Problemas

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- Oi amor... - Disse Valerie com uma voz chorosa do outro lado da linha.

- Olá, querida. - Miranda falou respirando fundo. Os seus dedos brincavam com a cordinha do seu robbe.

- Eu esperei uma ligação sua ontem.- A editora fechou os olhos. - Esperei algum conforto...me sinto tão sozinha. - Valerie disse fungando.

- Me perdoe, querida. Como você está? - Miranda deitou a cabeça no braço do sofá.

- Eu perdi nosso filho, abortei. Como você acha que eu estou?

- Eu sei, não estou muito diferente. Não liguei ontem porque tudo estava uma confusão, ainda está.

- Uma confusão ruim ou boa? - Valerie indagou.

- Como tudo isso pode ser bom, Valerie? A sua frase ficou na minha mente, eu não consegui fazer mais nada. Eu tive que sair no meio da festa porque sua voz me avisava que perdemos alguém e não tivemos possibilidade de pegar no colo. Eu vim pra casa, poderia sim ter te ligado mas eu só queria pensar em tudo.

- É que é bem dificil ouvir isso quando nós duas sabemos que você não queria esse filho.

- Está insinuando o que?

- Eu não estou insinuando nada, cada um sabe a sua dor e a consciência que tem quando deita a cabeça no travesseiro. - Miranda respirou fundo, sabia que teria que enfrentar esse tipo de acusação.

- Vou pegar o primeiro vôo para a Califórnia, quero te ver.

- Não precisa, eu estou no hospital em observação.

- Então, eu vou Valerie. - Miranda disse, levantando rápido nem sabia o que estava fazendo ali ainda.

- Não, você não vem. Eu só estou aguardando para ver se o meu útero expulsa o resto do feto. - A editora parou na porta encostando a cabeça na madeira, sentiu seu peito apertar com aquelas palavras de Valerie. - O médico está me monitorando, de meia em meia hora ele vem aqui. Eu não quero você aqui... a única coisa que eu quero é ficar com meu luto em paz.

-Valerie..

- Assim que o médico me liberar, eu volto pra casa. - Miranda ouviu o barulho do celular indicando que a ligação se encerrou e o silêncio tinha se instalado.

Se assustou com a entrada repentina de Augustine atropelando o corpo de Miranda que estava atrás da porta.

- AUGUSTINE... - Colocou a mão na sua cabeça que tinha sido a mais afetada pela pancada.

- Mas que inferno tu está fazendo ai atrás?

- Sua querida mãe não te ensinou a bater antes de entrar? - Perguntou Miranda passando pela mais velha indo em direção a cozinha.

- Ensinou mas eu não ouvi. - Augustine caminhava atrás de Miranda, olhando a mesma pegar um comprimido para tomar. - Você já tomou remédio.

- É mas depois do que você fez, vou ter que tomar outro. - A editora pegou um copo enchendo d'água e logo após tomou o comprimido jogando levemente sua cabeça para trás.

- E eu tenho culpa, se seu ch... - Colocou a mão na boca arregalando os olhos.

- Ia falar o que Augustine? - Miranda chegou perto dela e olhou no fundo dos seus olhos . - Você tem sorte que eu a conheço e levo suas piadas para o lado, como dizem?.. Ah sim, esportivo. Só que tem certas coisas que cansam, tudo tem limite. E se eu fosse você colocaria limite na sua lingua porque está insuportável.

Dez Invernos (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora