Viagem ao Minnesota

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O pórtico escrito "Bem-vindos à Cloquet" , faz meu estômago embrulhar e abro a janela, aproveitando que parou de chover, um milagre, já que enfrentamos chuva na maior parte da viagem de sete horas. Respiro fundo, aqui o ar não tem cheiro de fumaça e óleo de fritura como em Chicago, nem mesmo o céu é acinzentado pela poluição, e eu odeio isso.

Passamos pelo centro da cidade e me sinto assistindo a um filme qualquer dos anos 90, as fachadas das lojas ainda possuem toldos listrados em vermelho e branco e pessoas conversam paradas na calçada como se não houvesse nada mais importante a ser feito.

Não acredito que deixei o Pedro me convencer a vir aqui. Ele só precisou de um dia inteiro me mimando enquanto eu ardia em febre, e após uma singela melhora, eu já estava dizendo sim para qualquer proposta absurda que saia da sua boca. Como viajar sete horas de carro até a minha antiga comunidade, que fica em um dos distritos de uma cidadezinha chamada Cloquet, no interior do Minnesota.

Meu celular toca na bolsa sobre o meu colo e eu o pego, vejo que voltou a receber sinal e chegou algumas mensagens, entre elas a da Alexia querendo confirmar se ele estava comigo, respondo que sim e o guardo novamente. Não quero que o Pedro saiba que a mãe ainda não confia nele completamente, deve ser irritante ser tratado como uma criança o tempo todo.

Ele estaciona numa vaga entre duas caminhonetes e eu o encaro.

— A comunidade ainda fica há quarenta minutos.

— Sei disso, vi no maps. – Ele estende a mão e aperta a minha coxa sobre o jeans escuro e justo. — Mas precisamos comer, e se eu não me engano, Bocelli's Massas é um restaurante. – Diz ele olhando através do vidro para a fachada do estabelecimento ao nosso lado.

— Comemos naquela lanchonete no caminho. – O lembro enquanto luto para enfiar os braços no grosso sobretudo preto.

— Katy, você precisa recuperar a massa que perdeu. – Ele belisca a ponta do meu nariz e abre um sorriso malicioso antes de completar. — Eu não quero que você quebre no meio quando eu for te foder.

É a primeira vez que ele fala sobre sexo desde que abri a porta do meu apartamento, duas noites atrás. Talvez o assunto não tenha surgido porque eu mais parecia morta do que viva, e isso não é muito excitante. Já eu, não levantei a questão por outro motivo...

— A Vanessa não vai se incomodar? – Pergunto tentando perfurá-lo com o olhar.

— O que? – Ele franze o cenho para a minha acusação em forma de pergunta.

— Ah, nem vem. Estou falando da mulher com quem você está transando, quando mal fez uma semana que decidimos dar um tempo.

— Primeiramente foi você quem decidiu por nós dois dar um tempo, e eu não estou transando com a Vanessa.

— Sei. – Murmuro e abro a porta, estou irritada.

Como ele pode mentir para mim assim?

Pedro segura meu antebraço me impedindo de descer, mas não olho para trás.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora