Consequências

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P.O.V PEDRO

Tudo o que descobri sobre ela nas últimas horas fez a minha cabeça dar um nó, me senti horrorizado primeiramente ao ler aquele arquivo, tão descritivo que tornou as cenas reais em minha cabeça. Katy nua empunhando uma arma e disparando no peito de um homem idiota que não conseguiu reagir a tempo. Eu poderia ter sido um desses idiotas, ela teve muitas oportunidades, mas não o fez, porque me vê como alguém bom, algo que nem eu mesmo me considero há muito tempo.

É fato que sei reconhecer o olhar de um psicopata, e ela o ostenta descaradamente, não reparei logo de cara porque estava distraído demais com seus belos seios, mas há a escuridão característica em sua íris. Estava pronto para pôr um limite entre nós dois quando a escuridão se esvaeceu por alguns segundos, a aparente psicopatia era a máscara de uma vítima. Ela não é como um Jeffrey Dhamer e afins, ela é uma mulher traumatizada por algum abuso que aconteceu na sua vida, não posso denunciá-la por ter tirado alguns "porcos" do mundo, ainda mais quando conheço o sistema de perto e sei que ele é falho.

Acredito que o seu papel nessa história não é o de monstro, entretanto, tudo o que aprendi até hoje faz com que eu me sinta extremamente errado ao dividir a cama com alguém que já tirou tantas vidas, por mais que seja estranhamente justificável. Até tentei argumentar com ela, mas foi difícil defender minha posição quanto a esse tema quando seus lábios cheios envolveram o meu pau. Meu Deus, realmente não tem como reagir a tempo com ela, sou tão idiota quanto os outros oito que morreram sem ao menos se darem conta do que estava acontecendo.

Um juiz não irá entender sua história da mesma forma que eu compreendi, todavia é inviável que ela continue resolvendo as coisas assim... quem sabe este é o motivo que nos atraiu de encontro um ao outro. Preciso ser o homem disposto a ajudá-la, cumprindo o papel de "bom" que Katy me atribuiu, mas é impossível se ela continuar acreditando que posso correr para delegacia e usar sua confissão ao meu favor. Por isso falo sério quando proponho um casamento, eu não posso testemunhar contra ela se estivermos casados. Claro que do ponto de vista romântico essa sugestão é maluca e apressada, nos conhecemos há menos de três semanas, mas pelo lado prático, é algo totalmente compreensível.

Olho dentro de seus olhos esperando uma resposta. O corpo de Katy se agita sob o meu e ela tenta soltar as mãos.

maluco, Pedro? – Ela pergunta gritando de novo. — Eu te conto que matei oito pessoas e você me propõe casamento? Você tem uma síndrome de suicida ou algo do tipo?

— Estou te propondo confiança, Katy Alyson! – A corrijo com a maior paciência que há em mim.

— Por quê? – Ela questiona parecendo sentir uma enorme agonia interna.

— Porra! – Respiro fundo, se é difícil de explicar até para mim... — Eu gosto de você Katy, mais do que já gostei de cada maldita pessoa que conheci nos últimos anos. Não posso permitir que você escape de mim quando já percebi que podemos fazer isso dar certo.

— Não pode dar certo, Pedro. – Ela me empurra com mais força dessa vez, e eu caio ao seu lado.

Katy não perde tempo e monta sobre meu abdômen, colocando as mãos no colchão acima da minha cabeça, dessa vez sou eu que estou preso.

— Eu estou quebrada, Pedro. – Diz ela assumindo uma expressão atormentada. — Não posso dar o que você quer.

— Como você sabe o que eu quero?

— Não é difícil de imaginar, eu te contei algo que faria qualquer homem correr. – Katy ri amargamente. — Mas você está aqui deitado na minha cama sem defesa alguma, pedindo para que eu me case com você. Você quer uma esposa normal que cuide da casa e te espere com o jantar pronto, com mais dois filhos de bônus correndo e fazendo bagunça. Eu não sou a pessoa que vai lhe dar isso.

