Comemos raviólis acompanhado de um vinho solitário que ele pegou de um dos armários, quase recuso a taça que ele me serve ao me lembrar de como fiquei da última vez que bebi em sua presença. Mas Chris garante que será apenas uma taça para cada e guarda o vinho na geladeira. Dessa vez não há sobremesa, fico quase triste ao ver que não serei alimentada na boca outra vez, suspiro alto me recuperando.
— Comida italiana é a sua favorita? - Ele me pergunta deixando de comer por um instante.
— Não sei se tenho uma favorita. - Digo, sempre gostei de comer de tudo. — Mas com certeza evito carboidratos. Tipo isso daqui. - Havia pedido porque já que estava quebrando as regras, podia muito bem comer um pouco de massa.
Ele ri e balança a cabeça.
— Você não deixaria de ser atraente por causa de alguns raviólis.
Sorrio com a cabeça baixa, gosto que amaciem meu ego, sou uma narcisista por natureza. Terminamos de comer em silêncio e ele recolhe a louça suja da ilha de refeições e devolve no saco do restaurante que veio a comida.
Me sento de lado no banco e percorro a sala com o olhar, me sinto curiosa para saber o que tem dentro das caixas, é uma pena que ele vá colocar tudo numa garagem.
— Acho que amanhã me livro disso tudo. - Diz ele se encostando na ilha ao meu lado. — Vai ser bom andar e não tropeçar numa pilha de caixas.
— São muitas coisas, certeza de que não quer guardar nada? - Pergunto o olhando de canto de olho.
Ele bem que podia vestir uma camisa, já é desconcertante demais conversar com ele vestido... vendo aquele abdômen bronzeado então.
— Acho que não estou com ânimo para revirar tudo isso atrás de algo interessante. Sem falar que a maior parte dessas coisas não são minhas.
— E de quem são? - Pergunto rápido demais, parecendo uma velha fofoqueira. Não consigo evitar, apenas mordo minha língua para que não saia mais nenhuma besteira da minha boca.
— Da minha esposa. - Diz ele com a voz baixa, quase em um sussurro.
Nem mesmo ir a Woustters com ele me deixou tão chocada quanto essa informação, ele é casado, ou havia sido, o que faz mais sentido. Afinal, explica a pilha de caixas que ele quer se desfazer, sem falar nos últimos anos de sua vida que pareciam não ter sido bons segundo o que me contara mais cedo.
— Faz tempo que vocês se divorciaram? - Jogo um verde, esperando que ele responda minha pergunta silenciosa: Você tá traindo sua esposa comigo?
Não sou uma pessoa que acredita na monogamia do casamento, mas gosto que as coisas sejam consentidas, não vou ser feita de amante às cegas.
— Ela morreu há mais de dois anos, Katy. - Diz ele se virando para mim.
Respiro fundo absorvendo isso, me coçando para perguntar a causa da morte, ou quanto tempo eles haviam sido casados, se ela era bonita... se ele a amava.
Sua expressão parece triste e pensativa, talvez isso queira dizer que ele a amava, ou que pelo menos sente falta. Pois é sempre assim que fico quando penso na Carmen, e eu a amava mais do que qualquer coisa no mundo.
— Sinto muito. - Digo por fim. — Já perdi uma pessoa especial, sei como dói.
— Sua mãe?
— Quase isso. - Carmen era muitas coisas, o que a colocava quase como minha mãe, coisa que eu sempre quis. — Durante a reforma não vai dá para você ficar aqui, tem algum lugar para dormir? - Pergunto cortando aquele assunto pessoal demais.
— Tenho sim, já havia pensado nisso. - Ele me dá uma piscadela. — Mas antes de começar a arrumar, prefiro bagunçar mais um pouco.
E ele consegue, pois minha mente está uma bagunça só. Meus instintos me mandam pegar a bolsa e ir embora o mais rápido possível, não posso andar nessa corda bamba enquanto carrego a enorme bagagem que é o meu segredo. E ao mesmo tempo meu desejo grita para que eu abra as pernas para ele mais uma vez.
Deveria ter sacado antes que aquela noite mudaria tudo, esse é o problema de coisas boas, elas viciam, e eu posso me considerar uma viciada no jeito bruto de foder do Senhor Willmann.
Chris olha no fundo dos meus olhos, parecendo perceber a minha luta interna, então estende a mão e segura meu queixo com força, me mantendo no lugar.
— Você me tira do sério, Senhorita Alyson. - Ele confessa com a voz rouca, que penetra no meu sistema como um veneno letal, já não tem mais indecisão alguma, eu o quero.
— Katy! - Corrijo, porque nesse momento desejo mais do que tudo ouvir meu nome sendo pronunciado com aquela voz sedutora.
— Katy. - Ele concorda traçando o contorno dos meus lábios com o polegar.
Abro a boca levemente, e rodopio a língua sobre a ponta do seu dedo antes de chupá-lo com força, olhando nos seus olhos dourados. Me sinto provocante, também posso afetá-lo da mesma forma.
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomanceEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...