Uma Katy qualquer

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Encaro Pedro com a boca entreaberta, sem saber o que falar. Nunca passou pela minha cabeça dar um passo desses na vida, tudo bem conhecer a irmã dele, mas os pais são outra história. Conversar com eles será como oficializar todo esse relacionamento experimental.

— Precisava entregar a encomenda do meu pai. – Explica ele, dando um sorrisinho amarelo.

— Puta merda, e não podia fazer isso quando estivesse sozinho? – Pergunto aumentando o tom de voz.

— Ah, Katy. – Ele rola os olhos. — Meus pais não mordem, são gente boa.

— Eu não vou descer. – Cruzo os braços. — Mesmo que quisesse, não poderia, olha o meu estado.

Inspeciono o meu próprio corpo, estou usando o leve vestido de verão que ficou encharcado marcando o maiô preto por baixo dele, e a pele levemente avermelhada do sol, sem falar nos meus cabelos que estão duros e embaraçados. A mãe dele vai desejar que a ex-nora volte dos mortos para retomar o meu lugar, se me conhecer assim.

— Você está linda. – Ele leva a mão até o meu queixo, e vira o meu rosto delicadamente, fazendo-me encará-lo. — Eles gostarão de você, como eu gosto. – Seu tom é brando, e me convence. — Mas se quer ficar no carro, tudo bem, eu desço rapidinho e entrego a caixa para ele.

— Tudo bem. – Puxo a maçaneta da porta e ele sorri de orelha a orelha. — Você vem ou vai ficar parado aí me olhando com essa cara de tapado?

Escuto sua risada grave atrás de mim, descemos ao mesmo tempo e a mulher finalmente desvia o olhar, fingindo estar observando as roseiras. Pedro pega a caixa da loja esportiva no banco de trás e se posiciona ao meu lado, entrelaçando os dedos aos meus.

A medida que nos aproximamos por um caminho ladrilhado por pequenas pedrinhas brancas de jardim, percebo algumas semelhanças entre ela e a memória que tenho gravada do Diego em minha mente. O louro do cabelo dela é num tom manteiga, e seus olhos parecem duas piscinas azuis, seus traços são aristocráticos, nariz reto, lábios finos e maças do rosto bem marcadas, afirmando que é realmente de algum país nórdico.

— Mãe. – Pedro murmura ao ficarmos frente a ela, então se inclina e dá um beijo em sua face direita. — Essa é Katy, uma grande amiga. – Diz ele, me apresentando a ela.

Seus olhos azuis me bisbilhotam com uma curiosidade aparente, não sinto maldade em seu olhar, e respiro aliviada ao ver o sorriso de aprovação no canto de seu lábio estreito.

— Olá, Katy. Eu sou a Alexia, é um prazer imenso conhecê-la. – Ela estende a mão para mim, seus dedos são longos e finos como o do filho, cobrindo minha mão pequena. — Estava me perguntando quando é que nos conheceríamos, já que minha filha Sol teceu tantos elogios a sua pessoa.

— A Sol é maravilhosa. – Digo sorridente, pressentindo que já conquistei quase toda a família. — Espero não causar nenhuma má impressão, aparecendo assim sem avisar.

— Jamais, querida. – Ela leva a mão até o peito em um gesto delicado e teatral. — Anseio tanto pelas visitas do meu filho ingrato que nem ligo se ele aparecer no meio da madrugada. – Seu tom é de bronca e vejo Pedro rolar os olhos ao meu lado. — Vamos entrar, já dei atenção suficiente para minhas roseiras hoje.

— Elas são lindas. – Digo admirada vendo o canteiro com belas rosas na cor branca e rosa claro subindo a parede até contornar a grande janela branca.

— Sim, elas são. – Ela dá um sorriso entristecido olhando para as rosas. — Meu filho Diego que as plantou para mim, cuidar delas é como manter uma parte dele viva aqui comigo. – Alexia enxuga uma lágrima solitária que escorre por sua bochecha angulosa.

Anjo Negro [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora