Anjo Negro [CONCLUÍDO]

Domas

  O Senhor Lerman passa por mim e vai até a sua cadelinha, que lhe dá um beijo marcando território. Lesada!

— Nana. ➖ Ele a chama pelo que parecer ser um apelido, e eu respiro fundo para não vomitar. — Tenho que ir meu bebê, vou deixa-la na companhia da senhorita Alyson. Creio que ela compreenderá todas as suas vontades. Pode pedir o que quiser, afinal a casa é sua.

— Já vai me deixar? ➖ Ela faz um bico enorme, como uma criança de dois anos que deixa a chupeta cair no chão. — Poxa ursinho, quando não é aquela sua esposa nojenta é o trabalho que nos separa.

BINGO! Ela é amante, sabia. Ponto para mim.

— Enquanto os bobos dormem, os loucos abastecem o mundo. ➖ Ele diz um desses ditos populares, e ela sorri extasiada como se tivesse escutado um discurso do Churchill em pessoa.

— Mas dormirá comigo esta noite, não é? ➖ Ela pergunta, fazendo uma voz ridícula, do tipo que mães usam com bebês.

Os dois agem como se eu não estivesse na sala, penso em pigarrear, mas gosto de escutar uma boa conversa alheia.

— É o primeiro aniversário do meu neto, sabe como minha filha é. Exigiu a minha presença. ➖ Olha as horas no enorme relógio dourado em seu pulso. — Tenho que ir, ou chegarei atrasado.

— Ok. Eu te amo ursinho. ➖ Dá um breve selinho nele.

— Senhorita Alyson. ➖ Diz ele virando-se para mim. Até que enfim lembraram da minha existência. — Atenda todos os pedidos de Natalie, dinheiro não é problema. Mas peço que me envie o orçamento o mais breve possível.

— Garanto que o orçamento estará em seu e-mail, até as duas da tarde de amanhã. ➖ Dou o meu sorriso gélido sem mostrar os dentes, sempre uso esse para encontros profissionais.

— Tenham uma boa tarde, senhoritas. ➖ Ele diz e se dirige até a porta, pega a maleta no chão e sai.

— Senhorita Alyson. ➖ A garotinha xexelenta diz com um sorrisinho cínico. — De onde conhece o meu Michael?

Madre protetora dos animais, cuida dessa cadelinha antes que eu arranhe a cara dela.

— Por favor me chame de Katy. ➖ Digo, sorrindo tão cinicamente quanto ela. — Não o conhecia até agora, alguém me indicou à ele. O seu Michel ligou para a minha secretária e pediu que eu viesse até aqui.

— Já trabalhou para a Senhora Lerman?

Essa garota trabalha para o F.B.I? Não sou interrogada desse jeito desde... desde nunca, eu acho.

— Não. ➖ Respondo, invocando o meu espírito da paz, rogando para que ele me segure antes que eu bata com a cabeça desta criatura contra a parede.

— Então podemos ser amigas.

O que? Eu me perdi aqui? Ela tem algum problema mental?

— Me desculpe, mas não a compreendo.

— Pensei que fosse outra amante do Michel, você me disse que não é. Então achei que fosse uma aliada daquela vaca da Laurel Lerman. Já que não é nem um dos dois, podemos ser amigas. 

Como se fosse revelar a ela caso eu fosse alguma das duas opções. Lesada!

— Ah claro! Entendo a sua preocupação, eu também faria o mesmo. ➖ Não faria, eu não sou retardada. — Está junto com o Senhor Lerman a muito tempo? ➖ Talvez eu seja um pouco curiosa... talvez.

— Estamos juntos há dois anos, mas o conheço desde que nasci. ➖ Segura o meu braço, levando-me para um tour pela casa. — Minha mãe é empregada na casa dele, nasci lá, cresci entre os filhos dele e a vaca da esposa. Eles têm três filhos, Eliot, Dean, e a caçula Ema que aliás é a mãe do pirralhinho que irá fazer aniversário hoje.