É difícil perdoar

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P.O.V Katy

Consigo sentir as gotas geladas do meu suor escorrendo pelo meu rosto, até serem substituídas pela sensação da palma de uma mão, primeiro tocando minha testa, depois as bochechas e os lábios entreabertos, ressecados demais por eu estar respirando pela boca.

Não consigo abrir os olhos, apenas suspiro e murmuro algo que nem eu mesma entendo. Está tão frio que me encolho numa bola, imagino que eu esteja sobre o sofá ou a cama, mas não sei como cheguei até aqui. Provavelmente foi o Pedro que me carregou, se é que era ele na porta, não seria a primeira vez que eu tenho uma alucinação durante esses dois dias.

Escuto um zumbido ao longe, parece com o barulho de uma chaleira, espero que não seja a Alexia com seu chá e muffins, apesar de gostar deles, a leve lembrança do cheiro faz meu estômago se agitar agora.

— Katy. – A voz rouca que reconheço de imediato parece preocupada. — Você está me ouvindo?

— hmn. – Meu murmuro se parece mais com o lamento de um moribundo.

— Você precisa de um banho frio, meu bem.

— Frio? – Pergunto em tom de reclamação, ele só pode estar querendo me matar. Já estou congelando. — Eu quero dormir, Pedro.

— Você vai poder dormir depois que tomar o banho e comer algo. – Ele fala com a voz doce demais, como se tivesse se dirigindo à uma criança rebelde que recusa a escovar os dentes antes de dormir.

— Comer não. – Resmungo enquanto ele me levanta nos braços e meu corpo se comporta como uma gelatina escorrendo por entre os dedos.

— Comer, sim. Você parece que não come há dias.

Até tentei comer na manhã de ontem, mas alguns minutos depois estava jogando o pão com pasta de amendoim no ralo da pia.

Não sei como, mas ele consegue subir a estreita escada do meu apartamento me carregando no colo, mais uma habilidade para colocar na extensa lista dele.

— Katy, eu preciso que você se apoie na pia, para que eu possa tirar a sua camisola. – Ele pede antes de me ajudar a fica de pé.

Meu corpo vacila, os ossos das minhas pernas mais parecem canudinhos dobráveis lutando com a pressão de ficarem de pé. Seguro no mármore da pia e finalmente abro os olhos, a mulher que me encara no espelho é horrorosa. Sou um cadáver ambulante de cabelos vermelhos um tanto quanto ensebados e olheiras de panda.

— Credo. – Digo para mim mesma.

Não acredito que deixei ele me ver assim, se depois disso o Pedro continuar se sentindo atraído por mim, é um milagre do qual não sou digna.

As mãos dele seguram as laterais da camisola vermelha com cuidado, e a puxa para cima, a seda facilita bastante o trabalho, deslizando sem criar empecilhos.

— Consegue se segurar? – Pedro pergunta e eu concordo com a cabeça. — Ótimo! Vou ligar a banheira.

Ele se afasta e eu me permito observá-lo discretamente pelo canto do olho. Seus cabelos loiros estão soltos, e as pontas dos cachos tocam os ombros, ele me lembra um cavaleiro medieval, só que usando o uniforme preto e justo da polícia de Chicago.

Eu gosto dele, acho que mais até do que gostei da Carmen, não é amor, mas me importo com ele o bastante para lhe querer bem. Foi por isso que me afastei, eu queria que ele se recuperasse, olhando agora, Pedro parece infinitas vezes melhor do que eu. Não posso arrastá-lo comigo para o meio dessa merda, não é justo com alguém que ainda está enfrentando os próprios demônios.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora