Passo a minha manhã enfiada dentro da maior loja de móveis e decoração de Chicago, encontro boas peças que coincidem com o que meus clientes pedem, obviamente eu invisto também em peças de artesões famosos, dependendo do orçamento que me é liberado, mas consigo fazer milagres com peças produzidas em larga escala, é um dom.
Eu preferiria almoçar no Domas, ou no LaFount que não está muito longe, mas o cliente havia marcado num bistrô intimista demais para se fazer negócios. Chego com dez minutos de antecedência, e por não ser nem onze horas ainda consigo estacionar na porta, desço do carro já reparando na decoração externa, é bonita, um trabalho do Heyer, creio eu, ele é um designer conhecido por montar ambientes ecléticos, não é o meu favorito, mas ele o faz bem.
Entro e escolho uma das mesas ao lado da segunda janela que está aberta, iluminando bem o ambiente. Na mesa de dois lugares a minha cadeira de metal é azul e a outra é de madeira robusta feito um trabalho de pintura amarela desgastada. É um lugar planejado para pessoas com menos de 30 anos, combinando com o perfil jovem das Startups localizadas aqui por perto.
Um garçom logo aparece para me atender, e antes que ele pergunte qualquer coisa eu informo meu nome e aviso que irei pedir assim que meu acompanhante chegar. Abro a bolsa e pego meu tablet e abro a pasta que a Jane criou para o novo cliente: Chris Willmann.
Jane é uma boa estagiaria, faz aquilo que eu mando sem questionar, a única coisa que me incomoda nela a terrível cara de sonsa, do tipo que te faz querer bater palmas para ver se ela acorda.
Dou um pulo sobre minha cadeira ao ouvir a da frente se mover, levanto a cabeça e encontro um par de olhos castanho claros emoldurados por abundantes cílios claros me encarando, há ruguinhas se formando ao redor deles, esse filho da puta está segurando o riso.
— Senhorita Alyson? - Ele pergunta devagar, como se sua língua acariciasse cada letra antes de dizê-la.
Puxo uma lufada de ar pela minha boca já aberta, e apenas balanço a cabeça concordando, me sinto uma pária ao perder o controle da situação, nunca fui recatada, e não sei porque meu cérebro não está respondendo como deveria.
— Prazer em conhecê-la, sou o Senhor Willmann. - Diz ele ainda abusando daquela voz terrivelmente rouca e cálida, não que ele pareça um fumante, seus dentes são irritantemente brancos e alinhados. — Mas pode me chamar de Chris. - Ele estende a mão sobre a mesa.
Eu a aperto no automático, pelo menos meus reflexos corporais estão respondendo adequadamente. Sua mão grande cobre a minha por inteiro, ele tem dedos longos e palmas macias, julgo que suas mãos são quase tão bonitas quanto seus olhos.
Ao soltar a minha mão, ele leva a dele até o cabelo, jogando para trás uma mecha cor de ouro envelhecido que caia sobre sua testa formando um espesso cacho.
Pisco algumas vezes até conseguir focar meus olhos em outra coisa que não seja ele, escolho um ponto acima do seu ombro, assim parece que estou olhando para ele mesmo sem o fazê-lo.
— É um prazer lhe conhecer, Chris. - Digo grata por ter recuperado minha capacidade de falar, mas minha voz está sedutora como a de uma gata ronronando, geralmente só falo assim quando quero estou fodendo para saciar meu monstro interior, mas pelo visto meu cérebro ainda está agindo por vontade própria. — Podemos falar sobre o seu projeto antes de pedirmos algo?
— Claro, você é quem escolhe, Katy. - Ele pisca, talvez para parecer camarada, mas só deixa ele mais sexualmente atraente.
— Senhorita Alyson, por favor. - Digo querendo me manter profissional, e além disso não somos íntimos.
— Tudo bem. Mas ainda prefiro Katy... é um nome quente.
— Obrigada. Então, no que eu posso lhe ajudar? - Pergunto ignorando a cantada óbvia.
— Tenho uma cobertura na Gold Coast, faz alguns meses que me mudei e praticamente joguei as caixas no chão e tenho vivido assim desde então, ainda não se parece com um lar.
Meu orçamento será grande, não é qualquer pessoa que mora na Gold Coast, decorei um apartamento de uma amiga da Carmen lá, geralmente eles contratam pessoas referência na área, e a Candy's é nova no mercado.
— Isso é bom, prefiro trabalhar em telas brancas onde a pessoa ainda não se apegou aos antigos papéis de parede. - Por isso era um saco trabalhar com pessoas idosas, eles amam tudo na casa antiga, e querem que a nova se pareça com a velha e eu fico com a criatividade limitada. — Você tem algum estilo em mente?
— Não, nenhum. Mas gosto de ambientes claros, que aproveitem o máximo da luz e sejam funcionais.
Digito no tablet as recomendações dele, agora há um ponto de partida.
— O senhor possui algum hobbie? Muitos dos meus trabalhos são inspirados em hobbies, navegação, balé, culinária. - Enumero lhe dando exemplos para traçar o seu perfil.
— Eu jogo hóquei... e pinto de vez em quando. - Ele completa após um tempo, como se tivesse em duvida sobre partilhar aquilo comigo. — Acho que esses são os hobbies mensuráveis. - Ele comenta com um sorriso formando no canto dos lábios rosados.
— Mensuráveis? - Estreito os olhos, eu possuo um hobbie imensurável, mas qual poderia ser o dele?
— Todos nós temos nossos esqueletos no armário.
Concordo balançando a cabeça, ninguém no mundo entende mais do que eu sobre esconder algo que gosta de fazer.
— E algum desses hobbies que não podem ser mencionados devem entrar na decoração?
Uma risada rouca escapa por seus lábios finos.
— Não, senhorita Alyson. Não tenho interesse que os outros vejam o imensurável no meu apartamento, mas posso te mostrar, só para você.
Olho no fundo dos seus olhos brilhantes, ele parece estar flertando comigo, mas sua escolha de palavras diz que há algo além disso. Estou tentada a mandá-lo a merda por ousar me seduzir, mas sou uma curiosa de nascença, o que ele pode querer me mostrar?
— E o que faz te crer que eu quero ver? - Pergunto enquanto analiso sua expressão, tentando captar uma falha sequer.
— Algo me diz que você é diferente. - Ele cruza os braços sobre o peito marcado pela camisa social justa. — Do tipo que não se assusta fácil.
— Nisso você tem razão. - Concordo abrindo o meu melhor sorriso.
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomanceEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...