A primeira peça a cair

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Tenho me defendido sozinha durante toda a minha vida, concentrada apenas em me manter viva, mesmo quando estava com a Carmen, a ajuda que ela precisava, era médica, e isso não cabia à mim. Regras simples que estabeleci me ajudaram a deixar esse trabalho mais fácil, nunca falar demais sobre a minha vida, manter o mínimo de pessoas possíveis no meu ciclo de amizades e ficar longe da polícia...

E cá estou eu, quebrando todas essas regras, falei tudo sobre mim para o Pedro, a família e as amizades dele, entraram para o meu ciclo mais próximo, e ele literalmente é um policial. Agora, não estou apenas me protegendo, como também correndo atrás de protegê-lo, não por saber que ele está fazendo o mesmo por mim, mas porque Pedro se tornou importante demais na minha vida, para que eu ignore o que está acontecendo com ele.

Estaciono em frente a luxuosa mansão construída em grandes pedras bem polidas, se os Stwearts decidiram fazer o inferno na vida do Pedro para se safarem de um crime que cometeram, espero que estejam preparados para conhecer o meu lado diabólico. Abro o porta-luvas antes de descer e pego a 38, meus dedos abraçam o metal frio e bem polido, faz meses que não disparo, entretanto, uma habilidade como essa se mantém intacta mesmo quando inutilizada.

A enfio no cós da calça jeans preta, passei em casa rapidamente após deixar Alexia na companhia de William, precisava trocar de roupa e decidir como agir, por mais que minha vontade fosse arrastar a magricela loira pelos cabelos até ela confessar a verdade, tenho que me controlar. Desço do carro e caminho até a enorme porta de vitrais coloridos que imitam as europeias igrejas góticas. A empregada abre a porta assim que eu piso no degrau elevado, ela tem uma expressão assustada no rosto moreno, consigo perceber o suor brilhante na raiz de seus cabelos.

— Boa noite, senhorita Alyson! – Diz ela olhando sobre meu ombro, parecendo checar se estou desacompanhada.

— Boa noite. – Digo abrindo meu melhor sorriso. — Os Stewart estão em casa? – Pergunto como se não soubesse que o Laurent está preso.

Ela demora um tempo para responder, percebo o seu peito subir e descer com mais velocidade. Coloco as mãos nos bolsos do meu sobretudo preto, esperando ela inventar uma mentira.

— Não-não senhora, estou sozinha. – Ela responde de forma gaguejada. — Os patrões estão viajando.

Assim que sua boca se fecha, escuto o barulho de um vidro se quebrando no andar de cima.

— Poxa, então acho que tem ratos em casa. – Murmuro com ironia e ela arregala os olhos. — É melhor eu entrar para dar uma olhada.

Avanço um passo, e acho que meu olhar determinado mostra que é melhor ela não ficar no meu caminho.

— Senhora, por favor. Peço que se retire. – Diz ela, ainda mantendo a porta aberta, quando já entrei na sala excepcionalmente bem arrumada, com a decoração que eu criei. — A senhora Stewart está com uma enxaqueca horrível, e me pediu para dispensar todas as visitas.

— Bom, nesse caso é bom eu subir e checar como minha querida amiga Ana está. – Digo simples, me virando em direção a ampla escada que leva ao segundo andar.

Me seguro no corrimão dourado que combina com o mármore branco da escadaria, ah, nesse momento estou sentindo ódio de mim por ter projetado uma reforma tão bela para essa cadela pulguenta. Escuto os passos da empregada atrás de mim, continuo subindo sem olhar para trás, sei que a suíte deles é no final do corredor, e é para lá que caminho sem hesitar.

Seguro a grande maçaneta da pesada porta de madeira e a giro.

— Conseguiu se livrar dela, Rosália? – Ana pergunta antes mesmo que eu entre no quarto.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora