P.O.V-Katy
Desligo o notebook após atualizar minha pasta de dados, isso é mórbido.
Não deveria guardar nenhuma lembrança sobre as coisas que faço, mas não consigo evitar.
Todas as fichas têm o mesmo padrão.
Foto, nome, idade, como eu matei e porque eu matei.
Salvo porque o monstro que há em mim se orgulha disto, e como deixei que ele me controlasse há muito tempo, satisfaço todas as vontades dele.
Levanto-me e caminho até a parede de vidro oposta à minha cama, daqui de cima consigo ter uma ampla visão de Chicago. Todos os arranha-céus, carros, avenidas congestionadas... eu amo tudo isso.
Um estilo de vida caro para uma garota ambiciosa como eu. Sustentado pela gorda herança que Carmen deixou para mim, sua amiga de alma e de distúrbio.
Katheryne Calvert, a menininha encardida do milharal de Caledonia, agora é Katy Alyson, uma socialite e designer de ambientes.
Solto a faixa do meu hobby de seda e deixo que ele caia aos meus pés, caminho lentamente até o banheiro onde me olho em um espelho imenso fixado na parede. Meus cabelos caem em cascata sobre os ombros e seios, até chegarem a minha cintura, estão radiantes tingidos de um vermelho vinho...minha cor favorita.
Desço a mão por minha barriga, pressionando-a, sentindo os músculos firmes após um ano e meio de treino pesado na academia. O piercing em meu umbigo é um mimo, qualquer um diria aquilo já não era para mim que tenho os vinte e três anos recém completados, mas como não pude desfrutar disto na adolescência, agora me permito ostentá-lo orgulhosamente em meu corpo.
Esfrego uma coxa contra a outra, sentindo a familiar agonia que me persegue durante as vinte e quatro horas do meu dia. Vou até a banheira e apoio um pé sobre a beirada de marfim, ligo a pequena ducha liberando a água com toda pressão em minha intimidade.
— Oh! ➖ Ofego quando a água morna atinge meus nervos sensíveis com força. Aproximo mais a saída do jato, massageando toda a região.
Grito, reviro os olhos, enquanto me dou prazer, e quando tudo acaba meu corpo estremece e eu preciso me apoiar na parede.
Respiro fundo, até me acalmar, desligo a ducha e a coloco no suporte. Pego uma das várias toalhas dobradas do armário e me seco, volto para o quarto e me deito na cama, cansada demais para me vestir, adormeço.
[...]
O velho toque polifónico me desperta, rolo na cama a procura do meu celular e o vejo sobre o criado mudo, observo as horas, são oito da manhã. O quarto está claro, não fechei as cortinas antes de dormir, o que permite que a luz do sol entre pela parede de vidro.
Saio da cama praguejando quem inventou o maldito ato de acordar, abro a porta do closet e me perco dentro dele escolhendo algo para vestir. Por fim opto por um vestido justo de listras horizontais, e um par de Loubotins vermelhos.
Visto um conjunto de lingerie ali mesmo, na cor branca, e saio com meu look do dia em mãos, o coloco sobre a cama e começo a checar minha lista de atividades do dia.
- Consulta no ginecologista às 9:00.
- Projeto Lerman às 11:00
- Almoço no Domas
- Orçamento Lerman
- Woustters às 21:00
Eu odeio hospitais, e os evito ao máximo, mas um burburinho na academia despertou meu interesse em consultar-me com este médico, segundo as garotas da aula de dança, este médico é um homem e tanto.
Visto-me, dou uma última olhada no espelho do banheiro após lavar meu rosto e escovar os dentes, aplico uma camada de batom purpura em meus lábios, faço careta ao passar o rímel em meus cílios, por fim belisco minhas bochechas a fim de ganhar uma cor rosada. Penteio meus cabelos com os dedos, dando volume a eles. Sinto-me poderosa, pego a bolsa preta da Chanel e saio do quarto.
Meu apartamento duplex fica localizado em um bairro de classe média alta, era o imóvel favorito de Carmen, ela o comprara para nós duas... agora ele é inteiramente meu.
O corredor do segundo andar está limpo e brilhando, o que indica que Alba chegou e limpou tudo enquanto eu dormia. Desço a escada, e a encontro passando o aspirador de pó nas almofadas do sofá.
— Bom dia senhora. ➖ Ela diz sem tirar os olhos de seu dever.
— Bom dia. ➖ Mastigo a parte interna da minha bochecha enquanto penso no que fazer. — Alba, não almoçarei em casa. ➖ Aviso e ela apenas levanta a cabeça e acena positivamente.
Vou até a bancada que divide sala e cozinha, abro a geladeira e pego uma maça, dou uma mordida, está doce e suculenta. Coloco a bolsa sobre o mármore da bancada e começo a vasculha-la, a procura do cartão de visitas do ginecologista.
O encontro, é branco com letras elegantes de um tom azul celeste.
Diego Collins, é o nome dele.
Leio o endereço, calculando mentalmente que rota devo fazer até a clínica, guardo o cartão novamente, e termino de devorar minha maça.
— Tenha um bom dia, Alba. ➖ Digo antes de sair porta afora.
Abro a porta que dá acesso a escadaria, sempre evito usar os elevadores, não gosto da sensação que eles me provocam, como se eu estivesse enjaulada.
Após descer todos aqueles lances de escada, entro do estacionamento, desativo o alarme do meu precioso vermelhinho, e destravo suas portas. Entro e sou recepcionada pelo banco de couro branco, que acomoda minha bunda confortavelmente.
Busco os meus óculos de sol no porta-luvas e o coloco, ligo o carro e dirijo rumo aos portões, a câmera flagra meu carro, e em um instante o portão é aberto, me dando acesso à rua.
Dirijo pouco mais de vinte minutos, e estaciono na porta da clínica, desço do carro e aciono os alarmes.
Caminho para dentro do ambiente austero, mobilhado e pintado de cima abaixo com um tom de branco neve. Vou até a recepcionista loira e digo meu nome.
— O senhor Collins irá lhe atender. ➖ Diz ela sem levantar os olhos da tela do computador. — O consultório dele é a segunda porta à direita.
Hum, se é senhor e não doutor ainda, significa que é quase um recém-formado.
Me encaminho até a sala, bato levemente na porta por pura educação, e entro.
Um homem jovem está sentado atrás da mesa, sua aparência denuncia menos de trinta anos, seu cabelo tem o tom de caramelo com algumas mechas mais claras, denuciando que ele aproveita a vida ao ar livre. Seus olhos azuis são tão claros quanto um dia ensolarado, o queixo é bem delineado e sem sombra de barba . Ele abre os lábios estreitos e rosados, exibindo seus dentes alinhados e brancos como os de quem acaba de fazer um clareamento.
— Senhorita Alyson? ➖ Pergunta assim que fecho a porta atrás de mim.
— Sim. ➖ Sorrio amplamente.
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Anjo Negro [CONCLUÍDO]
RomanceEm um quarto de motel barato, sobre um corpo nu, Katy empunhou a arma, registrando em sua mente a expressão de medo nos olhos da vítima. Enquanto o clímax se espalhava pelo seu corpo, ela disparou, tirando a vida de mais um que segundo o seu julgame...