Uma bala a menos

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P.O.V PEDRO

Escuto o barulho de batidas, abro os olhos e sou cegado pela claridade, as batidas irritantes continuam. Meu corpo desperto sente o banco do carro, pelo visto não voltei para casa à noite.

Abro os olhos outra vez e dou de cara com um guarda de transito socando o meu vidro insistentemente. Aperto o pequeno botão para abrir a janela e ele finalmente para de bater.

— No que posso ajudá-lo? - Pergunto com dificuldade, minha língua é um peso morto dentro da boca.

Ele se afasta um pouco fazendo careta, devo estar fedendo à álcool.

— Retire seu carro daqui, rapaz, ou serei obrigado a multá-lo.

— Obrigado por me acordar primeiro. - Digo, geralmente eles multam sem nem pensar duas vezes.

Ele se afasta e eu ligo o carro, o motor ruge como uma pantera. Dirijo devagar, não estou completamente recuperado, e nem me lembro de quantas doses cheguei a tomar. Quando paro no semáforo, sinto que estou sentado encima de algo, levanto a bunda um pouco para puxar o que estava me incomodando e fico estático ao sentir a arma em minhas mãos.

Os carros começam a buzinar atrás de mim assim que o sinal abre. Coloco a arma sobre o carro e dirijo sem parar até chegar ao apartamento, estaciono na minha vaga e finalmente pego a arma para dar uma boa avaliada. Era uma das minhas de uso pessoal, a única que não estava registrada e por isso não precisei devolver quando tomaram todas as outras. Tinha a colocado no porta-luvas meses atrás quando me mudei, até cheguei a me esquecer da existência dela, mas agora ela estava aqui em minhas mãos outra vez. Girei o tambor e vi que tinha uma bala a menos. A guardei outra vez quando senti um arrepio na espinha, dessa vez não havia nenhum fantasma me encarando pelo retrovisor.

Entro no elevador sentindo meus músculos doerem com a pequena caminhada, me olho no espelho e vejo que estou destruído, com olheiras e a boca tão ressecada que começa a abrir rachaduras. Mas o que prende mesmo o meu olhar é uma enorme mancha de sangue na minha calça, próximo da coxa. Fecho os olhos tentando me lembrar onde arrumei aquele sangue, mas só há um buraco negro em minha mente. Abro a porta do meu apartamento me recriminando por não tê-la trancado

No caminho até o banheiro vou tirando a roupa, sinto o cheiro de bebida misturado ao de suor, pelo visto não fiquei apenas sentado bebendo. Quando retiro a calça ensanguentada percebo que o sangue não é meu, pois não há nenhum arranhão sequer no meu corpo.

Tomo um banho gelado e demorado, em nenhum momento as memorias da noite anterior retornam. Saio com a toalha enrolada nos quadris e vejo meu celular vibrando sobre a cama, no identificador de chamadas aparece o nome do meu pai, atendo torcendo para que ele não perceba que andei bebendo.

— Oi, pai. - Digo da melhor forma que consigo.

— Pedro. - Ele para por um momento. — O seu irmão. - Sua voz parece embargada.

— Você tá bem, pai? - Pergunto preocupado, meu pai não chorava com frequência.

— Filho, o Diego está morto.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora