Digna de Amor

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P.O.V Katy

Estou ofegante, mantenho meus olhos fechados para bloquear os raios solares que incidem sobre nossos corpos. Estava sentindo falta disso, não apenas do sexo, mas desse algo há mais que existe quando compartilho o prazer com ele.

Pedro segura meu rosto com delicadeza, fico me perguntando como ele consegue dosar tão bem, as vezes com a mão leve tal qual é necessário para um pintor como ele, e de vez em quando tão bruto, me lembrando que ele é um de fato, um policial. Gosto desse contraste, nem uma só coisa, nem outra, acho que eu enjoaria rápido se ele fosse só um amante passional, ou apenas um dominador duro em suas atitudes.

Ele beija minha testa, as bochechas e a ponta do meu nariz, o que me faz rir por causa da sua espessa barba esfregando em minha pele. Faço um bico esperando ser beijada nos lábios, coisa que ele faz logo em seguida. Definitivamente, eu poderia passar o resto da minha vida em seus braços.

Respiro fundo sentindo o perfume dele, o cheiro de terra molhada que vem dos arredores e o aroma dos pinheiros cercando a casa, eu conseguiria morar aqui, longe do centro caótico que tanto gosto. A distância de Chicago seria recompensada com essa maravilhosa vista, e eu ficaria escondida entre essas enormes árvores, num refúgio particular.

— Eu te amo, Katy Alyson.

Diz ele, com a voz baixa, mas cada palavra reverbera no fundo da minha alma como se fosse um grito seguido de pequenos ecos. Tenho a sensação que fui catapultada para fora do sistema solar, eu devia estar gritando com ele, enumerando os mil motivos pelos quais ele não devia ter dito isso... entretanto, fico calada, inebriada com a sensação que me preenche. Eu sou amada por alguém!

Carmem disse várias vezes que me amava, sempre acreditei que ela amava a minha companhia e o bem que eu fazia à ela, não a minha pessoa em si. Entretanto, essas três palavrinhas acompanhadas pelo meu nome, escancaram que ele ama quem eu sou de verdade, a versão de mim construída após traumas e alguns crimes. Acho que isso diz também que ele é maluco e não tem muito senso de autopreservação... mas o que diz sobre mim?

Não é estranho que uma pessoa narcisista como eu tenha gostado se saber que é objeto de tal sentimento, o nível mais alto de adoração que se pode ter por alguém. A diferença agora, é que quero ser digna desse amor, algo que no momento, sei muito bem que não sou. Tenho problemas demais comigo mesma, passei pelo inferno e por vezes sem fim agi como o próprio diabo. Pedro até pode me amar assim, e fico feliz por isso, mas quero que ele ame a melhor versão de mim, alguém que nunca me dediquei a ser.

— Você não está se fingindo de morta, né? – Ele pergunta rindo, mas consigo ouvir o receio em sua voz.

Nego com a cabeça e me aconchego melhor em seu abraço, confortável e seguro. Me protegi sozinha por muitos anos, todas as pessoas eram ameaças em potencial, as quais eu devia manter à distância, só que essa sensação de perigo constante simplesmente se vai quando estou em seus braços.

— Você vai me amar um pouco menos se eu disser que ainda não estou preparada para isso? – Pergunto sem olhá-lo nos olhos, caso aja algum lampejo de decepção, eu não poderei ver. — Quero dizer, eu estou me sentindo nas nuvens com isso, mas sei que vou cair a qualquer momento. E eu não quero cair, Pedro, quero ser a pessoa que é digna de amor, do seu amor.

— Para mim você não é nenhum pouco menos digna, Katy. – Ele diz, e encosta o nariz nos meus cabelos. — Temos problemas, é claro, nem teríamos nos conhecido se não houvesse um fardo deles a ser resolvido. – Nós dois rimos disso, realmente não somos normais. — Eu não te amo baseado no que você pode vir a se tornar, amo a Katy que eu conheço, e descubro um pouco mais sobre ela todos os dias, mas se você acha que precisa mudar por você, também amarei sua nova versão, e mais mil se existirem.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora