O último toque do violino

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Point of view of Andrea Sachs

Estava com falta de ar, sufocada. Sai às pressas daquele quarto, meu salto fazia barulho no chão. Precisava desabar, os flashs daquele encontro, o primeiro dia que vi Miranda, às coisas que ela falou para mim no motel. Até chegar na cozinha, aquele filme foi passando, quando coloquei meus pés no local, me apoiei na cadeira e abaixei a cabeça.

"São gêmeos.."

Eu estava sozinha e sempre tive sozinha.

"Duas lindas ruivinhas."

Eu amei aquela desgraçada cada minuto da minha vida, todas as palavras mais verdadeiras, meu corpo e meu coração. Eu entreguei para aquela desgraçada.

Naquele momento, eu não pensei nada. A raiva tomou conta de mim, como uma tempestade que chega sem avisar com os ventos que destrói tudo e o medo vem acompanhado daquela ira.

Larguei a mão nos copos, fazendo eles voarem longe e um estouro muito forte ser ouvido.

- AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH - Gritei o mais alto que podia.

O mundo não estava preparado para me receber, eu precisava fugir, correr o mais rápido que eu podia mas minhas pernas bambearam e eu fui ao chão, me ajoelhei. Não ia conseguir, desta vez eu não ia conseguir. O cansaço se mostrou mais forte, eu tinha aguentado tanto porque eu iria desistir. Às lágrimas vieram, foi o momento mais fora de contexto que minha alma já presenciou, eu tentava respirar como se estivesse morrendo ali e não ia adiantar resistir, eu estava indo embora.

Minha mente viajava em todos os momentos que estive com ela, não parava de passar e se amanhã Miranda tirar minhas filhas de mim, e se ela... e se..

Chorava forte.

Estava fora de mim, precisava de alguém. Douglas... Douglas... Douglas.. Pensava no sorriso dele, o jeito que ele me tratou esses anos todos.. Algo ia acontecer com ele, estava sentindo algo. Precisava ver ele.

- Andrea.. - Ouço a voz de Esperanza ao fundo.

Tudo ficou calmo como se o que eu estivesse sentindo aconteceu, eu estava com ânsia de vômito.

- Douglas... Minhas filhas.. - Um aperto forte.

Mãe sente.

Mãe sempre sempre.

- O que está acontecendo aqui? - Lori disse.

Eu senti, eu senti quando ela teve a primeira convulsão.

- Ela está tendo um ataque de ansiedade.

- Douglas... - Meu ponto mais forte, eu o chamei. Precisava dele como sempre precisei.

Tudo se acalmou novamente então meu peito apertou.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH - Gritei mais uma vez.

A outra convulsão, eu estava sem ar. Não conseguia falar nada, meu peito doia. Senti alguém me puxar mas estava ali sem forças, não conseguia me mexer. Era como se fosse o som dos violinos em uma orquestra e a cada nota alta, um grito meu ao sentir uma convulsão dela.

- Ela está pálida. - Ouvi uma voz.

- Douglas...

Às notas foram ficando altas e meu ar faltando, eu senti mais uma vez.

- AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH... - Oito gritos foram contados aquele dia, oito convulsões deixaram minha filha um mês em coma.

Ouvi o toque do meu celular, meu choro veio com tudo. Ele também sentiu, Douglas sentiu quando sua afilhada caiu ao chão.

Dez Invernos (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora