A Comunidade

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O vento gelado faz a ponta do meu nariz doer, enfio as mãos nos bolsos do meu sobretudo e dou um passo para o lado quando Pedro tenta me abraçar pela cintura ao caminhamos em direção ao celeiro da administração

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O vento gelado faz a ponta do meu nariz doer, enfio as mãos nos bolsos do meu sobretudo e dou um passo para o lado quando Pedro tenta me abraçar pela cintura ao caminhamos em direção ao celeiro da administração.

— Aqui não é um lugar normal. – Sussurro para ele, tentando fazer com que o garoto a nossa frente não escute. — Preciso que você fale por mim, eles vão dar mais atenção se um homem pedir.

Pedro assente com a cabeça e fecha o zíper da jaqueta de couro dele, acho incrível ele não estar tremendo de frio usando só isso por cima da roupa.

Passamos pelo primeiro conjunto de casa de madeira pintadas de cal branco, a arquitetura é idêntica em todas elas, o telhado triangular e um pequeno alpendre na porta. A propriedade não é uma herança, ela pertence a comunidade, enquanto você morar aqui, todos os seus descendentes poderão usufruir da casa e da terra. Se um dia o dono vai embora, ou morre sem filhos, a pequena propriedade é passada para outro membro.

O primeiro celeiro está há poucos metros, é pequeno comparado aos outros. O garoto usando uma folgada camisa verde-musgo de mangas longas e calça social com suspensório, abre a porta para nós. Ele mal deve ter dezesseis anos, com certeza era uma criança quando eu ainda residia aqui.

O homem sentado atrás da simplória mesa de madeira usa chapéu de palha e cultiva uma farta barba loira, o rosto dele me é familiar. Seus olhos verdes encaram abismados o meu cabelo, havia quase me esquecido o que era ser vista como a personificação do pecado. A sala é iluminada unicamente pela luz do dia que entra pelo vitral da janela, não há energia elétrica.

— Bom dia! – Ele nos saúda em inglês, mas com um leve sotaque provindo do Alemão da Pensilvânia. — Posso saber como nossa comunidade lhes pode ser útil?

— Meu nome é Pedro Collins, e esta é minha esposa Katy. – Ele nos apresenta e eu me engasgo brevemente com a mentira, é estranho demais me imaginar sendo esposa dele, mas fico feliz que Pedro tenha pensado rápido nisso. É uma comunidade tradicional, seremos mais respeitáveis se passarmos a ideia de marido e mulher. — Ela tem um grau de parentesco com Judith Calvert, e soubemos que a senhora Calvert morreu recentemente, gostaríamos de visitar o tumulo e se possível a casa que ela ocupava.

O homem me encara mais uma vez e sua expressão beira a compreensão, sei que ele sabe quem sou eu.

— Katheryne Calvert. – Pronuncia ele o meu nome com a voz baixa, nome que apenas Judith usava, para todos os outros eu sempre fui a Katy.

Me seguro para não o corrigir, eu não sou Katheryne Calvert, nunca fui.

Pedro não deixa isso passar despercebido, o vejo me encarando pelo canto do olho.

— Sim, senhor. – Concordo sem olhá-lo diretamente nos olhos, pois isso seria um sinal de desrespeito, visto que sou uma mulher "casada". — Minha mãe era Judith Calvert. Não quero nada além de uma visita ao túmulo e à casa em que ela morou durante toda a vida.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora