P.O.V Katy
Caminho de um lado para o outro no quarto enquanto cinco gatinhos malhados em preto e branco perseguem a cauda do meu vestido. Demorou algumas semanas até que eu descobrisse o motivo da Ash sempre sair de fininho pela porta aberta, mas agora eles me perseguem por todos os cantos. Pedro diz que temos que doá-los, e em breve os levará até o veterinário do condado do qual ele se tornou Xerife na última semana. Sempre o enrolo digo que qualquer dia faremos isso, e assim eles vão ficando, até mesmo aprenderam a correr e brincar uns com os outros, dando saltinho e miados finos de bebês gatos.
Tomando a minha gata como lição empurro o anticoncepcional garganta abaixo com a segunda taça de champanhe que a Belinda me entrega. Estou os tomando desde o aborto, quero que a decisão de ter filhos parta de nós, quando nos sentirmos preparados outra vez.
No andar debaixo e no jardim tudo está perfeito, tenho certeza disso, eu mesma organizei o casamento, mas dentro da suíte principal a história é outra. Me sinto nervosa, com as mãos tremendo e suando em lugares que não deveria suar. É irracional ter medo, afinal eu amo a pessoa que está no altar, e quero passar o resto da minha vida com ele, mesmo assim não consigo controlar.
— É normal ficar ansiosa. – Mai comenta com a boca cheia, mastigando o décimo ou vigésimo bolinho do buffet que ela surrupiou.
Sua barriga está enorme, ela parece prestes a explodir a qualquer momento, jogando o David nos nossos braços. Sei que a data prevista é na segunda semana de maio, mesmo assim não deixo de ficar nervosa quando ela chega perto de mim, parecendo que placenta e liquido amniótico vai voar no meu rosto.
— E se der tudo errado? – Pergunto, tentando me sentar na beirada da cama, uma tarefa que se mostra impossível devido a sustentação de arames do vestido. — E se algo ruim acontecer? Pode acontecer, né? Tipo, as pessoas estavam trabalhando normalmente no onze de setembro, e daí... – Disparo agoniada.
— Você está comparando seu casamento com um atentado terrorista? – Bel estreita os olhos azuis para mim.
— Só não estou acostumada com tudo dando certo, e olha só. O Pedro já é mais do que eu poderia pedir, por que temos que nos casar? Já está tudo perfeito assim mesmo. – Explico, fazendo ela e a Maite se entreolharem.
— Calma. – Ela pede, segurando os meus ombros. — Respira.
Repito o exercício de inspire e expire dez vezes, então elas vêm, as malditas lágrimas e não param mais, como uma cachoeira infeliz.
— Eu desisto. – Mai declara, saindo de cena com seu pratinho de sobremesas.
— Katy, vai borrar a maquiagem. – Belinda reclama, apertando meus olhos com uma suave toalhinha de papel.
A porta é aberta e a Roberta entra trazendo a Alexia a reboque.
— Finalmente. – Minha madrinha e melhor amiga declara. — Toma, tia. Cuida que a nora é sua.
— Graça ao bom Deus. – Belinda agradece e saí com a Roberta, prontas para ocuparem seus lugares.
Alexia segura minhas mãos e me encara com seus olhos repletos de serenidade, algo que me alcança e ao poucos começo a me acalmar.
— Eu estou com tanto medo. – Confesso, me sentindo a mais tonta das mulheres.
— É normal ter medo. – Alexia dá uma risadinha e estende a mão, aparando o restante das lágrimas. — Tantas coisas ruins aconteceram tentando separar vocês dois, mas agora acabou, querida. Viva intensamente esse momento, ele só acontece uma vez, faça valer a pena.
Entendo o que ela está dizendo, casamentos podem ser feitos e desfeitos, nem mesmo é o primeiro do Pedro, mas o casamento com o amor da nossa vida só ocorre uma vez, eu não deveria agir assim.
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomansaEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...