Chris Willmann

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    Saio da oficina com os ânimos renovados, o pessoal do seguro fez um bom trabalho, nem dá para perceber que apenas dois dias atrás a lataria do meu bebê fora linchada. Dirijo até a o endereço que apareceu quando busquei pelo número da tal Katy decoradora, no Google.

Estaciono em frente a um prédio comercial de esquina, com três andares, o primeiro tem uma letreiro elegante sobre a porta de entrada, escrito Candy's DecorArt em letra cursiva e dourada.

Faz sentido a Katy decoradora ter uma agência de designer de ambientes. Desço do carro e decido entrar, por dentro o pequeno escritório parece ter saído de um livro de fantasia, as paredes são brancas, mas há uma enorme árvore dourada desenhada e na ponta de alguns galhos uma pequena prateleira de madeira com livros ou objetos apoiados, o teto é uma constelação roxa com pequenas luzes de led se destacando como estrelas. No fundo havia uma mesa dourada com duas poltronas purpuras, uma garota morena de cabelos curtos digitava algo no computador à sua frente, alheia a minha presença. Estava observando o bonsai seco no canto com fitilhos vermelhos amarrados nos pequenos galhos quando a garota pergunto no que poderia me ajudar.

— Bom dia... er, ahm... a Katy está? - Pergunto com muito custo, meu cérebro parece ter tirado férias.

— Não, ela está em uma obra. - Ela me encara sobre a armação do óculos de grau. — Tem horário marcado?

— Hum, não. Sabe, foi um colega que me passou o número dela.

— Ah, sim. Bom, a senhorita Alyson trabalha com designer e paisagismo, mas se a obra precisar de modificações estruturais nós trabalhamos em parceria com uma equipe de empreiteiros. - Ela morde o topo do lápis amarelo enquanto me avalia de cima a baixo.

— Foi o que me falaram. - Esboço um sorriso, tentando transparecer confiança. — Podemos marcar um horário, então?

— Claro, só um momento. - Ela volta os olhos para a tela do computador por alguns segundos e digita algo. — Perdão, eu não perguntei o seu nome.

Paro por alguns segundos sem saber o que dizer, não posso entregar que sou irmão do Diego, ela pode sacar algo e atrapalhar a investigação. A garota me olha com cara de impaciente, esperando pelo meu nome.

— Chris Willmann. - Digo o primeiro nome masculino que me vem a mente, é o do meu pai verdadeiro.

— Bom, senhor Willmann, temos horário amanhã às onze, tudo bem para o senhor?

— Sim, está ótimo. - Pisco algumas vezes meio atordoado, está realmente acontecendo, estou numa investigação não oficial. — Se a senhorita Alyson não se importa, eu prefiro me reunir com ela em um local de minha escolha.

— Geralmente as primeiras reuniões também são vistorias, se quiser podemos marcar no local que ela projetará para o senhor.

— Não, há um bistrô na Avenida Michigan, se chama Sinfonia... é bem conhecido. Prefiro que seja lá, até porque será quase no meu horário de almoço. - Explico rapidamente, melhorando a minha habilidade em mentir sob pressão.

— Perfeito, marquei o senhor para as onze amanhã. A senhorita Alyson chegará pontualmente. - Ela diz como se fosse uma piada interna, a mulher deve sempre chegar atrasada ou é demoniacamente pontual.

Para uma pessoa normal talvez essa decoradora passasse despercebida, mas para mim que conhecia o Diego o suficiente para saber que ele não tinha planos de se mudar da casa dos meus pais, ela era um tanto quanto suspeita, para que afinal ele precisaria de uma decoradora? Começarei a conhecendo aos poucos e tenho um ótimo pretexto que é aquele apartamento bagunçado, talvez ela não esteja envolvida, mas quem sabe não me dê pistas novas.

Agora faltava falar com o outro da lista, uma pessoa que conhecia muito bem o Diego, talvez melhor do que qualquer um da família.

Ligo o carro partindo em direção a casa dos Stewart, é numa região afastada, quase na divisa entre cidades, uma bela mansão de pedra com enormes vitrais coloridos, lembra até uma igreja gótica. Antes de chegar ao portão há um interfone na altura da janela do carro, coloco o braço para fora e o aperto.

— Residência dos Stewart. - Uma voz com sotaque arrastado me atende.

— Oi, eu gostaria de falar com o Laurent Stewart. Diga que é da parte do Pedro Collins.

— Vou confirmar se o senhor Stewart está em casa.

Bufo, como se não soubesse que ele está em casa, estou vendo daqui o Jaguar preto que o vi chegar no funeral, estacionado agora na garagem aberta da casa.

— Ele irá recebê-lo, por favor, estacione à direita.

O portão preto de grades abre automaticamente, fazendo um barulho auto, acelero em direção ao lado direito da casa colocando-o frente a garagem, de certa forma impedindo que o Jaguar saia com facilidade, não quero o Laurent fugindo de mim outra vez.

Desço do carro e escuto vozes vindo logo da primeira janela após a garagem, a janela de vitral colorido está entreaberto, me aproximo devagar e escuto uma voz feminina, deve ser da Ana.

— Não, senhora. - A mesma voz que me atendeu no portão responde.

— De qualquer forma mantenha ele e o Laurent na sala de visitas.

— Tudo bem, senhora.

Escuto o barulho da porta se fechando, então me aproximo mais, consigo ver a sempre pálida e loira Ana pela fresta

Ela retira um quadro da parede fazendo um tremendo esforço, então começa a digitar algo no que eu imagino ser um cofre digital. Como eu suspeitava ele apita e a porta branca se abre. Ana retira uma caixa laranja de dentro então pega uma única bala entre os dedos, logo em seguida ela estende a mão e pega um revólver calibre 38 e enfia no tambor antes de guardá-la

Muitas famílias tem armas em casa, mas porque ela estava recarregando a dela? E o mais importante, onde ela a descarregou?

Vou em direção a porta de entrada enquanto coloco seu nome na minha lista de suspeitos.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora