O fim de uma dor e o início de outra

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     Point of view of Andrea Sachs

Não conseguia me mexer ,a cada tentativa meu corpo dava sinais de desconforto e com isso um resmungo fraco saia entre meus lábios.

Onde eu estou?

Meus pensamentos me sacanearam, e fui levada aquela discussão, aqueles chutes e tapas.

Me levaram aquele homem.

Uma coisa que simplesmente nunca vou entender.

Fui abrindo meus olhos aos poucos, me acostumando com a claridade daquele ambiente no qual estava. Por sinal, um lugar claro. Olhei em volta, um pouco tonta e observei que tinha uma televisão pequena na parede, ligada em um canal qualquer e um armário de duas portas.

Eu? Eu estava deitada numa cama com um cobertor azul por cima das pernas.

Parece perseguição.

No meu dedo tinha um oxímetro e no braço o cateter, indicando um enorme soro no suporte.

Eu estava no hospital.

Mais uma vez tentei me mexer naquela cama, mais uma tentativa falha. O incômodo estava forte, só não estava pior que a dor dentro de mim.

A dor que eu achava que nunca ia passar, a dor de não conseguir mais lembrar dos nossos sorrisos, dos nossos planos. A dor de não me lembrar nesse momento do nosso primeiro beijo. Ah, se eu soubesse de tudo isso, não teria nem olhado na cara. E a dor da culpa.

Lágrimas já estavam caindo, acho que isso é a única coisa que sei fazer. Chorar, chorar e chorar. Um soluço ecoou naquele quarto, não se ouvia mais vozes na televisão. Só meu choro.

Aos poucos consegui levar minhas mãos até o rosto para abafar a tristeza que me consumia.

- Andy? - Pelo susto, acabei esquecendo da dor e movendo o braço muito rápido.

- Aiii

- Meu Deus, Andy. Cuidado. - Talvez, o ombro do dono daquela voz, seja o que eu mais precisasse agora.

Doug

- Oi. - Olhei para ele meio tímida, sentimento que não é comum entre nós, coisa que ele percebeu e tratou logo de fazer um dos seus poderes.

- Uma pergunta antes. - Ele levantou o dedo me fitando. - Por que eu não estou sabendo que a Senhorita Sachs está trabalhando para a mulher mais gostosa de Nova Iorque? - Eu sorri.

- A pergunta correta é. Como a Senhorita Sachs conseguiu um emprego numa revista de moda com às roupas que ela usa?

-Boa pergunta. - Fingiu pensar um pouco e retornou a falar. - Mas isso é o de menos, ainda mais tendo como modelo aquela senhora linda como chefe.

- E eu pensando que você fosse gay. - Fiz um semblante confuso.

- Por ela minha querida, viro até hetero. - Comecei a rir. - Mentira, pensando naquele homem maravilho que tava acompanhando ela, não viro não. - Fiquei mais confusa ainda.

- Como assim?

- Você não lembra de nada? - Neguei com a cabeça. - Depois do que aconteceu, você ligou para o Nigel e parece que Miranda estava com ele no momento.- Doug colocou suas mãos em cima das minhas em forma de carinho. - Eles foram te resgatar naquele lugar lá e te trouxeram para cá. - Ele respirou fundo, procurando palavras para aquela explicação. - Eu liguei, Andy. Liguei pro seu celular, liguei muitas vezes.- Uma lágrima insistia em cair pela sua bochecha. - Nigel atendeu e me contou tudo. Bom, eu vim pra cá, o mais rápido que pude.

Dez Invernos (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora