Olá pessoal!
Cheguei um pouco mais cedo hoje, não postei nesse fim de semana, porque vocês sabem... preciso descansar também.
Espero que gostem!
Beijão EJ!
16. Acertando as coisas
Não sinto os braços da Jo me segurando, apenas suas lágrimas, mas eu sei que estão bem apertados em volta de mim, se ela apertasse um pouco mais acabaria ficando com hematomas em seus braços.
— Jo... — Testo minha voz mais uma vez, sei que é impossível chorar, sei que posso ficar a eternidade sentada nessa cadeira e ver cada pôr do sol por essa janela estúpida e não vai mudar o fato de que ela se foi e eu sei que não vai se passar um único dia daqui para frente que eu não vá me arrepender, que eu não lamente. Então agora eu preciso me levantar, preciso sair da inércia, há tanto para fazer e eu sou a irmã mais velha, preciso colocar tudo no lugar novamente, preciso encontrar o equilíbrio e o sentido em voltar a vida.
— Nós...
— Sim, eu sei. — Respiro fundo uma última vez. — Onde está o médico? Onde eles a levaram? — Olho para o quarto e somos apenas nós duas. — Há quanto tempo eu estou aqui? — Seguro suas mãos e me levanto.
— Cinco horas. Eles precisam liberar o quarto.
— Certo. — Pego minha bolsa e saiu, logo em seguida a equipe de limpeza entra no quarto. — Para onde a levaram? Você já resolveu tudo com o hospital? Sei que dever haver uma papelada enorme.
— Ainda não. A levaram para o necrotério, estão fazendo a autopsia. Eu já liguei para uma funerária, estava pensando em cremar, já que não temos um...
— Podemos comprar uma. Tem um lugar lindo no cemitério central. Ela sempre foi tão religiosa, possivelmente ira preferir. Eu vou ligar para a... Eu não sei qual é a funerária. Ela já foi liberada?
— Eu...
— Sra. Matias. Srta. Marc. — Doutor Andrews vem pelo corredor e toca o meu ombro. Sinto um calafrio quente passar pelo meu corpo, algo eletrizante e fluido como uma dose de tequila. Céus, eu adoraria poder ficar bêbada agora, não que fosse eu boa ideia.
Ele tem um dom. Posso sentir percorrer o meu corpo e me deixar um pouco melhor, no entanto dura apenas um segundo, assim que meu corpo o percebe começa a levantar os escudos que deixei cair. Não é como o dom do Jasper, ele não está mexendo com as minhas emoções, está tirando a minha dor, tentando pelo menos.
Posso sentir sua atenção completamente voltada para mim, ele sabe que tem um dom? Escuto seus pensamentos por um momento e sim ele sabe. Está procurando a minha dor, tentando encontrar cada resquício dela e está tomando tudo que encontrar para si. Ele está sofrendo também, ao receber minha dor ele sofre. Por que está fazendo isso?
Ele sorrir para mim e afasta sua mão pousando a mesma no ombro da Jo. Está fazendo o mesmo com ela. Ele está falando com ela, ou talvez conosco, mas não há nada que ele possa falar agora que me prenda mais atenção do que seu dom.
Ele não poderia saber que nem ao menos chegou perto da minha verdadeira dor, ele me pegou com os escudos abaixados, mas assim que senti o ataque os escudos voltaram um por um. E assim que ele usou seu dom em mim, pude rouba-lo e neutralizado. Ele não sabe a sorte que tem, nenhum ser humano poderia experimentar a sensação de vazio e tristeza que estou sentindo agora sem desmoronar e ele leva uma parcela da dor.
Ele se afasta e diz alguma coisa, mas estou concentrada demais em suas lembranças. Ele já fez isso tantas vezes, ele fez isso com ela. Ele percebeu que eu não parecia triste. Ele não sentiu quase nada quando tentou tirar minha dor.
— Lia... — Jo está olhando para mim, sei que esse é o tom de impaciência dela, já deve ter chamado meu nome umas duas vezes. Levando a cabeça e paro de ouvir os seus pensamentos. — O doutor Andrews falou que ela será liberada em uma hora no máximo.
— Tudo bem, é o bastante, nós precisamos... informar as pessoas, posso marcar o enterro para amanhã. Vou ligar para o cemitério, você liga para a funerária? — Jo assentiu e se despediu do médico. Pegou o celular na bolsa e foi esperar o elevador. Me volto para ele. — Obrigada.
Ele piscou e começou a falar, mas eu o impedi.
— Eu sei o que você fez. E pensando bem agora deve ter feito um pouco antes dela partir também. Eu não estou bem o bastante para lidar com isso agora, mas isso vai ajudar muito a minha irmã. Não me leve a mal eu sei que não sentiu a minha tristeza, a dor que esperava sentir, não quer dizer que eu não esteja sofrendo. Você apenas não poderia sentir. Espero que essa explicação seja o bastante. Obrigada por elas.
Passo por ele e entro no elevador com a Jo.
****
Quando acabou eu mal havia me movido. Houve vários discursos de amigos, familiares distantes, vizinhos, mas eu não pude falar. Nenhum deles poderia saber que eu era sua filha mais velha. Nenhum deles sabia sobre mim. Eu não era a filha e sim a neta. Eu não pude falar, nem mesmo quis, eu havia me despedido dela, toda aquela cerimônia era apenas para os vivos. Eu não faço parte dos vivos propriamente, eu não poderia falar que a veria novamente no tal paraíso. Eu vou estar aqui.
Todo aquilo só serviu para me lembrar que eu vou ficar sozinha muito em breve. Hoje foi a minha mãe, em alguns anos será a Jo, depois minhas sobrinhas e depois seus filhos e eu estarei aqui, vendo todos eles irem embora, vendo todos aqui nesse mausoléu que comprei apenas para poder vir visitá-los um dia.
Eu vou continuar aqui, sozinha.
— Foi uma cerimônia bonita.
Escuto a voz da Alex, ela está ao meu lado. Todas elas estão. Por que estamos olhando para o mausoléu? Talvez porque nenhuma consiga se distanciar.
Eu não saberia dizer se foi realmente uma cerimônia bonita. Me lembro das rosas, de como o sol batia nas minúsculas partículas de poeira no ar, me lembro do vendo, da vibração de cada respiração, do som de todos os corações batendo, até mesmo me lembro de todas as perguntas que todos queria fazer, mas apenas seus olhos demonstravam.
Me lembro de todos os pequenos momentos, dos pequenos detalhes, mas não saberia informar nenhuma das palavras do padre, não poderia afirmar o que ela estava vestindo, mesmo vendo o caixão aberto. Em vez disso passei por cada memoria que tinha dela, até mesmo aquelas embaçadas pela visão humana. Gosto de pensar que tenho vinte e dois anos de imagens borradas. De seu sorriso, de sua voz, do seu cheiro. Eu não o senti hoje, nunca mais irei senti-lo.
Lembro de obrigar meus pés a andarem da igreja até o cemitério. Lembro da ironia de entrar em uma igreja quando apenas a menção da água benta deveria derreter minha pele. Lembro de sentir o cheiro das flores, de ver as pequenas abelhas nelas, de ouvi-las, de ver pequenos esquilos nas árvores ao longe.
Lembro de ouvir o som do caixão raspar no granito quando a colocaram no mausoléu. Do som das grades sendo fechadas e dos irrigadores serem ligados.
Sinto três pares de braços me abraçarem e escuto um som brutal, parece um animal ferido e pestes a morrer, é o som mais triste que já ouvi. Levou apenas um momento para perceber que era eu. Escuto choros também. Escorregamos para um banco na frente do mausoléu e choramos mais uma vez.
Elas não sabem, mas não choro apenas por essa morte, choro por todas que virão, porque um dia e não está longe, as únicas pessoas que eu amo, as únicas pessoas que já me amaram irão morrer. E por mais que eu possa impedir, não o farei.
— Eu sinto muito.
*****
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Peregrina
FanfictionJezelia Marc é uma vampira a mais de 45 anos. Ela sempre seguiu sua vida se mesclado ao mundo humano, vivendo escondida por ordens de seu criador. Lia, por vezes, já encontrou outros da sua espécie, mas nunca fez nenhum esforço para manter contato o...