P.O.V KATY
Não gosto de homens prepotentes, nunca gostei, sou dominadora por natureza, preciso saber que estou no controle da situação, só assim me sinto confortável. Na maioria das vezes, quando topo com algum imbecil que tenta me fazer submissa a sua vontade, eu sou incisiva com olhares e frases capazes de fatiá-lo em pedacinhos. E eu realmente tentei com este aqui, mas ele não abaixou a guarda por um segundo sequer.
Me irritou extremamente o fato dele achar que tinha algum direito de tentar me seduzir com aquele tom de voz e frases de efeito. Claro que eu colaborei com isso ao olhar para ele feito uma tapada, mas é que havia algo naqueles olhos, que não sei explicar. Era como se eu não conseguisse desviar minha atenção por um segundo sequer daqueles malditos olhos que ao contrário da sua personalidade me lembravam um labrador bobão e extremamente dócil.
E se os olhos são o espelho da alma, ele não tem nada de prepotente, por isso concordei imediatamente quando ele me convidou para me mostrar um de seus hobbies não secretos. Quero vê-lo perder a pose de macho dominante que ele me apresentou, preciso disso assim como preciso do ar que respiro, ele não pode ser uma exceção a regra, homens sempre se curvam perante a minha presença.
Pelo menos a escolha do bistrô não foi de tudo ruim, a comida é ótima. Ao terminar vou rumo a academia, pegarei a aula de dança da tarde, não posso faltar, me sinto muito mais ativa desde que comecei a praticar exercícios. E por ter assistido a Carmen morrer aos poucos encima de uma cama, fiquei paranoica com a minha saúde.
Dançamos Tango Argentino, acabo fazendo dupla com uma das mulheres mais chatas da turma, Rachel Smith, ela só sabe falar das suas atividades domésticas, dos filhos que estão na escola e do lindo marido dela, que de lindo não tem nada. É um porre, a estabanada pisa no meu pé dezenas de vezes, e sempre cora ao pedir desculpas.
Infelizmente o Robert está dançando com uma das alunas iniciantes, e a Maitê, que apesar de chata dança como uma deusa, está de par com um do rapazes da aula.
Estou prestes a sair do salão de dança quando sou interceptada pela insuportável da Rachel, ela tem a minha altura, mas por estar acima do peso parece mais baixa ainda.
— Oi, Katy! Então, eu quero te convidar para fazer parte do clube do livro que eu montei com as meninas da turma e umas outras amigas minhas. Nos reunimos todas as quintas a noite, e a reunião da próxima semana vai ser na casa da Maitê.
Que droga, um bando de chatas na casa da chata mor. Quinta é o meu dia de Woustters, é quase que uma religião para mim, raramente falto como fiz nessa semana, não vou abrir mão de uma foda pervertida outra vez para ler um livro besta com um bando de mulheres monótonas.
— Obrigada por me convidar, Rachel. Mas às quinta eu vou à igreja. - Minto sentindo vontade de rir.
— Ah, eu não sabia que você é religiosa. - Ela diz com os olhos arregalados, como se acreditasse que eu fosse o próprio anticristo. — Qual igreja você frequenta?
— Católica. - Digo num impulso porque igrejas me lembram o Papa, e eu sei que ele é católico.
Conheço outra religião também, mas Rachel ou qualquer outra pessoa jamais acreditarão que eu algum dia fiz parte dela...
— Eu sou Metodista. - Ela comenta parecendo estar um pouco decepcionada. — Mas de qualquer forma o convite ainda está de pé.
— Obrigada, Rachel. Boa leitura para você e as meninas. - Digo já me afastando para não correr o risco dela abrir a boca novamente.
Entro em uma das cabines do chuveiro e tomo um banho rápido, apenas para retirar o suor até chegar em casa, pois tenho agonia de andar por aí me sentindo suja. Coloco a minha bolsa de treino encima do enorme banco no vestiário, e jogo a roupa suja dentro, me visto com um conjunto limpo cor rosa parecido com o que acabei de tirar. Levanto a bolsa e vejo que há um jornal em baixo dela.
Geralmente eu não leio jornais, e estou prestes a ignorar esse aqui, mas a noticia na capa chama a minha atenção. Conheço o homem da foto, os cabelos longos e loiros, esses olhos azuis claros como o céu... é o ginecologista que me deu o bolo no começo da semana.
A chamada para a noticia abaixo da foto informa em letras garrafais algo que me deixa surpresa.
'' Assassinato de médico em quarto de motel segue sem solução'' pg.6
Abro depressa na página 6, quase rasgando o jornal ao meio, há um texto de duas colunas informando os detalhes, meus olhos captam só o principal. A polícia colheu as provas mas ainda não tem nenhum suspeito oficial. Ele morreu no dia oito por volta das onze horas.
Conto usando os dedos, dia oito foi na segunda, o dia em que marcamos de sair e ele não apareceu. Naquela noite estranha da qual não me lembro de nada, mas ainda posso sentir uma fisgada no corte da minha testa cada vez que pisco.
Meu coração dispara, não é a primeira vez que a morte de um homem com quem sai aparece numa manchete de jornal, mas é a primeira vez que eu não sei se fui eu que matou.
— Não foi você, Katy. - Murmuro, tentando convencer a mim mesma.
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomanceEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...