... Acho importante dizer que essa não é uma história de amor. Eu sou Zac Hanson e essa é a história de como eu fui salvo de mim mesmo.