Culpa

5.1K 405 112
                                    

O que fazer quando às coisas saem fora do controle? O que fazer quando parece que essa não é sua vida? Ou essa não é você? Tantas perguntas e todas sem respostas.

Tantas perguntas.

O ar estava faltando, às coisas rodaram e ela estava desconhecendo o lugar onde se encontrava. O mundo parou aos seus pés e não do jeito que estava acostumada.

Ninguém perde o que não possui. - Essa frase não faz nenhum um sentido, não na cabeça de Miranda, se ela soubesse.

Emily que estava logo atrás da chefe, viu o exato momento que a editora levou à mão no cabelo em forma de nervosismo e pelo olhar da jovem, Miranda estava branca.

- Miranda? - Emily disse erguendo a mão para encostar no ombro da editora mas parou no meio do caminho, sabendo que a chefe não gostava de contatos. Miranda levantou o olhar buscando o rosto mais que conhecido de Nigel, só não obteve sorte, voltou o seu azul para Emily que ainda estava imóvel querendo entender o que Miranda tinha.

- Mande Roy me esperar atrás do Teatro, estou saindo. - Emily acostumada com as ordens da editora e sabendo também que Miranda não ficava muito tempo em festas, chegou a estranhar o tanto que a mais velha ficou. Acenou com a cabeça em positivo e ligou para Roy atendendo de imediato o pedido.

- Miranda, Roy está aguardando. - A mais velha acenou em positivo.

- Avise, Nigel da minha saída e diz que preciso dele na minha casa amanhã cedo. - A mais velha saiu sem olhar para ninguém, jornalistas tentaram parar ela pelo caminho mas não tiveram chance. A mais velha se direcionou a saída, não vista mais.

A noite estava fria, o vento assobiava, Miranda entrou no carro, não demorando muito para seu motorista partida.

Eu perdi o nosso filho.

Miranda, colocou a mão na boca em forma de surpresa para isso que acabou de acontecer, o destino só podia estar de brincadeira. Às luzes da Times Square refletiam pelo carro, o trajeto poderia ser complicado, ainda mais com a voz de Valerie perambulando na sua mente.

Eu perdi o nosso filho.

Às luzes do Centro que dava um toque especial em NY, foi dando lugar às casas de bairro, crianças brincando e até fazendo seus bonecos de neve. O medo de não ser uma boa mãe, deu lugar a culpa.

A culpa de não ter aceitado a gravidez. A culpa de não estar sendo uma boa esposa e até a culpa de mandar alguém seguir Valerie.

Fechando os olhos e respirando fundo, Miranda pegou seu celular, não tinha mensagens ou ligações.

A culpa de não estar presente nesse momento dificil para a Valerie.

Discou o número da esposa para ligar mas desistiu na mesma hora, não sabia às palavras certas, não saberia como agir e estava com receio de Valerie despejar toda aquela culpa que a mais velha já estava sentindo.

Olhou de volta pela janela, o carro agora na sua rua, uma rua monótona. A editora colocou a cabeça no vidro.

Culpa por algo que não aconteceu.

O carro parou em frente a mansão, a editora nem esperou por Roy, saiu o mais rápido que pode. Só queria acordar desse pesadelo.

O pior dos pesadelos.

Miranda entrou em casa, retirou seus sapatos e o xaile na entrada, caminhou até a escada e no primeiro degrau ficou indecisa sobre ir para o quarto e remoer a culpa em um banho ou ir para o seu escritório e remoer a culpa bebendo do seu melhor whisky.

Dez Invernos (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora