Fico encarando a mão grande e extremamente branca estendida para mim por vários segundos até compreender que ele está me cumprimentando. A textura da mão dele é fina demais, assim como a minha, do tipo bem cuidada, combina com as roupas engomadas e o cabelo preto penteado com gel para trás.
— Sam Daves, senhorita. – Ele se apresenta com um sotaque levemente sulista. — Imagino que seja Katy Alyson.
O abraço do Pedro se torna mais apertado em minha cintura, solto a mão do Sam e me viro para o meu namorado que o encara com uma expressão hostil.
— O que você quer, Sam? – Pedro pergunta rudemente, me assustando um pouco, ele nunca é assim.
— Nada. – Sam dá de ombros e enfia as mãos nos bolsos da calça caqui. — Só estou conhecendo a namorada do meu colega de trabalho.
Não gosto do tom sarcástico dele e fico arrependida por tê-lo cumprimentado.
— Já conheceu, agora pode nos dar licença. – Digo tomando frente da situação e ele arqueia as grossas sobrancelhas escuras.
— Bom, acredito que tenham outras pessoas a serem cumprimentadas. – Ele diz antes de se afastar novamente.
— Qual é a dele? – Pergunto para o Pedro que balança a cabeça como quem diz para deixar para lá.
— Tenho que ir ao banheiro. – Pedro me solta e se levanta. — Fica aqui, agorinha eu volto.
Acho a atitude dele bem estranha, imagino que tenha alguma desavença com o tal Sam e deve ser algo pesado para ficar tão assustado com a mera presença dele em um churrasco. Sou distraída de meus pensamentos por um policial já de idade que se apresenta como Carl, e começa a falar comigo sobre planos de saúde, enquanto eu apenas balanço a cabeça concordando, sem entender como ele começou isso.
Pedro não demora a voltar e engulo em seco ao vê-lo com uma long neck na mão. Não há dúvidas, ele está com algum problema que eu não sei. Ele parece bem melhor quando se senta ao meu lado outra vez, imagino que esteja disfarçando.
— Sério? – Pergunto olhando para a garrafa âmbar.
— É sem álcool. – Ele responde rindo e belisca a ponta do meu nariz. — Relaxa, ruivinha.
Me calo e fico mais atenta aos seus movimentos, ele não tira os olhos do Sam, endurecendo a postura cada vez que o branquelo alto conversa com alguém. Pedro ainda se serve mais cinco vezes da cerveja sem álcool e começa a contar casos da polícia com os outros presentes na roda, ele é um bom em fazer suspense durante as histórias, parece até a própria Agatha Christie.
A tarde avança e quando o sol começa a abaixar no horizonte Will convoca todos a ficarem de pé para fazer um brinde em nome do time amador de hóquei do primeiro distrito de policiais de Chicago. Pedro se desequilibra levemente ao se levantar e esfrega as têmporas.
— Acho que fiquei tempo demais sentado. – Diz ele exibindo um sorriso torto.
— É. – Concordo estreitando os olhos.
Quando ele se afasta para tirar uma foto com os outros jogadores pego a garrafa da última cerveja que ele deixou pela metade e dou um gole... sem álcool uma ova. Se eu ainda estava me decidindo como tratá-lo quando estivesse bêbado, parece que terei que tomar uma escolha agora mesmo. Não posso simplesmente ir embora e deixá-lo para trás sem antes saber o que causou essa recaída, não consigo ser assim depois de todas as vezes que ele me ajudou.
Espero ele voltar, Will o acompanha, parecendo ter notado que o amigo está bêbado.
— Hey, amigão. O que você acha de dar a chave do carro para a Katy. – Will sugere dando alguns tapinhas no ombro dele.
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomansaEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...