Pisco algumas vezes ao compreender o seu ponto, eu realmente devo ter parecido alguém carente e desesperado para lhe fazer imaginar isso.

— Katy! – Digo com calma. Levanto a mão e afago sua bochecha, ela relaxa um pouco. — Eu já tive uma esposa tradicional que fazia tudo isso e não deu certo. O que eu quero é você, assim como é, sombriamente sexy e nada tradicional.

— Mas e quando... – Ela começa e eu a silencio colocando o dedo indicador sobre seus lábios.

— Se um dia isso acontecer, será consequência do que construirmos, e não algo que eu espero de você.

— Eu... eu não entendo, Pedro. – Diz ela parecendo fragilizada e aproveito para puxá-la para o meu peito. Abraçando o seu corpo com força. — Você mesmo disse que o que eu fazia não era coisa de gente decente. Concordo com você, eu sou um monstro.

— Disse isso antes de saber o motivo. – Acaricio suas costas sentindo a textura da pele macia sob minha mão. — Imagino que algo muito ruim tenha lhe acontecido e você encontrou nos assassinatos um jeito de lidar com o seu trauma. Acho que juntos podemos lidar com isso de outra forma, talvez tenha sido esse o motivo de termos nos conhecido.

— Não existe outra forma. – Murmura ela.

— Claro que existe, Katy. Antigamente eu acreditava que a única forma de lidar com tudo o que me acontecia era descontar na bebida, o que só piorava as coisas. Não estou dizendo que está sendo fácil lidar com a sobriedade, mas gosto mais de mim assim.

— Pedro, se eu não fizer o que eu faço, eles continuaram a fazer o que têm feito.

— Entendo o seu raciocínio, meu bem. Entrei na polícia porque também queria mudar o mundo de alguma forma, mas aprendi ao longo dos anos que não conseguirei fazer isso atirando em cada bandido que aparece na minha frente. Você acha mesmo que matá-los repara todo o mal que fizeram àquelas meninas?

Ela fica em silêncio por um longo tempo, acho que sei a resposta. Se ela mesma não se sente curada do que lhe aconteceu, como as outras poderão se sentir?

— Acho que eu não devia lhe arrastar para o meio disso tudo. – Murmura ela.

— Katy, veja as evidências, tudo o que aconteceu só mostra que devíamos nos encontrar uma hora ou outra. – O assassinato do Digo, a insistência do Thomas em nos apresentar, a mesma academia... com certeza devem existir muitas outras coincidências que eu nem imagino. — Acho que só alguém que já passou pela escuridão é capaz de entender o que o outro está sentindo.

— Duvido que você tenha uma ficha tão suja quanto a minha, homem da lei. – Ela debocha levantando a cabeça para me encarar.

Respiro fundo criando coragem para tocar no assunto que tenho evitado em todas as nossas conversas, mas preciso ser sincero com ela para romper suas barreiras.

— Eu matei uma pessoa, Katy. Alguém que nunca havia cometido crime algum. – Olho dentro dos seus olhos e eles estão aguçados de curiosidade. — Gostaria de dizer que foi em legítima defesa, meu advogado convenceu a todos e até a mim que foi assim. Mas eu sinceramente não sei se foi um ato instintivo, eu estava com muita raiva na hora, e me senti aliviado demais quando ela morreu.

— Quem foi que você matou? – Ela pergunta num sussurro.

Umedeço os lábios antes de pronunciar o nome que até hoje me deixa extremamente tenso. Infelizmente terei que lidar pelo o resto da vida com as consequências daquilo que fiz, de toda forma, é um peso a menos contar logo para a Katy o que aconteceu. Então digo de uma vez, esperando que ela não me odeie.

— Jesy, a minha esposa. 


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Beijos da Fany!

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora