P.O.V KATY
Entro no apartamento e sou recebida pela minha bolinha de pelos que mia a toda altura até eu pegá-la no colo.
— Eu sei, também senti saudades suas. – Digo a apertando contra o peito. — Bom dia, Alba! – A cumprimento ao vê-la organizando os armários da cozinha.
— Bom dia, senhorita. – Ela desce da pequena escadinha de metal e pega uma pilha de envelopes sobre o balcão. — Busquei suas correspondências na portaria hoje cedo.
— Obrigada! – Agradeço pegando-as em suas mãos. — Vou sair daqui a pouco, mas deixe algo preparado para o jantar.
— Sim, senhora.
Subo as escadas levando Ash comigo, e a coloco sobre a cama junto com os envelopes, pego o maior deles, num tamanho A4, como o selo de Nova York, é uma revista de decoração que eu assino e todo mês recebo um exemplar com as novas tendências. Vou para o banheiro, pretendo lê-la enquanto tomo um banho de espumas que tire toda a fina areia do meu cabelo.
Enquanto folheio a sessão de paisagismo para o verão estremeço ao sentir a pontada de dor familiar no ventre, menos uma preocupação para mim, não estou grávida mesmo após tantas transas sem preservativo. Agradeço silenciosamente mesmo odiando esse período do mês e tudo o que ele traz.
Trabalho o resto da manhã no escritório, finalizando o que ficou do dia anterior, quando termino solicito que a Jane marque todas as visitas de avaliação até sexta, pois a partir de segunda estarei dedicada exclusivamente a executar o projeto do Pedro.
Pulo o horário do almoço e vou para a minha loja favorita, escolhendo todos os itens que selecionei para montar o apartamento. Sempre dou o meu melhor em cada trabalho que faço, mas dessa vez sinto uma necessidade íntima de agradar, quero que ele veja que eu sou excelente naquilo que faço e que me admire por isso. É uma necessidade patética demais para que eu assuma em voz alta, então a guardo no fundo da mente desejando que ela suma.
Desde que conheci a Carmen tenho uma ótima vida, divertida e com acesso a todos os prazeres que o dinheiro pode pagar. Viajei para vários lugares, fui a festas, investi na minha carreira e tenho um bom apartamento, mas a sensação de vazio que há em mim desde garotinha nunca foi preenchida com essas coisas. Permanecia lá, um buraco escuro que todos os dias eu tentava cobrir fazendo coisas que são sonho de consumo para a maioria das pessoas e de nada adiantava. Me assusta agora não sentir esse buraco tão vazio, é como se ele estivesse começando a cicatrizar de uma hora para outra, depois de tantas tentativas em vão. Não quero me acostumar com a sensação, ele pode abrir novamente e vai doer mais, uma vez que eu já sei o quão bom é quando ele está curado.
Meu celular toca quando já estou no caixa finalizando a compra, termino de passar o endereço de entrega para o vendedor antes de atendê-lo. É o contato da Ingred, é raro ela me ligar então fico levemente preocupada.
— Querida, está tudo bem? – Pergunto.
— Sim, estou ótima. – Ela responde com a mesma vivacidade de sempre. — Liguei para saber como você está, já que não aparece na Woustters há semanas.
— Tenho andando meio ocupada.
— Hmn! – Ela murmura parecendo desconfiada. — E sua ocupação tem mais de um metro e noventa e cabelos loiros?
Rio ao telefone, então ela havia me visto com o Pedro aquele dia, que até então se chamava Chris.
— Pode-se dizer que sim. – Respondo passando a bolsa sobre o ombro para sair da loja.
— Que ótima ocupação, então. – Ela ri. — Perdi dois ótimos sócios de uma vez só.
Não sei o que dizer. Eu não havia ido a Woustters desde que o conheci, e agora estamos tentando ter algo juntos, mas nunca discutimos sobre fidelidade. Sei que no passado isso foi um problema para ele, se ainda for, eu não serei fiel sozinha, então poderei frequentar a Woustters outra vez.
— Ah, Ingred! Com certeza nos veremos ainda, Chicago não é tão grande assim. – Contorno a situação de uma maneira evasiva.
— Claro! E logo chegará para você o convite da minha festa de renovação de votos.
Já acho loucura se casar uma vez, imagina ficar renovando o compromisso de tempos em tempos.
— Obrigada, querida. Pode contar com a minha presença.
— Fico feliz que esteja bem, Katy. Tenho que desligar, os negócios me chamam.
— Até breve!
Guardo o celular na bolsa outra vez e faço uma anotação mental para tocar nesse assunto com o Pedro.
Vou a academia e participo da aula de dança do final da tarde, Maite me cumprimenta com um sorriso dessa vez, o que é bem estranho, já que sempre ignoramos a presença uma da outra. Saímos juntas e vejo ela ir em direção a uma viatura de polícia, onde um loiro dos olhos verdes está a esperando usando farda policial, ele a beija e depois dá um thauzinho para mim. Concluo que eles devem saber que o Pedro e eu estamos ficando, e agora serei obrigada a tratá-la com mais amabilidade.
Me sinto bem por conta do meu dia produtivo, quando chego em casa coloco para esquentar o risoto que a Alba preparou e abro uma taça de vinho, pronta para curtir minha própria companhia, que não parece mais tão chata depois de tudo que aconteceu nos últimos dias. Como na cozinha mesmo, escutando um pouco de música pop, depois me dispo aproveitando que estou sozinha e jogo minhas roupas na lavanderia antes de subir nua para o quarto.
Lembro de abrir as outras correspondências que ignorei pela manhã, contas na maioria, convites para eventos de decoração e por último um envelope pardo sem remetente. Dentro há algumas fotos, as despejo sobre a cama e meu coração se acelera quando vejo as imagens do dia de ontem estampadas nelas. Pedro e eu na praia, deitados na areia, ele passando protetor em mim, nós dois dentro do lago...
Atrás de uma delas está escrito de canetão preto em letras garrafais "eu vi".
3 capítulos de uma só vez! Comentem se puderem.
Eu amo o fato de que paz é uma coisa que não existe nesse livro kkkkk
Beijos da Fany!
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomanceEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...