Comida Italiana

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P.O.V KATY

Chris não me ligou dentro de 24 horas, após eu ter saído de fininho enquanto ele dormia. Considero isso como um bom sinal, não passou de um sexo casual e assim não preciso temer que ele fique no meu pé.

Próximo a hora do almoço me dirijo para o seu apartamento depois de sair da academia, com os cabelos ainda molhados pela ducha no vestiário, usando jeans e uma regata branca de um tecido quase transparente, estou normal e profissional. Assim que a recepção autoriza minha entrada subo pelas escadas, estou sóbria e bem, não preciso encarar aquele elevador panorâmico outra vez.

Felizmente tenho uma vida ativa, ou jamais conseguiria subir até a cobertura sem ficar suada e ofegante. Toco a campainha de seu apartamento, e enquanto espero abro a bolsa para verificar se estou com meu tablet e celular. Chris abre a porta e agradeço aos céus por ter ido embora ontem antes dele acordar, pois a visão deste homem com cara de sono, cabelo bagunçado e usando calça de moletom pendendo nos quadris estreitos, é demais para mim.

O próprio demônio da tentação, fazendo minha boceta ainda assada ficar úmida por ele.

— Bom dia, senhor Willmann. - Digo cordial, e abro um leve sorriso sem um pingo de malícia. — Sei que não marcamos hoje, mas preciso aproveitar a brecha na minha agenda para começar a fazer os orçamentos.

Ele me olha de cima a baixo, parando brevemente para encarar meus seios, que começam a marcar na blusa, e por mais que eu tente controlar, os mamilos ficam rijos levantando o tecido. Chris estreita os olhos e coça a barba clara por fazer.

— Bom dia, Katy! - Sua voz soa rouca e sonolenta, mas ainda tem aquele toque de humor malicioso ao fundo. — Você é sempre bem-vinda.

Entro assim que ele dá passagem para mim, seu apartamento parece mais assustador do que eu me lembrava. Há tanta bagunça que me sinto numa cena dos ''maníacos acumuladores''.

— Isso tem uma explicação. - Diz ele assim que tropeço numa caixa de pizza.

— Não precisa me explicar, estou aqui para tirar medidas e criar uma perspectiva de por onde começar. - Digo girando sobre os saltos, para ficar frente a ele. — Me mostre todos os cômodos, se possível.

— A sala você já conhece bem, não é? - Ele pergunta com cinismo.

Ignoro sua observação, quando ao fato de termos feito sexo sobre o colchão no chão de sua sala de estar.

— Podemos começar pelos quartos? - Pergunto e ele concorda balançando a cabeça.

Os dois quartos são um empoleirado de caixas, sem móvel algum, pintados em um off-white que seria agradável se tivesse algum outro tom para contrapor. O closet dele parece o resultado de uma loja após a black friday, roupas emboladas e caindo dos cabides, misturadas aos sapatos, sinto uma leve dor de cabeça ao observar o desmazelo dele.

Um dos tênis cai da prateleira superior do closet me fazendo dar um pulo ao atingir o chão perto dos meus pés.

— Acredite ou não, eu não deixei ir bagunçando até chegar nesse estado. Apenas trouxe tudo da meu outro apartamento e joguei aqui. - Diz ele ao pegar o tênis e enfiar na prateleira outra vez. — A não ser pelas embalagens na sala, mas eu as levo para o lixo do saguão duas vezes na semana.

Estamos tão próximos que tenho de levantar o rosto para conseguir ver seus olhos, inalo discretamente o seu cheiro de homem misturado a colônia cara.

— Realmente, é horrível ter que organizar as coisas pós mudança. - Digo sem julgá-lo, afinal fui contratada para dar um jeito nisso.

— Eu não estava ligando muito para como as coisas se pareciam nos últimos anos. Agora estou com vergonha de ter te chamado aqui sem arrumar isso antes. - Ele abaixa o tom de voz ao admitir isso, imprimindo sinceridade em suas palavras.

Seus olhos dourados estão dóceis, sem segundas intenções, me lembrando de quando o comparei com um cachorrinho ao conhecê-lo. É a primeira vez que um homem parece constrangido por algo que fez na minha presença, pelo visto, minha opinião sobre o seu comportamento é importante.

— Bom, estou aqui para dar um jeito nisso. Não, é?

— Com certeza! - Ele concorda abrindo um sorriso.

Os banheiros estão limpos, mas não há nada demais neles, ainda é a decoração geral do prédio, sem alteração alguma. A cozinha tem inúmeros armários vazios e uma enorme geladeira preta, combinando com a ilha central equipada apenas com um fogão. O que me salta aos olhos é o terraço, ao leste consigo ver o lago, e ao oeste toda a cidade, é uma visão indescritível.

— Comprei justamente por causa dessa vista. - Diz ele se encostando ao meu lado no parapeito. — É linda, não é?

— Esplêndida. - Murmuro. — Posso fazer um ótimo trabalho paisagístico aqui.

— Sinta-se a vontade.

Voltamos para o interior do apartamento, me sento em uma das duas únicas banquetas da cozinha e ele se senta ao meu lado. Começo a fazer anotações rápidas no tablet, tudo que pergunto a ele, recebo em resposta ''faça como quiser''. A únicas restrições dele são quanto as cores e a funcionalidade do espaço.

— Garanto que farei um ótimo trabalho. - Digo a ele ao desligar o aparelho, após ter anotado tudo o que precisava.

— Não duvido. Só gostaria de saber como irá incluir detalhes daquele nosso passeio na decoração.

Sei que ele está falando da nossa visita à Woustters, e realmente tenho algumas coisas em mente, mas prefiro fazer uma surpresa na entrega do apartamento.

— Ainda essa semana, o meu pessoal virá preparar o apartamento para que eu possa começar. Me ajudaria bastante se você separasse o que usa nesse monte de caixas e o que pode jogar fora.

Ele respira fundo, então joga a nuvem de cachos loiros para trás.

— Vou alugar uma garagem e enfiar tudo lá. A única coisa que uso são minhas roupas.

— Tem certeza de que não quer dar uma vasculhada no que trouxe do outro apartamento?

Já conheci pessoas desapegadas, mas ele parece ter ânsia em se livrar de tudo o que está aqui.

— Acredite, se pudesse mandaria tudo isso para o inferno junto com os últimos anos da minha vida.

— Entendo. - Digo com sinceridade. Também gostaria de mandar algumas coisas da minha vida para o inferno. — Acho que já vou indo. - Murmuro ao guardar o tablet na bolsa.

Tenho que me resguardar e manter nossas conversas sempre no lado profissional.

— Almoça comigo. - Ele pede assim que me levanto.

Droga! Não quero que isso vire mais do que uma visita de negócios, mas algo nesses olhos dóceis me convencem do contrário. Acho que prefiro quando ele está bruto e safado, assim consigo competir em pé de igualdade, porque não tenho armadura contra pessoas boas.

— Onde? - Pergunto imaginando como ele vai cozinhar nessa cozinha escassa de ingredientes.

— Aqui. - Ele dá de ombros. — Peço comida para nós.

— Gosto de comida Italiana. - Digo sem resistência alguma.

— Isso é um sim? - Ele arqueia a sobrancelha me encarando com dúvida.

— Isso é: se você pedir comida italiana, eu fico.

Seus lábios se abrem num sorriso torto e ele balança a cabeça.

— Comida Italiana, então.

— Comida Italiana, então

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Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora