O apartamento é totalmente diferente sem aquele tanto de tralha ocupando espaço, não restou muita coisa, apenas o colchão no chão da sala e algumas poucas peças de roupa no closet, Pedro realmente se livrou de tudo que remetia à Jesy. Me pergunto se esse processo também foi mental, ou se a culpa ainda rodeava os seus pensamentos diariamente.
Continuo com o braço estendido enquanto ele troca o curativo dos meus pontos. Nenhum de nós dois fica incomodado com a visão da carne talhada sendo forçada a colar outra vez com aqueles pontos macabros. Somos imunes a isso, já vi muita gente morrendo e aposto que ele também.
— Não sei se ele queria te matar, Katy. – Murmura ele realocando a nova gaze sobre os pontos.
— Por que? – Pergunto espantada com a conclusão dele.
O assassino literalmente enfiou uma faca em mim enquanto me sufocava. E agora o Pedro acha que não foi uma tentativa de assassinato?
Assistimos à fita de segurança da porta do prédio, vimos o momento em que a Jane foi para o almoço e então o homem saiu do ponto cego, trajando a máscara e o volumoso moletom preto. Ele caminhou rapidamente até a porta de entrada e deu uma breve olhada para trás antes de entrar. Não demorou nem dois minutos até que o Pedro entrasse e o assassino saísse correndo pela porta outra vez, enfiando na manga do moletom a faca ensanguentada. Se isso não é coisa de quem estava pronto para matar alguém, eu não sei mais o que é.
— Ele tinha uma faca e era mais forte que você, sem falar que estava no controle da situação. – Com mais cuidado que a enfermeira do hospital ele cola a micropore em três dos lados do curativo. — Há muito mais pontos letais do que o seu braço. Ele podia ter enfiado ela na sua jugular, aliás, foi o que eu pensei ter acontecido quando vi todo aquele sangue.
— Devo agradecer, então? – Pergunto sarcasticamente.
— Não estou falando isso. – Ele me encara com um olhar sério sob os cílios dourados. — Mas acho interessante pensarmos como ele, se quisermos alguma pista. Por que você hesitaria em matar alguém que te fez mal?
Penso por um instante, nada me faria hesitar, a não ser a possibilidade de ser pega. Se algum fodido merecer morrer eu faço isso sem pensar muito, é um tiro e pronto, não preciso ficar criando artimanhas mirabolantes para conseguir isso.
— Nada! Eu acabo com ele e pronto, que o diabo cuide do resto da tortura.
Posso não acreditar mais que exista um Deus para me proteger, mas com certeza tem de existir o oposto para punir todos aqueles que merecem. A morte não deve ser um descanso para a alma deles, muito pelo contrário, deve ser aí que começa a outra parte do sofrimento.
— É um modo de pensar bem prático. – Diz ele torcendo os lábios. — Mas eu já lidei com todos os tipos de criminosos. Isso é o que chamamos na polícia de efeito todo mundo em pânico.
— Como o filme? – Pergunto rindo.
— Exato! Já viu como o assassino nunca mata todos de uma vez mesmo tendo a oportunidade? Ele deixa várias pistas, bilhetes, ligações, algumas vezes dá umas facadas inofensivas, deixando todo mundo apreensivo. Ele cria o pânico para saber que a sua hora está chegando, até que depois um tempo você começa a ansiar pela morte, só para ter um pouco de paz.
Realmente faz sentindo essa tortura psicológica, é um tipo de vingança mais refinado, fazer a vítima se arrepender pelos pecados em vida.
— Ele devia gostar muito de quem eu matei. – Digo pensando no rosto daqueles homens. Como alguém pode querer vingar a morte de pessoas imundas como eles?
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomanceEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...