Um sentimento desconhecido

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P.O.V Katy

— Funciona, porcaria! – Grito para o monitor do meu computador, enquanto ele insiste em travar ao renderizar o meu último projeto.

Jane dá duas leves batidas na minha porta, antes de abri-la. Sei que é ela, só pelo jeito leve de bater, mesmo assim, destranco a gaveta da minha escrivaninha e mantenho a arma sob meus olhos. Engulo em seco quando ela enfia metade do corpo para dentro da minha sala, não quero descontar a minha raiva nela, de todas as pessoas no mundo, ela é a última que tem culpa pelo que tem acontecido nas últimas três semanas.

— Senhorita Alyson, já são cinco horas. – Diz ela, com os olhos mirando o chão, por trás das grossas lentes do óculos de grau.

— E? – Pergunto, sem entender onde ela quer chegar.

— Posso ir embora, ou iremos passar do expediente outra vez?

A vejo torcer as alças da bolsa nos dedos, aparentemente nervosa.

A forma recatada e medrosa com que Jane age toda vez que vem falar comigo, me dá nos nervos, mas não posso fazer nada, cada um tem uma personalidade... no caso dela, acho que tá mais para falta de personalidade.

— Ah, claro. Tranque apenas a porta da frente antes de sair. – Digo e ela assente brevemente com a cabeça. — Tenha uma boa noite, Jane. – Desejo, com sinceridade. Pelo menos uma de nós tem que relaxar um pouco.

Ela concorda novamente e se vai, escuto apenas o barulho das chaves na porta de entrada, indicando que estou sozinha.

Ultimamente temos extrapolado o horário de trabalho muitas vezes, tenho aceitado cada vez mais projetos para manter a cabeça ocupada, e isso requer um esforço sobre-humano para que todos sejam entregues no prazo.

Aproveito o tempo que o computador leva para voltar a funcionar, e checo minhas mensagens, há dezenas da Roberta. Não consigo respondê-la ainda, sou uma péssima amiga por isso, mas não tenho vontade de fingir que estou bem e ter conversas descontraídas. A que me chama atenção é a de Belinda, informando que o Thomas depôs hoje, ele era o último que faltava para o arquivo de provas favoráveis que Drew tem montado. Das pessoas próximas ao Pedro, eu sou a única que não conversou com a polícia, por objeção do próprio. O advogado acha que isso é prejudicial, mas Pedro prefere que eu fique longe da mira da Marion.

Não consegui outra visita, o que sei vem através do que o Drew e o Will me contam, e foi pela boca deles que descobri sobre a aprovação do juiz para que o Pedro continue se consultando com a Vanessa duas vezes na semana. Gostaria de vê-la e envolvê-la em uma conversa, para arrancar o tipo de informação mais detalhada que só mulheres são capazes de dar, mas ainda estou fugindo do seu olhar avaliador, desde o dia em que a visitei no centro de reabilitação.

O meu monitor bipa, mostrando que o projeto foi renderizado pela programa, o salvo e envio para os donos de um pub que contrataram o meu serviço. Se eles aprovarem, darei início às compras dos artigos na próxima segunda. Faço um check-list, averiguando os itens que já foram aprovados por outros clientes, amanhã cedo tenho que ir à loja de decoração, pelo menos isso é divertido de fazer.

Ao terminar, avalio minhas opções, voltar para a casa e esquentar no microondas o jantar que a Alba deixou pronto, ou trabalhar mais um pouco em outra coisa... nenhuma das duas opções me agrada. Sei o que eu queria estar fazendo nesse momento, e envolve um certo loiro de quase dois metros de altura. Como uma forma de matar a saudade, abro no computador um croqui que fiz da mansão na beira do lago, de vez em quando, rascunho algumas coisas para lá, e é isso que faço por mais de uma hora, me dedico a sala de estar, e ela fica como estava na minha imaginação, perfeita.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora