O Interrogatório

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P.O.V Pedro

A chuva cai com força sobre a lataria da viatura, tem chovido a semana inteira, não é o meu tempo favorito, o frio me deixa lento. Meus olhos acompanham o movimento das palhetas que limpam o para-brisas enquanto esquento minhas mãos no aquecedor. Aidan e eu já devíamos ter voltado para a delegacia e entregado o cara que capturamos afanando carteiras no centro, mas faltava meia hora de ronda, então decidimos parar numa cafeteria até dar o horário.

— Não tem como aumentar a potência desse aquecedor, não? – O ladrão sentado no banco de trás, algemado junto a grade que divide os bancos me pergunta.

O encaro pelo retrovisor, surpreso com a audácia dele. É um moleque ainda, mal deve ter vinte anos, magro como um cabo de vassoura e o cabelo raspado com desenhos tribais nas laterais.

— Fica tranquilo, vamos te colocar numa cela cheia de gente, lá é bem quentinho. – Respondo com ironia.

Ele bufa e se encosta contra a porta, maluco folgado.

Forço as vistas para a vitrine da cafeteria, procurando pelo Aidan que já sumiu há uns quinze minutos. A porta verde do estabelecimento se abre e vejo uma mulher usando moletom preto saindo, seu cabelo vermelho se destaca sob o gorro, engulo em seco e abro a minha porta no mesmo instante, faz mais de uma semana que não a vejo.

— Cara, fecha essa porta, frio. – O bandido reclama no banco de trás.

— Ah, vá para o inferno! – Exclamo enquanto desço da viatura deixando a porta aberta, ele não vai a lugar algum algemado daquele jeito.

Corro em direção a ela, querendo alcançá-la antes que a perca de vista na esquina. Meu coração martela nos tímpanos, com mais adrenalina do que quando corri atrás daquele otário em meio a uma multidão uma hora mais cedo.

Alcanço seu cotovelo, agarrando-a com força e ela se vira para mim com assustados olhos verdes... não é a Katy.

— Pedro! – A ruiva exclama perdendo um pouco a expressão de choque.

— Oi, Olivia. – Murmuro soltando o seu braço. — Me desculpa pelo susto, te confundi com outra pessoa.

— Ah, está tudo bem. – Ela abre um sorriso carismático. Olivia é bonita, gentil e afim de mim desde o dia em que nos conhecemos, mas acho que prefiro a minha ruiva de farmácia. — Como você está?

— Levando. – Respondo sem muito animo. — Estou em horário de ronda agora. – Informo querendo escapulir, ela sabe o que significa isso tendo um irmão policial.

— Encontrei a sua mãe na igreja no domingo, ela me disse que você terminou com aquela sua namorada.

— Ah, minha mãe fala demais. – Resmungo enfiando as mãos nos bolsos da calça. — Eu tenho que ir, Olivia. Transmita meus cumprimentos a sua família.

— Claro! – Ela concorda dando outro sorriso exuberante, sem um pingo de malícia despudorada ou sagacidade, definitivamente não é o que eu procuro. — Se precisar de qualquer coisa é só me ligar.

— Sim, sim. – Aceno positivamente já dando alguns passos para trás.

Não tenho o número dela, mas não duvido que seja fácil de conseguir, o irmão dela sempre tentou empurrá-la para cima de mim.

Volto para a viatura um pouco constrangido, tenho que prestar mais atenção, assim como nem tudo que reluz é ouro, nem toda ruiva é a Katy.

Aidan já está à minha espera com os dois copos grandes de café-expresso e um pacote de biscoitos amanteigados. Ele é um bom parceiro, nada comparado ao o Will, mas ainda assim, gente boa.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora