Ash

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POV KATY

Alguma coisa molhada caindo em meu nariz me desperta do estranho sonho, onde caminho por uma avenida completamente nua e coberta de sangue espesso e fresco. Abro os olhos e vejo um pequeno par de olhos verdes com um risquinho preto no meio me encarando, a coisa molhada no meu nariz é a língua áspera de filhote de gato preto com os pelos espevitados.

— Chris! - O chamo me sentando no colchão.

O bichano dá uma corridinha e sobe em minha coxa desnuda, o pego nas mãos, ele mal tem quinze centímetros e não pesa nada.

— O que foi?

Chris aparece na sala vindo do corredor com um monte de gravatas penduradas no braço. São gravatas horrorosas diga-se de passagem. Diferente de mim ele já está vestido, usando jeans e uma camiseta preta, seus cabelos estão molhados formando cachos sedosos, com certeza tomou um banho enquanto eu mofava no colchão da sala.

— Ahm... estou separando para doar. - Explica ele ao ver minha expressão.

— Entendi. - Murmuro. — Não me diga que esse gato também estava no meio de suas bagunças? - Pergunto me levantando e mostro a ele o gato repousando nas minhas mãos reunidas em concha.

— Isso faria mais sentindo se fosse um rato. - Ele estreita os olhos e eu estremeço enojada de imaginar uma ratazana lambendo meu nariz. — O encontrei quando saí para comprar umas coisas.

— Você saiu?

Estou surpresa, realmente devo ter dormido como uma pedra, mas também estava esgotada depois de um dia inteiro sendo fodida em todos os cantos desse apartamento.

— Fui comprar comida e uns sacos para colocar as roupas que vou doar. Daí acabei encontrando ele na calçada, deve ter se perdido da ninhada.

— Ai tadinho! - Sussurro o apertando contra o peito, ele ronrona provocando um tremor engraçado sobre minha pele.

— Mais tarde o levarei para o centro de zoonose. - Ele dá de ombros. — Tem leite na geladeira, dá um pouco para ele. - Diz Chris voltando para o corredor.

— Espera! - Peço indo atrás dele, levando comigo o gato. — Não é nesse lugar que eles matam os bichinhos e dão para os animais do zoológico comer? - Pergunto para suas costas enquanto ele vai em direção ao quarto.

— Isso é lenda urbana, Katy. - Responde ele se virando. — Tá com pena do gato? - Ele arqueia a sobrancelha clara para mim, parecendo realmente surpreso.

— E você não? - Devolvo espantada. — É um bichinho indefeso. - Digo ainda sentindo o calor dele irradiar contra meu peito. — Vou ficar com ele antes que o façam de ração para ursos.

Chris abre a boca e pisca algumas vezes, soando meio abismado com meu comportamento.

— Tá! Isso me deixou mais chocado do que qualquer coisa que você tenha feito desde que eu te conheci. Katy a salvadora de gatinhos indefesos. - Zomba ele com um tom risonho.

— Engraçadinho! - Rolo os olhos. — Não liga para ele. - Murmuro para o pequeno bichano.

— Dizem que gatos pretos dão azar.

— Pois os acho lindíssimos. Vamos escolher um nome para ele. - Digo passando a sua frente, indo em direção ao quarto, afim de pegar uma de suas enormes camisetas para vestir. — Nunca tive um bichinho, o que você acha de Ashes?

— Acho que ele é preto e não cinza. - Murmura às minhas costas.

— Hmn! Acho que Ash combina melhor e é unissex. - Miro sua pelagem preta, ele fica bem com esse nome, é distinto.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora