Antes da tempestade...

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Point of view of Miranda Priestly

O meu motorista parado em frente a Runway a minha espera, o jeito sério e disfarçadamente olhando para os lados. Só essa semana um carro preto ficava me seguindo, olhei para o lado e lá estava ele parado em frente a lancheria do outro lado da rua. Continuei meu caminhar normalmente, ao chegar próximo ao carro, Roy baixou o quepe em forma de comprimento, não fiz nada. Não podia ser vista dando um meio sorriso ou o mesmo gesto.

Entrei no carro e para minha surpresa total, Christine estava sentada no banco do passageiro com um saco de salgadinho na mão e o cheiro insuportável exalando no carro.

- Mirandinha. - Se virou para mim, estava de óculos escuros.

- Que cheiro desagradável. - Roy entrou no carro.

- Desagradável é minha barriga roncando por causa da fome. - Mostrou o salgadinho. - Quer?

- Não, linda. Não quero. - Ela revirou os olhos.

- Não sabe o que está perdendo. - Roy deu a partida e ao passar pelo o outro carro, Christine abaixou a cabeça, praticamente deitando por cima de Roy.

- Deus, Christine. - Falei.

- Eu não sou Deus, sou uma deusa. - Roy riu e a mesma levantou novamente assim que passamos do carro.

- Você está tão diferente. - Disse puxando às luvas que estava nas mãos.

- Acha que todo mundo fica igual por anos? Bem dããã mesmo. - Franzi a sobrancelha.

- Tem certeza que só foi um encontro com Augustine? - Christine apenas confirmou levemente com a cabeça. - O que você está fazendo aqui?

- Humm...- Fez sinal para esperar com sua mão suja de salgadinho. - Esse salgadinho é delicioso. - Virou seu rosto na minha direção e lambeu os dedos sujos.

- Olha, Christine se você não tivesse me ajudando e tivesse se tornando uma amiga, te mandaria para a lista negra. - Ela colocou os óculos na cabeça e de imediato deu sua resposta.

- Que nem fez com a Andrea? - Revirei os olhos.

- Eu não fiz. Tanto faz também, ninguém vai acreditar em mim. - Dei de ombros.

- Eu acredito. - Nossos olhares se conectaram mas não demorou muito, Christine virou para a frente. - Eu era uma grande detetive do FBI, dessas de ser conhecida por qualquer bandido. Um dia, presenciei um homicídio, uma mulher viciada em drogas mas boa de coração, sabe? Aquela pessoa que você se pergunta por que dela estar naquela vida?! Ela ficou devendo para os traficantes e um dia conversava com ela quando eles passaram e atiraram. Cinco tiros, um pegou de raspão em mim. - Ouvia tudo com atenção. - Eu não estava sozinha, meu parceiro estava junto e ele tinha o mesmo carinho por ela. Eu gritei que eu ia matar um por um. Não ia ficar assim. Deve estar se perguntando mas ela era uma viciada. Não me importava, queria tirar ela de lá, uma vida horrível. - Christine respirou fundo. - Passado uma semana, estava mais calma queria prender eles e não mais matar, só que meu parceiro foi mais rápido e a bala que era para pegar o traficante, pegou o filho dele.

- Uma criança? - Indagou Roy.

- Um inocente. A culpa caiu em mim porque fui eu que gritei aos quatro ventos que ia matar eles. - Sua voz começou a ficar embargada. - Meu parceiro...colocou a culpa em mim, fui expulsa da corporação e tive por muito tempo, todos os bandidos da Costa Oeste a minha caça.

- Mas não foi você... - Disse.

- Eu aceitei a culpa, porque quando só você tem voz e o resto tudo em cima julgando e falando, você começa a aceitar essa culpa. - Ela me olhou, segurando o choro.

Dez Invernos (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora