Nada nunca mais foi igual

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P.O.V Pedro

Em questão de segundos, um filme de anos se passa em minha mente, enquanto a Jesy vem em minha direção, sendo imobilizada pelo Will.

Me recordo da primeira vez que a vi na cafeteria, a mesma que ainda existe em frente ao estacionamento. Lembro do seu sorriso amplo que chegava aos olhos esverdeados enquanto meu olhar sustentava o dela, com ligeiro interesse.

— Pedro, não é? – Ela pergunta, parando ao lado da mesa. — Vai querer o de sempre? – Sua voz tem um sotaque carregado, é parecido com os dos mexicanos, mas não tão estralado.

— Como... como você sabe o meu nome? – Pergunto, olhando para o meu moletom da polícia, sem identificação.

— Presto atenção. – Ela dá de ombros e coloca uma mecha do cabelo castanho atrás da orelha. — Você sempre vem aqui com aquele outro, William, eu acho.

— Will. – A corrijo por força do habito, ninguém o chama de William. — E você, é... – A instigo a dizer seu nome.

— Jesy. – Ela pronuncia com a língua esbarrando nos dentes, o que faz o seu nome sair como um chiado.

É um nome comum, conheço muitas Jesy's, sai até mesmo com uma durante a escola por alguns meses. Ela é bonita, bochechas côncavas e lábios largos e cheios, um rosto maduro demonstrando não ser nenhuma garotinha boba, e um par de olhos bonitos que a deixa com uma aparência ferina, como um gato prestes a dar um bote.

Faço o meu pedido, o de sempre como ela sugeriu e espero com paciência, afinal, não tenho nada além de um apartamento vazio esperando por mim, e pizza gelada que não terminei de comer ontem. Desde que parei de dividir o apartamento com o Thomas, nunca mais comi algo que preste, até sei cozinhar bem, mas é horrível fazer comida para um só.

Ela demora para voltar até mim, assim tenho tempo para reparar nela com mais atenção, Jesy é alta, gosto de mulheres altas, com meus quase dois metros de altura é horrível ter que ficar me curvando para beijar alguém. O cabelo dela sempre cai para frente quando ela se abaixa para atender uma mesa, longos fios castanhos, mais um ponto para Jesy, gosto de poder enroscar meus dedos em cabelos longos, e principalmente em morenas. Loiras não são muito a minha praia, e acho que nunca conheci uma ruiva, pelo menos, não uma que eu achasse interessante.

Após passar por todas as mesas, ela volta para mim com o expresso duplo, equilibrado no centro de uma bandeja de plástico.

— Aqui está, Pedro. – Diz ela, gentil novamente, e coloca o café na minha frente.

— Obrigada, Jesy. – Digo seu nome como se tivéssemos alguma intimidade. — Não quer se sentar?

— Eu estou trabalhando. – Ela responde, olhando sobre o ombro, parecendo procurar por alguém. — Mas acho que alguns minutinhos de pausa não fazem mal a ninguém, não é?

— Não mesmo. – Concordo.

Faz tempo desde a última vez que tive uma conversa interessante com alguém do sexo oposto, meus encontros se resumem a garotas da academia que a namorada do Will apresenta para mim. São bonitas, mas nada interessantes, então os encontros sempre acabam em sexo casual e um número de telefone que nunca irei ligar. Não sei se quero alguém na minha vida, bisbilhotando pela fresta e descobrindo que o policial Collins tem um fraco para bebida.

— Você é daqui de Chicago? – Pergunto e ela ri, negando com a cabeça.

— Não, não mesmo. – Jesy morde o lábio cheio antes de continuar. — Moro aqui há dois anos apenas, antes estava na Flórida com minha tia, então decidi que era hora de tentar a vida sozinha.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora