Dez Invernos (Mirandy - Intersexual)

Um Novo Caminho

     Point of view of Andrea Sachs

Os dias se passaram lentamente, não tinha lugar na casa de Doug que eu não conhecesse. Por último, aqui estou eu deitada no chão da sala, olhando o teto branco e perguntando o por que dele não ter cor? Ser opaco? Não ter vida. Alguns diriam que passei esse final de semana bebendo e nesse exato momento uma garrafa de whisky me acompanhava nessa loucura mas não. Primeiro que não posso e segundo, isso foi às consequências das ampunhaladas que levei.

Fechei os olhos, não tinha mais lágrimas. A fonte secou, o que ficava martelando na minha cabeça eram às palavras. Elas flutuavam e volta meia se misturavam com momentos felizes que tive esse ano ao lado dela.

Miranda Priestly.

- Mirandy. - Sussurrei e por um descuido sorri.

- Esse foi o nome que dei para o meu casal mas quer saber, você vai achar uma pessoa que mereça essa mulher linda, inteligente, animada e me desculpe falar mas muito da gostosa. - Gargalhei. - Você vai esquecer essa bruxa. - Abri meus olhos e o encarei, Douglas estava sentado no sofá ao meu lado. Passei o final de semana todo agarrada a ele e como um grande amigo que é, não me soltou por um minuto. Runway estava parada por causa do natal e amanhã ia ser a festa do lançamento da Prada.

- Não tem como esquecer, se eu carrego um laço que nos une até a morte. - Coloquei às mãos na minha barriga.

- Chega pra lá. - Disse se levantando e logo após deitando do meu lado. - Você ama ela né? - Virei meu rosto para ele.

- Amo...mas depois das coisas que ela me disse... - Voltei meu olhar para o teto.

- Você continua a amando.

- E o Nigel? - Indaguei, mudando o foco.

- Não o procurei, acho que depois disso tudo não tem mais clima.

- Doug...

- Não, Andrea. - Nossos olhos se encontraram. - Só você acha que vou frequentar a casa dela depois do que fez. Aquela arrogante, prepotente, mesquinha, nojenta...

- Que isso? - Comecei a rir novamente.

- Está rindo mas é sério, vou sair da revista também. - Fechei na hora meu semblante, levantei rapidamente.

- Não vai fazer isso. - Doug sentou, seus olhos curiosos na minha direção. - Eu não vou deixar, está me entendendo? Não vai estragar sua vida por minha causa. Promete... - Minha respiração começou a falhar e meu coração bater acelerado.

- Andy??

-Promete, Douglas. - O mesmo se levantou e veio na minha direção, me abraçou apertado.

- Prometo, meu bem.

- Não me chama assim. - Ela apenas ela.

- Desculpe. Eu prometo que vou ficar naquela revista maldita. - Ficamos abraçados por um tempo, Doug se afastou um pouco. - Como vai ficar agora?

- Não sei.

Por mais que eu tentasse ser forte, tinha problemas ainda pela frente além do bebê que carregava. Meu emprego naquela revista, era um deles.

Doug beijou minha testa como sinal de que no final ia ficar tudo bem, eu não estava sozinha.

- Está com fome? - Neguei. - Mas vai comer alguma coisa, onde é que se já viu carregar meu afilhado e não comer nada. - Ele parou na porta e me olhou triste. - Pareço Augustine falando.

- Parece. - Devolvi o mesmo olhar.

Nunca sabemos o que vai acontecer daqui a uma hora, quem dirá a dez anos. Ali naquela sala, eu tive a certeza que estava perdida, o meu destino já não era o mesmo. Às coisas vão mudando e aquilo que achavamos certo antes, hoje já não tem importância.