O último adeus de Andrea Sachs

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Point of view of Andrea Sachs

Dezembro

De uns dias para cá o sono anda me rondando, ando cansada por qualquer coisa que faço e às vezes nem faço nada já estou com vontade de dormir mas essa não foi a única mudança que senti nesses últimos dias, a comida de Mary que tanto amo, não consigo ver e quem dirá sentir o cheiro. Enjoos, vômitos e uma grande náusea tem me rondado também. O banheiro e o vaso sanitário foram meus companheiros nas manhãs que tenho mais enjoo e mais algumas mudanças andam fazendo parte do meu cotidiano.

Tudo isso me levaram a ficar assustada na manhã de sexta-feira passada, quando debruçada sobre o vaso, me lembrei que minha menstruação não desceu nesse último mês. Fiz contagem com os dedos, peguei meu celular apavorada para olhar a data, 14 de dezembro, droga. No mesmo dia, comprei dois testes de gravidez e ao chegar na revista fui correndo ao banheiro para fazer, dito e feito. Grávida. Ao total foram quatro listras que me fizeram bater o pé no chão de nervoso, aproveitando que estava ali no banheiro, baixei a saia e sentei no vaso. Outro sintoma que não me deixava, o xixi de minutos em minutos. Nem parece que já tinha feito xixi porque desceu uma quantidade para 5 dias. No horário do almoço fui a clinica e fiz um exame, o resultado ia saber hoje, sexta-feira 21 de dezembro.

Depois desse dia turbulento para minha cabeça, não tive mais paz. Miranda achava que eu estava com alguma virose, coitada, nunca passou por isso, Valerie acho que nunca demonstrou esses sintomas, pois sua gravidez era falsa. E Augustine, me olhava desconfiada e por muitas vezes peguei ela olhando para minha barriga.

O claridade do quarto me fez abrir aos poucos os olhos, olhei para a janela que adentrava aquela luz divina e sorri, não qualquer sorriso mas aquele que eu dei quando caiu a ficha que seria mãe, será que todas são assim quando descobrem? Primeiro o nervosismo e depois apenas um sorriso por saber que tem uma vida aqui dentro.

Ouvi o barulho do chuveiro então pude perceber que Miranda não estava mais na cama, aproveitei o momento e me virei de barriga para cima. Estava nua, outra coisa que anda acontecendo é sexo, minha libido aumentou e cada vez que vejo Miranda acabo atacando ela, o que aconteceu a noite passada, a noite toda transando.

Tirei o lençol que me cobria e minhas mãos deslizaram pela minha barriga, acariei aquele local como se estivesse fazendo carinho no meu bebê. Tremi os lábios e a emoção tomou conta de mim.

- Oi, bebê. - Sussurrei. - Sou...uma das...mamães...eu me chamo Andrea..e a outra mamãe se chama, Miranda. - Escuto o momento que o chuveiro parou, me cobri novamente e limpei algumas lágrimas que essas eram de felicidade.

Olhei para a janela novamente e o sol estava ali com a sua graciosidade, me levantei e peguei uma camisa de Miranda e me encaminhei até a janela. O outono chegou ao fim e o sol estava se despedindo para dar entrada a neve e ao frio. Cruzei os braços e fiquei olhando para o céu.

A revista ia ser lançada no Natal com Valerie como capa, queria ir tanto na festa como acompanhante de Miranda Priestly mas quem vai estar ao lado dela é Valerie. Respirei fundo. Fiz uma careta pelo meu enjoo matinal que estava vindo me dar bom dia. Respirei fundo mais uma vez e senti algo subindo por a garganta, me virei para ir correndo para o banheiro, trombando em Miranda que estava vindo em minha direção. Me joguei no vaso e fechei os olhos, o vômito veio com tudo fazendo eu suar gelado e começar a ficar tonta. Senti meu cabelo sendo erguido.

- Meu bem, você precisa ir no médico. - Ouço a voz de Miranda. Abri meus olhos e não sabia o que tinha vomitado mas não lembrava de comer algo verde.

Me levantei aos poucos, às mãos de Miranda segurando firme meus braços, apertei a válvula de descarga e fui para a pia.

- Você não devia me ver assim. - Disse a olhando pelo espelho.

Dez Invernos (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora