— Ana, querida. ➖ Respondo com um tom amigável, mas reviro os olhos sabendo que ela não pode me ver. Insuportável do cacete!
— Katyyy. ➖ Ela diz prologando a última silaba, como uma débil. — Queremos a sua presença na Woustters esta noite. Laurent quer lhe inserir no nosso novo círculo.
Os círculos da Woustters... nada mais eram do que grupos de pessoas que elaboravam um novo modo de partilhar prazer, o último círculo que ela me colocou era composto por pessoas aficionadas por roupas de couro, foi uma experiência SUADA.
— Sinto muito, Ana. Já fiz planos para hoje. Irei sim a Woustters, mas para fazer outra coisa. ➖ Dou uma rápida corrida até a porta do carro ao ver um rapaz com uma feição suspeita, estamos em Chicago, não se dá para confiar em ninguém.
— Hum. ➖ Ela murmura. — Ok. ➖ Ouço ela falar algo com alguém. — Katy, se lembra da minha sogra, Susan?
Não, eu não me lembro.
— Claro. ➖ Minto enquando abro a porta do carro. — Morreu?
— Não tenho tanta sorte assim. ➖ Gargalha escandalosamente. — Ela me colocou como membro daquela associação de damas de Chicago, segundo a velha eu consegui provar que tenho uma boa moral e preso pelos costumes.
— Uau. ➖ Murmuro sem saber o que dizer, a velha devia ter alguns parafusos a menos. Ligo o carro e sigo rumo ao meu próximo compromisso.
— Posso me tornar a presidente, mas para isso tenho que ter um filho antes. ➖ Respirou fundo, filhos eram um assunto sério para ela e Laurent, ele não queria ter.
— Querida, terei que desligar, estou dirigindo. ➖ Paro no sinal vermelho ao final da rua.
— Ok, beijinhos. ➖ Diz e eu desligo o celular, o jogo sobre o banco do passageiro.
Tchau loira chata.
Eu não sou falsa... um pouco, talvez.
A Ana é extremamente insuportável, aquele tipo de pessoa que gruda feito um chiclete. A vida dela parece a história de um livro clichê, a família de classe alta e herdeira de um sobrenome poderoso, a fez se casar com o Laurent antes mesmo que ela completasse os dezoito anos, desde então vive trancada dentro de casa, completando quase dez anos de casamento, ou seja, dez anos de cárcere... a mercê de um marido um tanto quanto exótico. Digo isso porque conheço sua reputação na Woustters.
Acelero assim que o sinal torna-se verde.
Entendo que ela é solitária e foi obrigada a amadurecer cedo demais, porém não sou obrigada a me tornar amiga dela. Somos conhecidas, no máximo colegas.
Uma vez ou outra eu consigo me permitir a partilhar esse sentimento de amizade com alguém, é uma coisa rara, somente Carmen e Roberta se mostraram dignas da minha confiança. Não é algo muito recomendado, pessoas que têm muito a esconder como eu, não podem criar vínculos fortes e duradouros.
Mantenho uma mão no volante enquanto a outra vasculha a bolsa em busca da minha agenda, a encontro e folheio até a folha em que anotei o endereço dos Lerman.
Leio brevemente, ciente que nesta parte da cidade câmeras filmam motoristas infratores.
Meu destino não está muito longe, me recordava que ficava na região leste, mas a rua havia esquecido.
Teclo os botões no volante, ligando o rádio. Está na mesma estação de sempre, começo a cantarolar a música que toca nos auto-falantes.
Passo em frente a uma praça e meus olhos se fixam nas costas suada de um homem que caminha na pista de Cooper. Sua calça de moletom cinza pende nos quadris, revelando o elástico da cueca, meus dedos coçam quando imagino-me apertando a carne firme daquele maravilhoso traseiro.
Me delicio com aquela imagem até perceber que devo virar na próxima esquina. Após alguns minutos chego na casa e respiro fundo algumas vezes até apagar o fogo que se acendeu dentro de mim.
Desço do carro, aciono os alarmes e observo o local. É uma casa antiga, pintada em um tom creme, e descascando em alguns lugares, há infiltrações no rodapé, onde trepadeiras começam a subir na parede.
O jardim está mal-cuidado, mato selvagem deixa o local com uma aparência de casa abandonada. Caminho sobre as pedras que não foram cobertas pelo matagal, e consigo chegar até a porta. Seguro a haste de ferro sustentada pelo nariz de um leão de cobre, e bato com ela contra a madeira.
Em alguns segundos um homem abre a porta.
— Senhorita Alyson? ➖ Pergunta parecendo estar desconfiado, como alguém que fez algo errado e não que assumir.
— Sim. ➖ Estendo a minha mão para aquele homem bonito.
— Sou Michael Lerman. ➖ Aperta minha mão com seriedade. — Entre. ➖ Pede e se afasta da porta.
Dou uma última olhada nele antes de entrar, é um homem bonito, creio que tem quase sessenta anos, devido os cabelos grisalhos e as marcas de expressão envolta dos olhos. É alto, e veste um terno caro.
— Me disseram que você era extremamente pontual, incrível. ➖ Disse logo atrás de mim.
— Odeio atrasos, posso chegar adiantada, mas atrasada jamais. ➖ Analiso a sala, não está mobilhada, o piso é lindo, todo de madeira vermelha e está brilhando. As paredes estão cobertas por papeis de flores delicadas. — É uma bela casa. ➖ Comento apreciando a obra.
— Comprei esta semana.
— Amor! ➖ Alguém exclama em algum lugar da casa, e logo uma garota aparece no topo da escada.
— Está é Natalie, minha amiga.
Amiga... faça-me o favor, é sua amante, né coroa? E pelo visto é um tarado, já que a menina aparenta ter minha idade, ou até menos.
— Estava te procurando ursinho. ➖ Ela começa a descer e eu consigo vê-la melhor.
É magra e alta, o cabelo castanho está cortado um pouco abaixo dos ombros, tem uma pele azeitonada e um lindo par de olhos verdes.
— Natalie, está é Katy. A decoradora que eu contratei.
Ela me mede dos pés à cabeça, parece avaliar se eu sou uma concorrente ou não.
Apesar de gostar de homens mais velhos, prefiro aqueles que possuem músculos firmes, e isto não parece ser uma característica do coroa aqui.
— Olá. ➖ Digo com meu sorriso de: não fui com a sua cara, mas já que tá me pagando bem, vou lhe aturar.
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomanceEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...