Pisco algumas vezes, enquanto tento absorver o que estou vendo. Tudo esteve tão óbvio o tempo todo, como nenhum de nós pode perceber que Diego e Laurent eram amantes?
Vendo agora todas as fotos e vídeos dos dois juntos em viagens, se beijando e até mesmo alguns fazendo sexo, começo a me lembrar de pequenos detalhes que costumava achar estranho, mas que atribuía ao fato deles serem amigos demais. Quando o Laurent fez o empréstimo para o Diego entrar como sócio na clínica, como eles sempre viajavam juntos para congressos, Laurent frequentando a nossa casa em todas as datas comemorativas, o discurso emocionado no velório e a forma como ele falou sobre o Diego quando fui interrogá-lo.
Isso responde a pergunta da minha mãe, sobre o porquê do Diego nunca levar uma namorada em casa. E também me faz entender o que Laurent disse dias atrás, quanto ao Diego ser inseguro por minha causa, eu era aceito pelos meus pais e ele não. Era sobre isso que Laurent estava falando, sobre a sexualidade do meu irmão.
Minha mãe sofrerá demais se souber disso, não pelo fato do Diego ser homossexual, ela não tem preconceitos, mas sim por meu irmão não se sentir amado. A conheço muito bem, se ela sequer imaginar que ele morreu ressentido dela, não se perdoará jamais.
Desconecto o celular do computador e fecho o e-mail. Novamente as pistas apontam para Laurent e Katy.
Quem o matou?
Katy não parece ter motivos aparentes, mas não consigo esquecer aqueles olhos sombrios dela, suas atitudes também são estranhas demais, como se tentasse esconder algo. Já Laurent, pode ter cometido um crime passional, amantes revoltados fazem isso o tempo todo.
Teria sido um assassinato por amor?
Laurent é casado com a Ana que o ama devotadamente, como todos que os conhecem sabem disso. E ela tem um 38 em casa, que eu mesmo a vi recarregando, sem falar de sua reação estranha, tentando me culpar pela morte do Diego, quando fui visitá-los... maldita cadela arisca.
Sublinho seu nome mentalmente, ela tem mais motivos que qualquer um dos outros dois.
Ana é a esposa traída do Laurent. Pessoas que amam tanto alguém e levam um belo chifre costumam perder a sanidade. O revolver dela tem o mesmo calibre da bala que foi reconstituída pela polícia.
Creio que encontrei o meu terceiro suspeito, e mais do que isso, o suspeito mais provável de todos.
Seguro a vontade de ir na casa deles e dar voz de prisão, não tenho mais autoridade para fazê-lo, e ninguém pode saber que estive mexendo em arquivos confidenciais. Posso entregar isso anonimamente para a polícia, mas acabará nas mãos da Marion que é a investigadora do caso e uma sonsa.
Tenho que continuar investigando em segredo até ter uma prova cabal, como uma confissão, nem mesmo a Marion vai se negar a agir se escutar a confissão do assassino.
Volto para a sala de arquivos decidido a agir com cautela. Se me pegam, sou exonerado de vez da polícia, e não vou conseguir ter mais nenhum acessos à provas importantes.
Me sinto enérgico e aproveito que o sistema está funcionando para acabar com a pilha de arquivos que ficou parada mais de uma semana. Perto das sete da manhã desligo o velho computador e saio para bater meu ponto, encontro o William guardando comida na geladeira da salinha de descanso.
— Bom dia, cara. - Diz ele assim que me vê. — Como foi o plantão?
— Terminei aquela pilha de arquivos, agora só tenho mais uma sala cheia delas. - Digo rindo e ele me acompanha.
— Que fase, em. Mas fica tranquilo, acho que antes do Pattison se aposentar ele coloca você na ativa de novo.
— Ele vai se aposentar? - Pergunto surpreso, sempre achei aquela tartaruga velha morreria como capitão.
— Vai, estamos até organizando uma despedida. - Will franze o cenho. — Em que planeta você vive, Collins?
— Sei lá, cara. Não ando prestando muita atenção nas coisas. Mas tomara que seja verdade, quero logo sair daquele arquivo maldito. Espero que eles se lembrem que eu havia passado na prova para me tornar investigador.
— Com certeza, essas coisas ficam no sistema.
— Assim como ficha suja. - Digo me lembrando do porquê do meu afastamento.
— Metade dos policias de Chicago tem ficha suja, tá para nascer corporação mais sebosa. Você pegou só um afastamento por legitima defesa. - Will pega a garrafa de café em cima da mesa e separa duas xícaras. — Quer?
— Não, vou tentar dormir um pouco quando chegar em casa.
— Sorte a sua, me colocaram na escala até as onze da noite. - Diz ele após virar a xícara inteira num gole. — Sábado tem jogo de novo.
— Contra quem?
— Os bombeiros. - Ele faz uma careta.
Que policiais e bombeiros não se dão bem, isso todos sabem, mas nós do 1º Distrito Policial de Chicago temos uma rixa declarada contra os bombeiros do 3º batalhão. Ninguém se lembra como começou, mas tenho certeza de que foi por causa de alguma merda que os bombeiros fizeram, é o que eles sempre fazem.
— Red e os babacas. - Digo.
O capitão deles, Red, assumiu há cinco anos, e desde então eles quiseram entrar para o torneio de hóquei, como se já não tivessem todos os títulos das ligas amadoras de basquete e beisebol para se gabarem.
— Vamos quebrar esses caras. - Diz o pacifico Will.
Só duas coisas são capazes de irritá-lo, mexer com a Maitê, ou com o precioso time de hóquei montado na época em que o pai dele era policial.
— Até sábado então. - Digo chocando minha mão contra a sua.
Será bom ter algo que eu gosto para fazer, assim posso ignorar a vontade de prender o Laurent e a cadela da esposa dele, e talvez parar de pensar no belo par de peitos da Senhorita Alyson, e como é gostoso chupá-los até ela gemer como uma gata no cio.
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
Lãng mạnEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...