O chiclete

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     Dou um passo para trás e sinto a parede contra minhas costas, não estou querendo fugir, não sinto medo dele, só quero quebrar essa tensão palpável entre nós.

— Precisa fazer mais alguma observação? - Ele pergunta usando um tom amigável, sem insinuações ou flertes dessa vez.

— Não, creio que já tenho tudo o que preciso. - Respondo da mesma maneira.

— Podemos ir, então.

Saímos do quarto lado a lado, engulo a pontada de decepção que tenta crescer dentro de mim por ele não continuar os joguinhos de paquera.

Tomo a decisão de puxar uma conversa amena, apenas para checar se ele não está com raiva. Não gosto que as pessoas me odeiem, prefiro que elas me desejem, admirem, invejem...

— Só tenho mais uma dúvida, Senhor Willmann. Se não for nenhum inconveniente, pode me dizer com o que você trabalha?

Ele me fita ao pararmos na porta do elevador, dessa vez a loira dominatrix não está a nossa espera.

— Mercado de ações.

Bom, isso explica o carro de luxo e a cobertura na Golden Coast, apesar dele não agir muito como as pessoas que eu conheço que trabalham na mesma área. Entramos no elevador, e tento me distrair com o painel, mas essa porcaria dos infernos dá um solavanco antes de chegarmos ao térreo e eu me seguro no seu braço com força.

Segundos depois quando a porta se abre no térreo começo a suspeitar que só fez aquilo para me fazer passar vergonha, o solto e saio na sua frente cega de raiva. Marcho até a porta onde Collum espera com aquela cara de paspalhão baba ovo de sempre.

— Senhorita. - Ele murmura dando um aceno de cabeça antes de abrir as portas duplas do salão para mim. — Senhor, Willmann, espero que tenha tido uma noite agradável. - Diz ele para o imbecil atrás de mim.

— Foi maravilhosa, Collum. Como sempre.

Saio e espero no topo da escada, assim que o valet me vê sai para buscar o carro, espero que ele não fique procurando o meu carro e lembre-se de que vim com outra pessoa. Chris para ao meu lado e sinto o olhar dele me queimando, mas não me viro para ele, ignoro a sua existência.

— Tudo bem um pouco de nudismo e sadomasoquismo, mas que Deus nos proteja de elevadores. - Diz ele de maneira brincalhona.

Sinto vontade de enforcá-lo com uma daquelas coleiras da masmorra por tirar sarro da minha cara.

— Ou era apenas uma desculpa para se segurar em mim, Katy? - Ele continua a provocação, acho que odeio mais o seu lado piadista do que o de machão prepotente.

— Senhorita Alyson. - Corrijo sem dar o braço a torcer quanto o meu pronome de tratamento.

O valet estaciona o carro ao fim da escadaria, desço rapidamente, agradecendo por ter uma escada e não um elevador aqui. Contorno o carro e entro sem esperar que ele abra a porta para mim. Quando ele entra já estou desembrulhando um chiclete que peguei na bolsa.

— Quero um. - Ele pede fechando a própria porta.

— Era o último. - Murmuro de pirraça, há uma caixinha cheia dentro da bolsa. Coloco ele na boca e espero que o gosto de hortelã adoce os meus sentidos para que eu não o estrangule.

— Não tem problema.

Sinto a mão dele segurar meus cabelos perto da raiz com força, fazendo meu rosto se virar para ele. Não grito, nem esboço nenhuma reação além de arregalar os olhos chocada com a sua audácia. Seus lábios finos se encostam nos meus, e ele força a língua para dentro da minha boca, abro-a por instinto, mas ele não vai além e se afasta de mim soltando meus cabelos.

Respiro fundo e compreendo o que ele fez ao sentir que o chiclete sumiu da minha boca. Rio internamente de sua atitude digna de um garotinho da quinta série, é sobre isso que estou falando, não importa o quanto ele queira me fazer acreditar que é obscuro, ele não é nada disso.

Deve ter sido uma cena horrorosa me beijar enquanto eu fazia aquela cara, droga, se ele tivesse avisado antes eu poderia ter sido minimamente sensual. Olho para a janela vendo o meu próprio reflexo e decido reparar o meu ''erro''.

— Creio que você está com algo que não lhe pertence. - Digo com a voz mais aveludada possível, como uma gata no cio, e me viro para ele.

Ele sorri amplamente, mostrando todos aqueles dentes ofensivamente alinhados e brancos.

— É só vir pegar, Katy.

A voz da razão balança a cabeça para mim internamente, devo me manter longe dele, é perigoso me envolver com pessoas que conhecem mais do que meu nome. Mas o desejo em meu ventre grita para que eu o ataque, e desfrute de tudo que ele pode oferecer. Antes que ele desista e ligue o carro coloco a mão sobre sua coxa coberta pelo grosso jeans, e me arrastejo sobre o banco até sentar montada sobre suas pernas, com o volante pressionando as minhas costas.

Seguro o seu cabelo aplicando a mesma força que ele fez, é isso aí bebê, eu também gosto de ditar como são as coisas. Me aproximo devagar, sentindo sua respiração quente no meu rosto, os olhos dele estão mais escuros, quase castanhos me olhando como se fosse me devorar, mal sabe ele que eu sou a fera aqui.

Fecho os olhos e pressiono meus lábios contra os seus. Dessa vez ele passa a língua suavemente pela linha da minha boca, e eu a abro devagar o convidando, uso a minha para brincar com a dele. Chris coloca as mãos sobre minhas coxas e aperta a carne firme com força, e começa a subi-las para dentro da saia até chegar a curva da minha bunda onde ele segura e me puxa para frente até que minha calcinha molhada esteja esfregando em sua ereção.

Rebolo meus quadris criando atrito entre nós dois, eu quero que ele implore pela minha boceta, mesmo sabendo que não poderei dar a ele. Ele desce a boca para meu pescoço, e morde a minha pele com força, sei que ele quer que eu grite, mas não o faço, cravo as unhas no pescoço dele e arranho, creio que arrancando um pouco de sangue no escuro. Seus lábios já estão quase no meu decote quando um carro buzina atrás de nós.

Suas mãos seguram a minha bunda com mais força, querendo me manter no lugar, mas eu jogo meu corpo para trás e acerto a buzina do volante atrás de mim, fazendo com que nós dois nos assustemos. Coloco a língua para fora e mostro para ele o chiclete que consegui recuperar, ele dá um meio sorriso e eu me curvo para voltar ao meu lugar. Antes que eu consiga passar a perna para o banco do passageiro outra vez, ele acerta um tapa em cheio na bunda, mordo o lábio inferior para não gritar ao sentir a ardência no formato de seus cinco dedos no meu traseiro.

— Podemos ir, ou a senhorita ainda quer algo de mim?

Rio e balanço a cabeça, ele acelera liberando a passagem para o carro atrás de nós.

Homens sempre tem algo de desprezível neles, este tem muitas coisas que me irritam, mas nada que o faça ser asqueroso como os outros... mas tem que ter, sempre tem, só me resta descobrir o que é. Assim poderei tratá-lo como todos os outros, um mero objeto para o meu prazer, que eu apenas digo como, onde e quando, sem joguinhos de sedução pois não é digno disso.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora