Capítulo 49

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Gatilho: Homofobia

Era triste para Seokjin enterrar o pai.

O homem tinha sido uma grande pessoa e Seokjin estava focando em lembrar dos bons momentos que tivera com ele e apagar os ruins, afinal tinham se perdoado de todo o passado.

Mas, ver o caixão aberto, com a pele do homem ainda mais branca do que nos outros dias que já estava pálido e a figura serena, como se somente estivesse dormindo, fez algo dentro do confeiteiro quebrar e novamente se viu chorando sem consolo.

Namjoon e Taehyung, assim como todos os seus amigos, estavam ali, então Seokjin aceitou abraços e palavras sentidas, no entanto somente nos braços dos namorados que se sentiu seguro, como se não fosse impossível sair dali e continuar a viver. Era difícil e tudo doía, porém, seu pai não o iria querer vê-lo daquela maneira e o pensamento o fez chorar ainda mais.

Portanto, o confeiteiro deixou a cabeça tombada no ombro de Namjoon e a mão entrelaçada na de Taehyung, até ouvir seu nome ser chamado para discursar; em outras ocasiões, evitava tanto holofote, mas nessa ele mesmo se inscreveu para falar algumas poucas palavras sobre o pai.

Subir no palanque foi uma das coisas mais difíceis que Seokjin fez, pois agora estava tudo muito real. Iria discursar no velório do pai.

— Boa tarde. Em primeiro lugar gostaria de agradecer a todos aqui presentes — disse Seokjin, olhando para os seus amigos e namorados, que estavam ali para o ajudarem naquele momento difícil. — Enquanto eu subia essas escadas percebi que meu pai não iria me ver discursar. Claro que podemos trazer toda a questão religiosa de que sim, ele está me vendo, mas o ele físico não estará e essa será a primeira vez que isso acontece.

O confeiteiro respirou fundo, tentando trazer o seu ator interior, por mais que soubesse que seu rosto estava inchado e vermelho. Por um breve instante, olhou para mãe e o irmão sentados nas cadeiras da frente do local, percebendo como eles estavam de óculos escuros, então não sabia ao certo se eles estavam iguais a ele.

Hm... Muitos podem pensar que meu pai não era presente, mas ele era e esteve em cada mínima coisa que fiz: desde as peças da escola até a primeira vez que desfilei. Como também quando abri meu estabelecimento... Ele esteve lá, porém só soube disso esses dias. — Seokjin sorriu fracamente, fitando o microfone e o caixão, entretanto logo piscou os olhos, voltando a realidade daquele momento. — Nesses últimos dois meses, descobri muita coisa ao lado do meu pai. O fato é que nós brigamos assim que larguei a faculdade de direito para seguir a carreira de modelo; eu saí de casa e foi isso... as coisas não ficaram muito boas entre a gente — explicou o moreno. — Mas quando descobri da situação do meu pai no hospital, eu percebi que tinha que deixar toda essa mágoa para trás e ser o filho que ele precisava. Contudo, me surpreendi, pois ele foi exatamente o pai que eu nem sabia mais precisar.

Seokjin molhou os lábios com a língua, lembrando-se de como o pai ficou feliz com o cupcake e quase começou a chorar pensando em todas as vezes que deveria ter-lhe entregue um doce, mas que não foi possível. Se pudesse voltar atrás...

— Não vou me alongar muito, mas gostaria de dizer algo que escutei anos atrás: que em um velório não se discursa para quem partiu, mas sim para os familiares, amigos e todos que sentirão a dor da perda e é isso que fiz — explicou o confeiteiro. — Fui egoísta e fiz esse discurso para mim, pois preciso me lembrar que meu pai foi um homem espetacular, claro que com suas falhas e alguns preconceitos, mas ele se redimiu de tudo e isso é o mais importante para mim. — Seokjin respirou fundo uma última vez, olhando em seguida para a mulher com uma criança no colo, sentada afastada de todos. — Termino também falando para o meu querido sobrinho, Seulki, que não teve muito tempo com o avô de que se lembre do meu pai sempre com um sorriso no rosto. — O confeiteiro sorriu. — Obrigado a todos.

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