Cadela arisca

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     Me sento em um dos sofás apontados pela empregada, não conheço muito bem o Laurent, o vi em alguns eventos na casa da minha mãe e sei que ele frequenta a Woustters junto à esposa, mas nunca realmente conversei com eles. Pelo visto eles tem dinheiro, além de morar no metro quadrado mais caro de Chicago, a casa é luxuosamente decorada.

Sempre me pergunto se o Laurent comentou alguma vez com meu irmão sobre minha presença frequente na Woustters, creio que não, Diego teria dado com a língua nos dentes e contado para nossa mãe. Talvez nem o próprio Laurent tenha contado que ele faz parte do maior empreendimento de perversão de Chicago.

Logo ele entra na sala usando um terno estampado com flores azuis e douradas, do tipo que a gente vê famosos usando na tv. A pele dele tem um tom vivaz de oliva, apesar das olheiras escuras sob os olhos, e os cabelos estão como sempre penteados para trás até fazer uma curvatura na nuca.

— Pedro, que prazer vê-lo. - O tom de sua voz denuncia que não há prazer algum. — A que devo a visita?

— Olá, Laurent. - Fico de pé para apertar sua mão estendida, e volto a sentar. — Gostaria de conversar um pouco. Podemos?

— Claro. - Ele se senta em uma das poltronas ficando quase de frente para mim. — Imagino que o assunto seja o seu irmão.

— Sim, estou tentando compreender como tudo aconteceu. Achei que seria uma boa ideia conversar com o melhor amigo dele.

— Todos nós estamos tentando entender, Pedro. - Ele diz com pesar. — Mas acredito que você esteja mais bem informado do que eu, já que trabalha na polícia.

— Não posso assumir o caso, somos família.

Ele arqueia as sobrancelhas, parecendo surpreso.

— Ah sim, bom... neste caso, em que posso lhe ser útil.]

Antes que eu comece, a sempre impecável Ana adentra na sala, acho que nunca a vi com um único fio de cabelo loiro fora do lugar, ela é extremamente bonita, do tipo que poderia ganhar a vida sendo modelo ou qualquer outra profissão que seja necessária uma beleza exuberante. Por um momento me perco no movimento de suas longas pernas enquanto ela literalmente desfila até a poltrona em que o marido está sentado, e coloca a mão sobre o ombro dele.

— Olá, Pedro! - Ela sorri gentilmente. E se senta no braço da poltrona.

Nem parece a mesma mulher que minutos atrás estava recarregando um revolver.

— Ana. - Digo e esboço um sorriso.

— Ele veio conversar comigo sobre o Diego, amorzinho. - Laurent informa passando o braço envolta da cintura dela. — O Diego era um amigo querido para nós dois.

— Sim, o amávamos. - Ela diz seca demais para quem está afirmando amar.

— O Diego morreu baleado, por experiência profissional, quem leva uma arma para um confronto já está com a intenção de matar. Sabe, é isso que não entra na minha cabeça, todos amavam o Diego, quem poderia querer matá-lo.

— Nem consigo imaginar. Nunca soube de nenhuma desavença dele. - Laurent comentou mantendo o tom calmo. — Ele não tinha problema com drogas, nem dividas.

— E nem teria o porquê, médicos ganham bem. - Ana comentou olhando envolta para a própria casa.

— Talvez tenha sido por vingança. - Laurent respirou fundo. — Li esses dias no jornal que um rapaz matou a esposa e o cachorro de um policial que havia o apreendido uns meses antes.

Isso chama a minha atenção, não pelo fato dele me acusar de ser o motivo, mas pelo simples fato de que ele tentou tirar a culpa de si, antes mesmo que eu fizesse alguma acusação. Por que ele está com tanto medo de entrar na mira?

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora