P.O.V Katy
*Aviso de gatilho = O capítulo a seguir contém uma temática sensível em relação à abuso sexual*
Fico observando cada pessoa que entra pela porta da cafeteria, não que sejam muitas, já são quase dez da noite, e esse não é um bairro conhecido pela vida noturna. Podia ter marcado minha consulta em um lugar diferente, mas aquele centro de reabilitação me deixa sufocada e o meu apartamento não é uma opção, lá é o meu refúgio, e não levarei essa discussão para onde encontro calma.
Dou mais um gole no meu café descafeinado, já estou tendo problemas para dormir, não preciso ficar cheia de cafeína também. Observo um casal sentado junto ao balcão, distante da minha mesa aos fundos, eles conversam mais alto que o restante das pessoas presentes e não param de sorrir. A menina me lembra a Sol, minha sempre sorridente cunhada que atualmente não está nada bem.
Vi todos os Collins duas vezes, durante essas três semanas, eles estão um caos, ainda assim, unidos como a família que são, lutando para que o Pedro seja liberto o mais rápido possível. Se fosse por eles, eu me mudaria para lá, mas volta e meia me sinto uma impostora, roubando um lugar que não é meu, então por isso mantenho certa distância.
A porta da cafeteria se abre outra vez, dessa vez é a Vanessa que entra, usando um longo vestido estampado e segurando uma bolsa enorme a tira colo. Ela que sugeriu essa cafeteria quando neguei as outras alternativas, segundo a própria, é próximo ao lugar em que trabalha como líder dos Alcoólicos Anônimos. O olhar dela encontra o meu, esboço um sorriso e ela vem na minha direção.
— Boa noite. – Diz ela, ao se sentar de frente para mim. — Acabei atrasando um pouco porque não consigo sair sem que todos digam o que querem dizer.
— Imagino que deva estar cansada. – Digo, refletindo sobre o seu dia cheio, sei que ela atendeu o Pedro, hoje pela manhã. — Se quiser, remarcamos para outro dia.
— Não, imagina. – Ela sorri. — Estou ansiosa desde quando você me ligou, ontem à noite. E não precisa se preocupar, não sou do tipo que dorme cedo.
— Nem eu. – Comento. — Aliás, nos últimos dias eu sou do tipo que não dorme.
— Preocupações? – Vanessa pergunta, com os olhos fixados no cardápio do café.
— É... acho que posso dizer que sim. Penso em várias coisas ao mesmo tempo, e só consigo silenciar a minha mente quando estou trabalhando, nunca peguei tantos projetos ao mesmo tempo como agora. – Respiro fundo e me afundo no banco acolchoado. — Espera... – Peço, e estreito os olhos. — Isso já é a consulta, né? Você está me avaliando?
— Katy, estamos conversando, e é isso que faremos toda vez que nos encontrarmos. – Vanessa responde. — E não ache que estou lhe avaliando no sentido pejorativo, como se julgasse o que você fala. A avaliação que um psicólogo faz é a procura de sinais que revelem comportamentos que induzem à depressão, ansiedade ou alguma patologia.
— Ah... hmn, ok. – Concordo, odeio fazer algo que é novidade para mim, não sei como me comportar. — É que pensei que você começaria perguntando coisas sobre meu passado.
— É um dos inúmeros métodos, mas devo admitir que não é o meu favorito. – Ela dá de ombros. — Fale sobre o que te fez me ligar ontem de noite,
Olho envolta, ninguém está prestando atenção na gente, fora a atendente do balcão, e o casal, só há mais três pessoas espalhadas pela cafeteria. Suspiro e cruzo os braços, antes de começar.
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomanceEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...