O sangue na garrafa

1.7K 176 25
                                    

Passamos o dia atendendo pequenas ocorrências e patrulhando as ruas, transmitindo a sensação de segurança aos habitantes de Chicago. Almoçamos hambúrguer dentro da viatura estacionados em um beco, é uma tradição. Descubro que o Aidan é um cara legal, meio sonso e jamais será o Will... mas ainda assim, legal.

Voltamos para a delegacia quando apreendemos um garoto que foi pego afanando porcaria num supermercado, ele não vai ser preso, só damos um susto nele o deixando trancado por algumas horas para refletir sobre o que fez. Fico feliz que o Aidan não é o tipo de policial que sai descendo o cassetete na cabeça de qualquer moleque irresponsável, o Will e eu nunca acreditamos que esse tipo de violência é capaz de fazer alguém se redimir de um crime.

Assim que encarceramos o moleque combinamos entre nós de soltá-lo na manhã seguinte, com a presença de um responsável. Aidan se despede e elogia o meu trabalho, afinal fui eu quem corri atrás do garoto, já que ele estava ofegante no terceiro passo.

Me espreguiço começando a contagem regressiva para voltar ao apartamento e transar com a Katy em cima de algum móvel novo, mas meus planos são frustrados pelo tal Sam que me encontra prestes a entrar no elevador.

— Será que podemos conversar, Collins? – Pergunta ele ajeitando os óculos sobre o nariz.

Ele tem um sotaque chato de sulista, como se tivesse ficado preso no século passado.

— Claro. – Concordo digitando no painel do elevador o andar da perícia. — É novo aqui, né? – Pergunto o óbvio para puxar assunto quando ele entra logo atrás de mim.

— Sim, fui chamado depois que começaram a ter problemas com o sumiço de evidências. O Jerry já está meio velho, é bom ter alguém novo e mais atento na perícia.

Fico com raiva pela forma que ele fala de um dos meus melhores amigos, o Jerry é o melhor perito que já conheci, não merece ter o seu trabalho julgado por causa desse babaca.

— Tenho certeza que o Jerry tem feito um ótimo trabalho. – Digo e ele estreita os olhos para mim.

— Não duvido.

Permanecemos em silêncio até entrarmos na sala que foi destinada a ele, está cheirando à tinta fresca, devem ter terminado de pintar durante o fim de semana. Fica logo ao lado da sala do Jerry, que está vazia, talvez ele tenha começado a ganhar folgas agora que tem alguém para dividir o trabalho.

— Ainda falta terminar algumas coisas. – Sam diz trancando a porta. — Até amanhã cedo essa é a sala mais segura desse distrito, não tem câmeras ou gravadores escondidos, eu mesmo verifiquei. Sabe... sou um ótimo perito. – Diz ele rindo.

O encaro tentando entender a onde ele quer chegar com essa conversa.

— Por que você me chamou até aqui? – Pergunto direto, sem ânimo para enrolações.

— Sei da sua trajetória dentro da corporação. – Diz ele enfiando as mãos nos bolsos do jaleco branco. — Que matou a sua esposa... em legitima defesa. – Sam completa quando dou um passo na direção dele com as mãos fechadas em punho. — Sei que ficou afastado. Que é muito amigo do policial William e do perito Jerry. Ah, e eu também sei que seu irmão foi assassinado há cerca de um mês e que as provas do crime sumiram bem aqui no laboratório do seu amigo, mas eu as encontrei hoje pela manhã. – Ele respira fundo e abre uma caixa branca de plástico, do tipo que vejo o Jerry usando para guardar membros decepados que encontramos em cenas de crimes. — A única coisa que eu não sei, é porque há digitais suas numa dessas provas. Poderia me explicar isso, senhor Collins?

Eu é quem quero uma explicação. Não estive na cena do crime, porque teria digitais minhas em uma das provas?

A única coisa em que cheguei perto foi o celular, e ainda assim estava usando luvas quando o Jerry me mostrou. Isso é impossível.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora